Partido dos Trabalhadores

Lula: “Nós queremos crescer sem destruir o meio ambiente”

Na esteira das medidas anunciadas para conter os efeitos da seca no Amazonas, à Rádio Norte FM, Lula falou sobre as ações emergenciais do governo no estado

Ricardo Stuckert

"O mundo inteiro fala da Amazônia há muitos anos, e agora queremos que a Amazônia fale para o mundo", declarou Lula

Na manhã desta quarta-feira (10), o presidente Lula concedeu entrevista à Rádio Norte FM, de Manaus. Na sequência das medidas anunciadas para conter os efeitos da seca no Amazonas, na noite de terça-feira (10), Lula falou sobre as ações emergenciais do governo para a região Norte, cuja biodiversidade impacta o planeta. Lula tratou de preservação ambiental, desenvolvimento regional, segurança, combate ao garimpo ilegal e, principalmente, o papel do Brasil no cenário global de enfrentamento às mudanças climáticas.

Lula defendeu que o caminho do crescimento soberano passa pelo desenvolvimento com sustentabilidade. “Quando a gente fala da importância da preservação ambiental, alguns acham que somos contra o desenvolvimento econômico. O que é mentira. Nós queremos crescer sem destruir o meio ambiente. Não precisamos de florestas úmidas e acabar com os rios para desenvolver esse país”, disse Lula.

“Quando a gente vê um pouco de água, pensa que não tem seca. O que aprender é que mesmo com água, o rio era seis vezes maior do que hoje”, afirmou, ao ser questionado sobre a sua visita à região, na terça. O presidente ressaltou que uma coisa é ouvir falar sobre a seca na Amazônia e outra, muito diferente, é viver de perto.

Lula falou sobre a crise na Amazônia, que sofre com uma intensa estiagem, sobre as queimadas no Pantanal, o papel dos brigadistas, o impacto da BR-319 no Amazonas e, especialmente, a situação dos Yanomami.

“Temos uma sala de situação em Boa Vista para cuidar da situação do povo Yanomami. Temos mais de 10 representações de ministérios na cidade. Só neste ano, mais de 600 equipamentos de violência dos garimpeiros foram destruídos e estamos enfrentando o crime organizado na região” , destacado.

Lula também falou sobre sua visita às comunidades Canaã, Santo Sebastião do Curumitá e Campo Novo, onde viu o impacto devastador da seca nos rios, que agora não sustenta nem a pesca nem o transporte de produtos. “Voltei de lá com o compromisso de fazer mais. É preciso que a gente olhe com mais carinho para aquelas comunidades”, acrescentou.

Ele destacou que levou 150 purificadores de água para a região, uma iniciativa importante para garantir água potável em locais onde a crise hídrica já faz parte da realidade local. “Cada purificador consegue tratar 5 mil litros de água em 24 horas”, informou. O presidente ressaltou que essa medida é uma das muitas ações para atender às necessidades básicas de saúde locais.

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Queimadas no Pantanal 

O tema das queimadas, principalmente no Pantanal, foi outro ponto enfatizado por Lula durante uma entrevista. “85% das queimadas no Pantanal são em propriedades privadas”, lamentou.

Para enfrentar essa crise, o presidente destacou a importância dos brigadistas, homens e mulheres que estão na linha de frente do combate ao fogo. Segundo Lula, a maioria desses brigadistas são voluntários e desempenham um papel fundamental na proteção ambiental. Ele também sugeriu que os jovens que ingressaram nas Forças Armadas poderiam ser treinados para atuar na Defesa Civil, ajudando no combate às emergências climáticas. “São 70 mil jovens por ano que a gente pode preparar e formar profissionais de combate à questão climática”, afirmou.

Confira a íntegra da entrevista:

BR-319

Outro assunto de destaque foi a BR-319, uma rodovia essencial para o desenvolvimento da região Norte do Brasil, especialmente para o Amazonas. A estrada, construída na década de 1970, está em grande parte deteriorada, especialmente em um trecho de 400 km que precisa de reparos urgentes.

Lula enfatizou que é preciso reconstruir esse caminho de forma sustentável, sem permitir a grilagem de terras e o desmatamento ilegal. “É uma área que tem que ser preservada”, afirmou o presidente. Ele disse ter garantido o início das obras em 52 km da rodovia.

Nesta terça-feira, o presidente anunciou a retomada da construção da estrada, mas com um olhar atento para os impactos ambientais que isso pode causar.  “Vamos convocar especialistas para discutir como podemos fazer essa estrada sem causar danos à floresta”, garantiu.

Ouça o Podcast do Lula:

Garimpo ilegal

A crise humanitária envolvendo os indígenas Yanomami em Roraima foi outro tema sensível tratado na entrevista. Lula foi enfático ao afirmar que o governo federal está atuando fortemente para combater o garimpo ilegal na região .

Ele citou a destruição de mais de 700 dragas e balsas de garimpeiros nos últimos anos e as ações da Polícia Federal contra o garimpo, que incluem prisões e o bloqueio de recursos financeiros. “Nós estamos fazendo aquilo que é necessário fazer”, assegurou.

Lula lamentou as mortes de crianças indígenas por desnutrição, mas reforçou que o governo está empenhado em enviar alimentos e médicos para a região. Ele também criticou a falta de comprometimento do governador de Roraima, Antonio Denarium, na solução do problema.

Pela primeira vez, desde 2020, não houve alertas de garimpo ilegal em terras Yanomami no país. As ações de proteção ambiental e combate às invasões de Terras Indígenas resultaram na eliminação de atividades ilegais na região. E a última nova área de garimpo ilegal identificada na Terra Indígena Yanomami por sistemas de satélites ocorreu no início do mês de maio, conforme dados divulgados em junho passado.

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Brasil no centro das discussões climáticas 

Durante a entrevista, Lula reafirmou o pacto do Brasil com a preservação ambiental e o combate às mudanças climáticas. Ele apontou a COP30, que será realizada em 2025, em Belém do Pará, como um momento decisivo para o país apresentar avanços e compromissos ambientais. “O mundo inteiro fala da Amazônia há muitos anos, e agora queremos que a Amazônia fale para o mundo”, declarou Lula.

O presidente reiterou ainda o compromisso de zerar o desmatamento até 2030, uma meta que, segundo o presidente, já apresenta resultados concretos em seu governo. Ele lembrou que o desmatamento na Amazônia foi reduzido em 51% no último ano.

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Luz para Todos

Outro programa importante tratado por Lula foi o “Luz para Todos” , que leva energia elétrica ao povo brasileiro nas regiões mais remotas do Brasil, como a Amazônia. O presidente destacou que, além de atender às necessidades básicas dessas comunidades, o programa também tem impacto direto no desenvolvimento econômico local, possibilitando que as populações nessas regiões tenham melhores condições de vida e acesso a serviços essenciais.

Lula reforçou que o programa continuará sendo uma prioridade em seu governo, e que mais investimentos serão feitos para garantir que todas as comunidades, especialmente na região amazônica, tenham acesso à eletricidade.

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Zona Franca de Manaus

A importância da Zona Franca de Manaus foi outro assunto da entrevista. Para Lula, a Zona Franca ainda é fundamental para o desenvolvimento econômico da região Norte, especialmente para o Amazonas.

Ele lembrou que, durante os governos do PT, foi dada uma maior garantia de continuidade para a Zona Franca, em meio a pressões de estados que gostariam de ver-la extinta. “A Zona Franca é muito importante para a região norte do país”, declarou.

O presidente disse que, apenas no período de seu governo, 27 mil novos postos de trabalho foram criados na Zona Franca, o que demonstra a relevância do modelo para a geração de empregos e renda na região.

Da Redação