Os cerca de 15 Km caminhados diariamente pelos camponeses durante a Marcha Nacional Lula Livre é apenas uma das atividades realizada pelos marchantes ao longo desses dias. A cada dia, depois de chegarem em seus locais de destino em que descansarão antes de marcharem novamente no dia seguinte, uma série de atividades é realizada com os trabalhadores rurais que compõem a marcha. Uma delas são as formações políticas que, entre outras coisas, buscam debater as saídas para os retrocessos que atingem a classe trabalhadora brasileira.
“É um momento oportuno e a Marcha se insere na perspectiva de preparar nossa militância para o grande debate que precisamos fazer em torno de um projeto popular para o país, e a gente só faz isso ouvindo o povo e suas aspirações”, analisa Geraldo Gasparin, do setor nacional de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um dos organizadores da marcha.
A formação do terceiro dia da Marcha debateu as estratégias do capital financeiro contra a classe trabalhadora, que vem sofrendo, de forma mais acentuada, desde o golpe parlamentar de 2016, que depôs a presidenta eleita Dilma Rousseff.
“O golpe foi arquitetado por aqueles que dominam economicamente a nossa sociedade e que utilizaram de seus instrumentos para fazer a legitimação do golpe. Portanto, a atual crise econômica tem origem na crise política”, considerou Álvaro Anacleto, da coordenação político-pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), do MST. Anacleto faz parte do Assentamento Canudos, no estado de Goiás.
“Esse contexto de crise do capital não é somente um problema do Brasil, mas que se estende por diversos outros países da América Latina e do mundo”, completou Alzerina Carneiro, da direção nacional do estado do Maranhão.
Congresso do Povo
Após a exposição inicial da formação, os marchantes se reuniram por estado para discutir desafios e estratégias para o futuro. A unidade em torno da bandeira da democracia e por Lula Livre foi o principal direcionamento dos sem-terra.
“Quem tem a soberania é o povo e é ele que deve decidir em quem quer votar. Estão mantendo preso, de forma arbitrária, um homem inocente e, com isso, tentando impedir quem a classe trabalhadora quer eleger”, destaca Tânia Oliveira, da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), que esteve presente na formação dos marchantes.
A defesa da presunção de inocência foi um dos pontos centrais levantados pela jurista. “Almejamos um Judiciário que enxergue a sociedade para além do próprio umbigo e que queira fazer justiça com isonomia, independência e sem vínculo com os poderosos”.
Tânia também chamou a atenção para o fato do Poder Judiciário ser extremamente elitizado e, portanto, “vinculado à classe dominante. Só a luta organizada dos trabalhadores pode mudar a realidade em que o Brasil se encontra hoje”.
“A sociedade parece estar amortecida. Essa grande maioria ainda não se levantou contra as artimanhas do capital e ela precisa colocar seu poder nas ruas para que todos tenham voz”, completa Carneiro, destacando a importância da construção do Congresso do Povo.
O objetivo do Congresso do Povo é reunir a classe trabalhadora para refletir sobre problemas cotidianos, identificar as soluções e construir um novo projeto de país por meio da luta popular. O Congresso do Povo já acontece em diversos estados e municípios brasileiros.
Gasparin ressalta que o instrumento de diálogo com a sociedade ultrapassa o período eleitoral. “Eu acredito que esse momento histórico da luta de classes exige da classe trabalhadora uma tarefa, que é a de organizar o povo. A esquerda, nesse último período, falou bastante para o povo, mas agora ela precisa ouvir”.
As formações políticas que acontecem na Marcha Nacional Lula Livre preparam os marchantes para um amplo trabalho de base com as forças populares.
“A Marcha por si só já é um processo formativo fantástico, o povo aprende na prática, na ação política. Mas nós também somos portadores de uma concepção de que só a luta é insuficiente. Nós precisamos nos apropriar do conhecimento e analisar com profundidade os elementos da realidade que queremos transformar”, finaliza Gasparin.
A Marcha Nacional Lula Livre – organizada pelo MST e Via Campesina – teve início nesta sexta-feira (10), e deve chegar em Brasília na próxima quarta-feira (14).
Por Brasil de Fato