No primeiro ato público do qual participou após o assassinato do líder petista Marcelo Arruda, vítima de intolerância política praticada por um bolsonarista, Lula fez um apelo para que a sociedade brasileira diga não às armas e à violência e se empenhe na reconstrução do país.
Discursando para uma multidão em um centro de convenções em Brasília, nesta terça-feira (12), Lula lembrou que participa de campanhas eleitorais desde 1982, sem nunca ter estimulado atos de violência.
“Eu voltava para casa cada vez que era derrotado, lamentava ter perdido e me preparava para outras. Nunca, em nenhum momento, falei de violência”, recordou, antes de rechaçar a ideia de que há qualquer semelhança dos apoiadores do movimento Vamos Juntos pelo Brasil e o “fanatismo” de bolsonaristas.
“Estão tentando fazer das campanhas eleitorais uma guerra. Estão tentando colocar medo na sociedade brasileira. Estão querendo dizer que tem uma polarização criminosa. E é interessante, porque o PT polariza nas campanhas para presidente desde 1994, e você não tinha sinal de violência”, discursou (assista à íntegra no vídeo a seguir).
Segundo o ex-presidente, a sociedade brasileira percebe o que está em jogo e não será enganada pela tentativa de Bolsonaro de se aproximar da família de Marcelo Arruda.
“Se o Bolsonaro quiser visitar as pessoas pelas quais ele é responsável pela morte, ele vai ter que ter muita viagem, porque ele não chorou uma lágrima por 700 mil vítimas da Covid. Ele nunca se preocupou em visitar uma criança órfã, e são muitas, em visitar uma viúva, em visitar um marido que perdeu a mulher”, argumentou.
“Não precisamos brigar”
A hora, frisou, é de mostrar que somos diferentes, pediu Lula. Ele contou que, nas greves dos anos 1980, sempre orientou os trabalhadores a nnao aceitarem provocação da polícia.
“E é isso que nós temos que fazer nestes próximos três meses. Nós vamos nos multiplicar na rua, vamos continuar fazendo nossas passeatas, nossos atos públicos, mas nós vamos ter de dar uma lição de moral, que nem o Gandhi deu quando saiu em caminhada para libertar a Índia da Inglaterra”
“Nós não precisamos brigar”, continuou. “A nossa arma é nossa tranquilidade, a nossa arma é o amor que temos dentro nós, nossa arma é a sede que temos de melhorar a vida do povo brasileiro”, pregou.
“Nós não temos que aceitar provocação. É essa lição de moral que nós temos que dar”, pediu, sugerindo que as pessoas passem a andar munidas de um livro. “É a resposta que a gente vai dar ao presidente que está incentivando as pessoas a comprar armas.”
“Quero voltar a ser presidente”
Para Lula, Bolsonaro age de forma desumana e egoísta. “É uma pessoa que não pensa no bem de ninguém, a não ser o de si próprio. Não tem compaixão pelas pessoas que estão dormindo na rua, que estão na fila do açougue pegando osso para comer, pelos milhões de desempregados, por quase 2 milhões de jovens que saíram da escola e voltaram atrasados por causa da Covid. Não tem compaixão pela ciência e tecnologia, pela educação, pela saúde deste povo.”
Tal egoísmo, resultou em um governo cruel para a população brasileira, disse Lula. “Se o atual presidente da República estivesse disposto a fazer política, ele estaria determinando que o Ministério da Educação doasse livro didático para todo o ensino médio deste país, e não tentar facilitar a venda de armas e a construção de lugares para dar tiro”, argumentou.
O ex-presidente disse que deseja voltar a governar o país para fazer ainda mais do que já fez. “Eu quero voltar a ser presidente da República deste país. E agora eu não quero apenas que as pessoas tomem café, almocem e jantem. Agora eu quero que as pessoas tenham direito de estudar numa universidade, que as pessoas tenham o direito de ter um emprego decente, de ir ao teatro, ao cinema, de ter lazer no bairro e na comunidade onde moram. “Eu estou mais exigente. Eu quero que as pessoas viagem mais de avião, eu quero que os aeroportos ‘virem rodoviária’, cheios de pobre”, avisou.
Para Lula, é preciso parar de impedir os mais pobres de melhorarem de vida. “Essa gente tem que saber: a gente quer ser de classe média, a gente não quer ser pobre não. A gente não quer ganhar pouco, a gente não quer se vestir mal, a gente quer ir ao cinema, ao restaurante, ir ao teatro, ter um carro, uma televisão, um computador, um celular moderno.”
A gente quer que nosso filho seja doutor, doutor!, se formar numa universidade”, bradou, antes de encerrar com a bandeira do Brasil em punho. “Daqui pra frente a gente não ter vergonha de andar de verde e amarelo. O verde e amarelo não é bolsonarista, é do Brasil”, concluiu.
Homenagem a Marcelo e Marielle
O ato em Brasília foi aberto pela presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), que pediu aos presentes para fazer um minuto de silêncio em homenagem a Marcelo Arruda e outras vítimas da violência política, como Marielle Franco, Anderson Gomes, Moa do Katendê, Bruno Pereira e Dom Phillips.
“Eles lutavam pelo amor ao Brasil, pela esperança do povo brasileiro, e é por isso que estamos aqui, com coragem para seguir em frente, porque ninguém vai colocar medo em nós. Nós não vamos baixar a cabeça e não vamos nos dobrar ao ódio porque o que tem aqui é amor, é esperança, é solidariedade, e é isso que nós queremos para o Brasil”, afirmou Gleisi.
Alckmin: “O Brasil precisa mudar”
Líder do movimento Vamos Juntos pelo Brasil, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), disse que o país precisa virar a página. “Quando uma pessoa invade uma festa de aniversário e mata outro por intolerância política; quando com drone jogam veneno sobre o povo; quando atiram bomba na multidão, como foi no Rio de Janeiro, o Brasil precisa mudar. Não é possível continuar este estado de coisas. Não à ditadura, não ao ódio, sim à paz, sim ao amor”, defendeu.
“Vamos mudar o Brasil. Em vez de desemprego, fome, desalento, Lula: 20 milhões de empregos, valorização do salário mínimo, educação de qualidade, saúde, preservação do meio ambiente, democracia”, completou Alckmin.
Legado do PT em Brasília
Também falaram no evento a pré-candidata ao Senado pelo DF, Rosilene Correia (PT) e o pré-candidato ao governo do DF, Leandro Grass (PV).
Professora, Rosilene ressaltou que nenhum governo trouxe tantos benefícios para o Distrito Federal quanto os de Lula e Dilma e lembrou das 53 creche públicas erguidas durante os governos do PT.
Ela destacou ainda a criação de institutos federais e a expansão da Universidade de Brasília (UnB) “Quem aqui frequenta a UnB do Gama, de Planaltina, de Ceilândia? É isso que nós queremos: filhos da classe trabalhadora estudando na UnB, porque lá também é nosso lugar.”
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Já o deputado distrital Leandro Grass (PV) pregou uma política de tolerância e inclusão. “O país, esta cidade, cada palmo do Brasil não foram feitos para o ódio. Este não é o país do ódio, da violência, da intolerância”, disse. E prometeu, se eleito, governar para todo o Distrito Federal e o Entorno.
Também fizeram uso da palavra o presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros; o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira; o representante nacional da Rede, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Da Redação