Partido dos Trabalhadores

Lula defende democracia e integração na 64ª Cúpula do Mercosul

“Há menos de 15 dias, um membro do nosso bloco sofreu uma tentativa de golpe. A democracia prevaleceu graças à firmeza do governo boliviano, à mobilização do seu povo e ao rechaço da comunidade internacional,” salientou Lula, em discurso

Ricardo Stuckert

"Democracia e desenvolvimento andam lado a lado", observou Lula, na Cúpula do Mercosul

Na 64ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, realizada nesta segunda-feira (8), em Assunção, capital do Paraguai, o presidente Lula enfatizou a importância da união dos países membros e fez a defesa da democracia na América do Sul. Um comunicado nesse mesmo sentido foi divulgado pelo grupo.

Lula começou seu discurso agradecendo a acolhida do presidente paraguaio, Santiago Peña.  “Amigos e amigas, quero agradecer de coração a acolhida dispensada a minha adesão e a mim pelo presidente Santiago Peña e sua equipe. Retornar à cidade onde o Mercosul foi lançado sempre nos motiva a refletir sobre o estado da integração”, afirmou.

Um dos pontos destacados na fala de Lula foi a enfática defesa da democracia, especialmente ao citar as recentes tentativas de golpe de Estado no Brasil e na Bolívia.

“Há menos de 15 dias, um membro do nosso bloco sofreu uma tentativa de golpe. A democracia prevaleceu graças à firmeza do governo boliviano, à mobilização do seu povo e ao rechaço da comunidade internacional”, disse, reforçando que “não há atalho para a democracia em nossa região, mas é preciso permanecer vigilantes”.

O presidente alertou sobre os perigos dos falsos democratas que tentam solapar as instituições e destacou a importância da estabilidade política para o desenvolvimento: “Enquanto nossa região seguir entre as mais desejadas do mundo, a estabilidade política permanecerá ameaçada. Democracia e desenvolvimento andam lado a lado”.

Lula também destacou que esta foi a 19ª Cúpula do Mercosul de que participou como chefe de Estado. “Nunca nos deparamos com tantos desafios, seja no âmbito regional, seja em nível global”, disse. Ao reafirmar a importância do grupo para o desenvolvimento da região, assinalou que “o comércio entre nós multiplicou-se dez vezes e hoje já é de 49 bilhões de dólares”.

 

Mercosul

A presidência rotativa do Mercosul, atualmente exercida pelo Paraguai, será prorrogada para o Uruguai. O bloco, composto por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, agora conta com a Bolívia como membro pleno, após a ratificação do protocolo de adesão pelo Senado boliviano e a promulgação pelo presidente Luis Arce. 

A adesão da Bolívia já havia sido confirmada pelos outros membros do Mercosul, e o país terá até quatro anos para incorporar as normas do bloco.

O Mercosul foi criado há 33 anos, por meio do Tratado de Assunção e, de acordo com o Protocolo de Ouro Preto, a presidência pro tempore do bloco é exercida pelos Estados Partes, em rodízio e em ordem alfabética, por seis meses.

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Acordos de segurança e cultura

Na véspera do encontro dos presidentes dos países do Mercosul, os líderes se reuniram para assinar acordos nas áreas de segurança e cultura.

O bloco de comércio livre é hoje a sétima maior economia do mundo, responsável por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul.

Integração regional e desenvolvimento

Na cerimônia, Lula abordou ainda a necessidade de uma integração regional profunda, baseada em trabalho qualificado e produção de ciência, tecnologia e inovação. Ele destacou a adesão plena da Bolívia ao Mercosul como um passo estratégico importante para o bloco, especialmente no contexto da transição energética.

“A adesão plena da Bolívia tem enorme valor estratégico e faz do nosso bloco um ator incontornável no contexto da transição energética. Somos ricos em recursos minerais e podemos abundantes fontes de energia limpa e barata”, disse Lula, apontando para o potencial do Mercosul em se tornar um player importante na cadeia de semicondutores, baterias e painéis solares.

Agenda comercial e sustentabilidade

Lula também destacou a relevância de uma ambiciosa agenda comercial externa e muitos acordos recentes assinados com Cingapura e as negociações em andamento com os Emirados Árabes Unidos e a China. 

Ele encontrou o apoio do Brasil à aliança contra a fome e a pobreza no âmbito do G20 e pediu maior engajamento e popularidade climática, especialmente em resposta às secas históricas e aos desastres naturais recentes na região.

Futuro do Mercosul

O presidente elencou os destaques da resiliência do Mercosul e a importância da diversidade de opiniões dentro do bloco. 

“A diversidade de opiniões, sem extremismos e intolerância, é bem-vinda porque fortalece nossas democracias e nos conduz às melhores escolhas. O Mercosul é e seguirá sendo a grande aposta de inserção internacional e desenvolvimento do Brasil”, afirmou Lula, parabenizando a presidência paraguaia e desejando sucesso ao próximo presidente pro tempore, Luis Alberto Lacalle Pou.

Crise climática

Lula falou sobre a crise climática, destacando os desafios enfrentados pela América do Sul e a importância da cooperação regional. Enfatizou que a crise climática está se aproximando do continente de um cenário catastrófico. 

“Meus amigos e minhas amigas, a crise climática nos aproxima muito rapidamente de um cenário catastrófico. No último ano e meio, vivemos secas históricas na Amazônia, nos Pampas e no Pantanal Brasileiro e Boliviano, que também padeceram com incêndio nos últimos dias. Há poucas semanas, o Rio Grande do Sul sofreu enormes perdas humanas e materiais, com inundação sem precedentes que também impactaram o Uruguai”, pontuou o presidente.

“Além de agradecer a solidariedade de todos os sócios do Mercosul, que ofereceram prontamente aos mais diversos tipos de ajuda humanitária, quero fazer um chamado por maior engajamento e ambição climática. É muito oportuno a adesão do Mercosul nesta cúpula, ao memorando de entendimentos sobre cooperação e gestão integral de risco de desastres”, defendeu. 

O presidente mencionou a Conferência das Partes à Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-16) que será realizada em Cali, na Colômbia, e a futura COP-30, a ser realizada em Belém (PA), como oportunidades para o Mercosul apresentar uma visão coletiva sobre desenvolvimento sustentável.

“Somos o continente com a maior floresta tropical e as maiores reservas de água doce do mundo. Este ano, na COP16 em Cali, mostraremos também a magnitude da biodiversidade sul-americana. No próximo, o Brasil cederá a COP30 em Belém. Serão oportunidades para o Mercosul e a América do Sul apresentar uma visão coletiva sobre o desafio do desenvolvimento sustentável. Temos a autoridade moral para nos fazer ouvir e a responsabilidade histórica de liderar pelo exemplo.”

“Já estamos na metade da presidência brasileira do G20. A lamentável reversão dos avanços no combate à pobreza e à fome nos últimos anos é uma preocupação compartilhada. Em duas semanas, farei a apresentação da aliança contra a fome e a pobreza no âmbito do grupo, que será aberta em breve em todos os países. Espero contar com o apoio de todos vocês como membros da aliança”. 

Mundo pacífico

Além da questão climática, Lula abordou a necessidade de um mundo pacífico e o papel do Brasil na busca por uma solução para o conflito entre Rússia e Ucrânia. Ele destacou o apoio do Brasil e da África do Sul na Corte Internacional de Justiça para acabar com a violência em Gaza.

Por fim, Lula celebrou as vitórias das forças progressistas nas eleições do Reino Unido e da França, ressaltando a importância dessas vitórias para a defesa da democracia e da justiça social contra o extremismo.

A reunião em Assunção, capital do Paraguai, aconteceu sem a presença do presidente da Argentina, Javier Milei.


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Da Redação , com informações da Agência Gov