Lula tem repetido à exaustão o tema que elegeu como prioridade máxima para evitar novos retrocessos impostos pelo desgoverno de Jair Bolsonaro: a soberania nacional. Para além da política externa, fazer com que o país volte a ser soberano é, na visão daquele que ainda alimenta respeito e admiração mundo afora, ter o controle sobre as decisões que a nação deve tomar para favorecer o seu próprio povo.
“Soberania não é só uma ideia de desenvolvimento econômico. É preciso defender a saúde, a educação, a América Latina. Os problemas do Brasil só se resolverão se o país for soberano”, reiterou o ex-presidente ao cientista político economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, que o visitava pela primeira vez, acompanhado do ex-ministro Celso Amorim, em seu quarto encontro com amigo e maior líder popular da história do país no cárcere político.
A longeva relação de ambos com Lula e o domínio que possuem sobre o tema considerado mais urgente pelo ex-presidente foi, como sugeriram os convidados do dia, “uma aula sobre soberania nacional”. Bresser, inclusive, diz ter antecipado os anseios de Lula e feito uma apresentação sobre o tema para conduzir a conversa. “Na verdade não se precisa se dizer nada para o Lula. Ele está ensinando sobre soberania. Para ele está claro que o Brasil precisa de uma união maior, porque a sociedade brasileira está sendo violentamente atacada por um governo que não respeita a nação brasileira”.
O posicionamento de Lula, a convicção e tranquilidade com as quais se defende da perseguição política, e a preocupação com os problemas do país foram resumidos por Bresser-Pereira numa definição certeira: “O Brasil precisa de líderes como ele”.
O mesmo pensa Amorim, sempre anunciado por Lula em aparições públicas como “a pessoa que fez o Brasil ser reconhecido lá fora”, numa referência aos anos de ouro da diplomacia brasileira comandada pelo ex-titular das Relações Exteriores. “Ao mesmo tempo em que se dedica em deixar claro a sua inocência, Lula passa boa parte do tempo preocupado com o país. Ele tem muito claro a ideia de que a centralidade do problema está na questão da soberania. Tanto que voltou a me dizer que ‘os problemas do Brasil só se resolverão se o país for soberano'”, testemunhou.
Bolsonaro de mal a pior
Mas nem só do imenso legado deixado pelos governos Lula e Dilma para a emancipação brasileira no cenário global conversaram o trio Lula, Amorim e Bresser-Pereira. Os retrocessos de Jair Bolsonaro inevitavelmente entraram na pauta. “O fato de economia brasileira agora ameaçada de nova recessão se deve totalmente a um governo desvinculado dos interesses nacionais, que acredita que todos os problemas se resolverão com a reforma da Previdência (…) Enquanto isso o governo nada faz se não agravar a crise”, critica o economista.
A visão do diplomata também não é nada abonadora. Para ilustrá-la, faz uma comparação quase didática a partir do fato de Bolsonaro ter visitado o ex-presidente estadunidense George W. Bush sem ter sido convidado. “Vamos lembrar que estávamos tão altos que foi o Bush que veio aqui e botou o capacete da Petrobras. Quando estivemos nos EUA ficamos cinco horas conversando sobre vários assuntos. Lula era o interlocutor dos grandes temas da política mundial”.
Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias