O vice-presidente do PT, Luiz Dulci, concedeu entrevista ao jornal argentino Página 12 publicada neste domingo (2). De passagem pelo país vizinho, o ex-ministro chefe da Secretaria Geral durante todo o governo Lula falou sobre os desdobramentos políticos do país, a entrega sistemática do patrimônio público, a destruição recorde da Amazônia e o fracasso precoce do governo de Jair Bolsonaro.
“O governo esperava que, com a vitória de Bolsonaro, o anúncio de um programa ultra neoliberal traria investimentos estrangeiros. Não aconteceu. Existem muitas semelhanças com o fracasso da política ultra neoliberal na Argentina”, avaliou.
Leia a seguir alguns trechos da entrevista.
Pagina 12: A economia do Brasil hoje parece estagnada.
Luiz Dulci: A previsão de Paulo Guedes era de que este ano o Brasil crescesse 5%. Isso não vai acontecer nem Guedes conseguirá ter a reforma da Previdência aprovada nos termos duros em que ele propôs. E, ao mesmo tempo, há grandes perdas para os trabalhadores rurais, os pobres e as mulheres.
Nestes meses a expectativa caiu para zero de crescimento. O investimento público caiu. A política de habitação foi cortada. Obras de infraestrutura, como aeroportos e estradas, e também logística, cortada ou suspensa. O consumo das famílias caiu. O governo quer avançar em tudo.
Em sua política de preconceito e na entrega da Petrobras, energia elétrica e da Amazônia. O governo esperava que, com a vitória de Bolsonaro, o anúncio de um programa ultra neoliberal traria investimentos estrangeiros. Não aconteceu. Alguns empresários compraram ativos a um preço muito baixo. Mas não houve novos investimentos. Existem muitas semelhanças com o fracasso da política ultra neoliberal na Argentina.
Bolsonaro é tão popular quanto quando ganhou?
Luiz Dulci: De maneira alguma. Sua imagem caiu, especialmente nos setores populares e pobres. Reage não com medidas econômicas, mas com lutas que qualifica como ideológicas e, na realidade, são falsamente morais. Ela ataca homossexuais, liberdades sexuais, comunismo, universidades e educadores, a quem chamou de “idiotas úteis” e “massas de manobra”.
Os parlamentares estão questionando cada vez mais Bolsonaro. Ele diz que é por causa da “velha política” que impediria a renovação. Mas ele foi deputado por mais de 20 anos e passou por muitos partidos.
A sociedade ainda ouve o PT?
Com certeza. Muitos também começam a nos pedir para apresentar alternativas. O próprio Haddad está trabalhando com a presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, à frente de uma equipe que apresenta propostas, como medidas de emergência para sair da crise econômica. Essas questões pesam mais a cada dia.
Bolsonaro assumiu o cargo em 1º de janeiro e, a partir daquele momento, tivemos que discutir apenas questões como a violação da soberania e o autoritarismo. Agora a dimensão socioeconômica é adicionada. Nossos deputados trabalham muito bem com os do PSOL, com os do PCdoB e com outras forças. Juntos somos 120 deputados dos 530. Nos fazemos ouvir no Congresso.
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações do jornal Pagina 12