No encontro que teve com os movimentos de mulheres, nesta quinta-feira (10), no qual os convidou a participar da reconquista da democracia, Lula defendeu que o Brasil precisa ser reconstruído e que tal tarefa só será realizada com um Estado fortalecido e comprometido com as necessidades da maioria da população. O ex-presidente lembrou que o país vive, além de uma crise sanitária e social sem precedente, de uma grave crise moral. “É imoral o jeito como este governo trata a sociedade brasileira.”
“Eu achei que a gente tinha evoluído quando fez a Constituição de 1988. Mas eles foram destruindo todos os avanços e construindo a narrativa. Foi assim na reforma da Previdência, com a narrativa de que a Previdência era deficitária. Nunca disseram que, até 2014, era superavitária e que será sempre enquanto houver milhões e milhões de brasileiros trabalhando, e não desempregados como estão hoje. Mas eles construíram a narrativa e não foi ninguém do movimento sindical e ninguém que era contra a reforma na televisão”, lembrou, ressaltando que a mesma estratégia foi usada para destruir a legislação trabalhista.
As eleições de 2022, acredita Lula, são uma oportunidade para a maioria da sociedade se opor a esse desmonte de direitos. E isso se deve dar com um amplo movimento que culmine com um Estado forte e que esteja a serviço do povo. “Não pode ser a candidatura de Lula pelo PT, mas a candidatura de um movimento que queira reconstruir a democracia de verdade”, defendeu.
É hora de lutar por um Brasil soberano, enfatizou. “A gente vai ter que dizer que, se a gente ganhar as eleições, a gente vai rediscutir o papel da Petrobras. A Petrobras era exportadora de gasolina. Eles destruíram a Petrobras e hoje tem 410 empresas importando o preço da gasolina, e nós pagando o preço em dólar. Se nós somos autossuficientes com o pré-sal, qual é a explicação? A não ser a submissão da soberania brasileira aos interesses mercantilistas daqueles que destruíram a Petrobras, que venderam os gasodutos que nós construímos, que venderam a BR e que querem privatizar os Correios, o Banco do Brasil e a Eletrobras?”
As privatizações, alertou, sabotam a capacidade do país de traçar os próprios rumos. “Vocês acham que, se a Eletrobras estivesse na mão de um empresário privado, ele iria fazer o Luz para Todos como nós fizemos, investindo R$ 20 bilhões para levar energia para o povo que vivia à base do candeeiro? Não. Só pode fazer isso o Estado, se o Estado tiver compromisso com a sociedade. E nós precisamos ter coragem de dizer, e quero que as pessoas ouçam: eu não quero um Estado subalterno, eu quero um Estado forte, para ter poder de decisão”, afirmou.
“Não será uma luta fácil”
Lula disse que tem se colocado à disposição para ser candidato por acreditar que é possível não só recolocar o país no rumo da democracia real como também realizar mais do que foi feito nos governos dele e de Dilma Rousseff.
“Se for para fazer apenas igual, eu não preciso voltar. É preciso mais conquista para a sociedade, porque essa gente ignorante que faz parte da elite brasileira precisa saber que uma sociedade justa não é aquela em que eles podem tudo e os outros não podem nada. É aquela em que todo mundo pode um pouco”, argumentou. “O mundo justo que queremos é o mundo em que o filho de uma companheira como essa, que é seringueira no Maranhão, tenha a oportunidade de estudar no mesmo banco de escola do filho do dono do seringal. E que ele dispute quem é que vai ser doutor ou não”, completou.
A luta, porém, não será fácil, avisou. “Não existe essa de já ganhou. Eleição, a gente só sabe o resultado depois da apuração. Então, a gente vai ter que ter muita habilidade para construir nossas alianças, muita habilidade para conviver com pessoas. Eu quero construir um leque de pessoas que ajude a governar este país para a gente mudar. Quando a gente ganhar, a gente vai ter que ter maioria no Congresso Nacional, se não, como a gente vai construir? A gente precisa construir no processo eleitoral”, disse.
Da Redação