Partido dos Trabalhadores

Marcelo Bastos: O PT, a crise e o processo de eleições internas

Temos que nos reorganizar, reverter nossa prioridade eleitoral, recomeçar de um ponto que há muito se abandonou: os movimentos sociais!

Foto: Roberto Parizotti/ CUT

Desnecessário falar da atual etapa de lutas que o país atravessa, mas mesmo assim, convém lembrar que a atual crise do sistema carcerário é nada mais do que uma forma de controle da pobreza, a dita indústria da tortura que movimenta milhões de dólares, sejam em contratos precários, terceirizados ou diretamente regidos pelos sistemas estaduais prisionais, seja como for, a mecânica utilizada serve apenas para prender a juventude negra e pobre desse país, são as senzalas modernas.

Ainda estamos absorvendo o golpe, e em cima dele, veio a reforma da Previdência, a flexibilização das leis trabalhistas, o congelamento dos gastos públicos, e ainda tem gente que acredita que a solução é uma nova eleição.

Em todo caso o processo de desconstruções das políticas públicas construídas no governo do PT vem se acelerando, e com a indecente campanha midiática contra o PT, pouca ou nenhuma resistência foi verificada, mesmo o PT parece imóvel, parado, com medo de outras denúncias tomem conta do noticiário, ate mesmo a figura de Lula tem sido usada pelo PT para tentar convencer que o mundo está tramando contra o PT, de forma inútil e desnecessária, queima nosso último cartucho antes mesmo de ir para luta de campo.

Já nos reduzimos a um partido eleitoral, não há outra forma de combate que permita que o PT saia do ostracismo?

Falar de erros, principalmente os éticos e morais, que o PT cometeu, não enquanto partido, por que o Partido é uma entidade jurídica e formal, não comete erros éticos e morais, mas sim seus membros, todos? Obviamente que não, mas alguns que em determinado momento ocuparam cargos chaves, seja no partido ou no governo, e sabemos disso pelos piores meios, pela impressa golpista.

Ainda não pedimos desculpas para os trabalhadores e trabalhadoras, ainda não condenamos essas práticas internas ao próprio PT, alguns militantes, dirigentes e lideranças do PT já foram presos e condenados, nem isso fez o PT agir criticamente com esses novos militantes carcerários, que merecem toda liberdade de se afastar do PT, mesmo defender suas atitudes internamente, mas precisamos debater o que fazer com esse novo contingente, só não pode fingir que nada acontece!

Esse desprendimento entre a realidade e a direção do PT não pode se tornar samba de uma nota só, temos que pensar no amanhã, afinal o PT ainda é a maior referência de luta e de perspectiva progressista na sociedade brasileira, não podemos simplesmente enrolar a bandeira e ir para casa, temos que voltar a lutar!

E como podemos fazer isso?

Primeiramente temos que nos reorganizar, reverter nossa prioridade eleitoral, recomeçar de um ponto que há muito se abandonou: Os Movimentos Sociais!

Segundo, começar a compreender que as lutas que forjaram o PT ainda são a única forma de construção do próprio PT, e que não há outra aliança que possa ser mais duradoura, o PT com a classe de trabalhadores, donas de casas, estudantes, camponeses, sem terra, ou seja, com o povo pobre e explorado da sociedade, devemos refazer esse compromisso ideológico com essa gente que luta todo dia pela sua sobrevivência.

Deixe que os ricos se governem, não vamos mais governar para os ricos, só para os pobres, e isso é uma mudança de paradigma que devemos ter ousadia de repactuar com o PT!

Terceiro, é construir um grande congresso de refundação do PT, aonde vamos nos acertar com a história e com a sociedade, mas para isso temos que rever urgentemente essa história de congresso para 600 delegados!

Construir um congresso maior, com delegados eleitos diretamente nos municípios, ou nas regionais, seria mais democrático e participativo, mas estamos em um momento em que as dificuldades são mais importantes que as soluções, o corte nas contas do PT é  que conta, e as somas divulgadas são enormes, mas não é ano eleitoral, e a nossa organização parece que não é tão importante assim!

O processo de escolha das novas direções do PT, apesar de serem estratégicas não pode ficar acima da realidade que permeia essa conjuntura política!

Isso significa que temos que tomar medidas antes que possamos repetir os mesmo erros, como construir novas direções se as forças políticas existentes hoje na correlação de forças do PT ainda não se modificaram?

Deixar para lá e os deixarem levar o PT para a falência completa, não é a saída, por mais que possa parecer a única lógica, pois nesse ritmo eles quebrariam o PT em menos de cinco anos, pelo andar da carruagem, transformaria o PT em sublegenda de outro partido, no caso do Pará o PMDB!

Contudo, a análise mais local ficara para depois, o que temos que compreender nesse momento é o próprio momento e quais riscos eles trazem para o PT e como podemos construir alternativas, que possam levar em conta a dinâmica interna do PT, a atual correlação de forças e impedir o trágico fim do PT.

Pode parecer piada, mas temos que apelar a sanidade dos setores majoritários, isso significar dizer que temos que construir criticas e autocritica que permitam uma síntese do processo todo, e com isso zerar o meio campo, para então repactuarmos o PT a partir de um conjunto mínimo programático.

Entender que a próxima direção do PT é uma gestão de crise, logo, a maioria deve compreender que setores que ainda não foram testados na direção do partido deve ter papel importante, não pela falta de experiência, mas sim pela sua capacidade de inovar, de criar novas formas de lutas e de gerenciamento do próprio PT. Ampliar a direção do PT com setores que ainda não fazem parte de sua direção é fundamental para não se criar hegemonismos constrangedores para a próxima direção.

Como é uma direção de gerenciamento de crise, deve ter a liberdade de fazer escolhas rápidas e com isso ter a oportunidade de manobrar a maquina partidária, do mesmo modo nada deve ficar sem respostas, criar no gabinete de crise uma assessoria jurídica e outra de comunicação, sob  coordenação da Executiva Nacional, e assim construir novos ares para o PT.

Logo o PED e os congressos estaduais e o congresso nacional devem ter em mente que a renovação deve ser profunda, e esse compromisso e maior que nossos interesses mesquinhos, mas será que o PT e o Campo Majoritário terá a capacidade de compreender essas tarefas?

É um desafio, no qual vamos discutir e rediscutir todos os dias até o final dos debates, quando a nós militantes que insistimos em ficar no PT, mesmo sofrendo todos esses ataques, alguns por avisos que temos em outras épocas, por previsões confirmadas, por desastres previamente avisados, vamos nos manter fiel ao Partido, por que é assim que os militantes do PT agem, eles ficam e resistem, luta e não abandonam seus ideais!

O PT vive e viverá, mas isso vai ser um enorme desafio para o próprio PT!

Por Marcelo Bastos, membro do Diretório Estadual do PT Pará, membro da chapa A Hora e a Vez da Militância, Ativista Social no Arquipélago do Marajó, para a Tribuna de Debates do VI Congresso. Saiba como participar.