O Ministério das Mulheres oficializou a criação do Fórum Nacional de Mulheres do Movimento Hip-Hop, iniciativa que reúne representantes do Poder Executivo e entidades da sociedade civil, e que objetiva elaborar políticas públicas temáticas para o segmento . A composição pode ser conferida na Portaria nº 5 de 15 de janeiro de 2024 .
O Fórum é mais uma evidência do compromisso do governo Lula com a pauta. Vale destacar que no ano passado a gestão atual lançou edital de valorização da cultura Hip-Hop, com investimento de R$ 6 milhões.
Carmen Foro, Secretária Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política do MMulheres, explica quais são os objetivos do Fórum Nacional de Hip-Hop para a pasta, que está alocado na Coordenação de Cultura da Secretaria.
“O primeiro é construir políticas públicas para um grupo social muito importante, que transforme suas vozes, atitudes e seu canto em um espaço de denúncia de violência contra as mulheres, de opressão e de todas as formas de submissão das mulheres”, afirma Foro.
“Depois, é necessária a construção de políticas públicas para esse segmento. E elas trazem nesse processo cultural muito importante a valorização também de gerações anteriores. Então, temos bastante trabalho para o próximo período para consolidar grupos sociais invisíveis e que são necessários que estão localizados à luz”, pontua.
Em junho de 2023 , a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, teve encontro com representantes do Movimento Hip Hop de dez estados brasileiros. Na ocasião, Gonçalves destacou a importância do movimento no combate à violência de gênero: “Esse momento é muito importante para o Ministério das Mulheres, nesse encontro com o movimento foi planejado o planejamento das ações e atividades. A cultura Hip-Hop faz a diferença, chega nos territórios, nas periferias, nas mulheres e nos homens, e o Ministério das Mulheres, junto ao movimento do Hip-Hop, vai enfrentar a misoginia e o ódio e nós vamos construir a igualdade neste país. ”
Alyne Sakura é representante do Movimento Hip-Hop Nordestino, onde atua desde 2008. Ela também é facilitadora da Construção Nacional, e representante da Frente Nacional de Mulheres em Alagoas. Segundo ela, estar no segmento a fez perceber a carência de espaço para mulheres discutirem suas próprias pautas e arte.
Uma das principais expectativas de Sakura é que o Fórum colabore na construção de diretrizes conjuntas e reais de mulheres nordestinas do Hip-Hop, além de “discutir políticas públicas externas para o fomento da cultura Hip-Hop, principalmente nos municípios mais distantes dos estados do Nordeste”.
A alagoana avalia o Hip-Hop como uma ferramenta transformadora, que colabora no incentivo ao debate sobre o silenciamento e a marginalização social com conscientização e engajamento político, de questões sociais e políticas como racismo, violência policial e desigualdades socioeconômicas. “Acredito que com políticas públicas e formação política é possível abordar as diretrizes das mulheres, e garantir que o Hip-Hop esteja nas escolas, praças, creches, centros de ressocialização”, afirma.
Resgate do protagonismo das mulheres negras
A jornalista Cláudia Maciel integra o time de facilitadoras gerais da Construção Nacional do Hip-Hop, e foi uma das responsáveis pela integração para a construção do Fórum Nacional de Mulheres do Hip-Hop.
Ela revelou que a Construção Nacional planejou o início dos trabalhos com o Fórum “como uma possibilidade de pensar o futuro com centralidade no bem viver. Encaramos, também, como um marco no trabalho de combate à misoginia, unindo governo e sociedade a ser desenvolvido nas áreas em que o Hip-Hop está presente. Afirmo com veemência que o Hip-Hop é uma ferramenta educativa eficaz e que atinge toda a pluralidade de pessoas.”
Questionada, enquanto mulher negra, como encara a institucionalização de um Fórum sobre Hip-Hop, a jornalista afirmou ser preciso reconhecer que as pessoas pretas estão sempre em lugar de subalternização.
“Já foi dito isso por várias outras vozes negras e repito, que não há como pensar qualquer ação neste país sem que a população negra e as questões raciais não sejam centro. O Fórum vem para pensar correções para um paradoxo vivenciado por mulheres hip-hoppers em todas as suas identidades. Porém, ressalto a necessidade do foco nas mulheres negras que compõem esse perfil”, argumenta.
Ela avalia também que a institucionalização do Fórum pode ser um convite às pessoas para reconhecerem o seu processo histórico, e a sua história violentada pelo processo colonial e trazer à tona o reconhecimento da potência das populações negras que eram matrilineares.
“Ter esse olhar atento às mulheres negras é se dedicar também a rememorar o lugar participativo das mulheres africanas na história, nossas ancestrais, identificando nessas mulheres o lugar de poder, de sabedoria, de ensinamento e de luta para a partir daí criar as políticas públicas possibilidade para o bem viver. Por isso, um Fórum com esse foco, uma vez comprometido com a entrega de ações políticas, pode ampliar a consciência da população negra que ainda vive submersa na pauta da escravização e não trilhou o caminho do reconhecimento da potência e dos exemplos de sociedades africanas pré-colonização que não entregava risco à humanidade, e onde as mulheres exerciam o papel de centros organizacionais; eram uma matripotência de suas comunidades”, defende Maciel.
A elaboração do Fórum é uma caminhada de meses, que foi construída a muitas mãos, sonhos e lutas. A jornalista destaca que, dentre as mulheres da linha de frente no dia da reunião que deu início ao compromisso do Ministério das Mulheres com a cultura Hip-Hop estavam, além dela, Ravena Carmo, Lidiane Lima e Vitória Arêdes do elemento conhecimento. Como Mc’s Nimsai, Márciana, Flávia Souza, Edd Wheelere e Patrícia Moreira. Mulheres que são ativas no trabalho constante pelo reconhecimento da mulher em todas as esferas.
“Mas é importante destacar que não há como construir um levante de um povo com meio povo. Por esse motivo, a busca por este Fórum conta com mulheres e homens participantes da Construção Nacional do Hip-Hop como os rappers Gog, Rafa Rafuagi, Zuruka, Linha Dura, Succo Emici, o DJ Taba e DJ Branco, o B.boy Dêga , o grafiteiro Arthur Doomer, os homens do quinto elemento como Bruno Rafael e até o parlamentar Renato Freitas”, conclui.
Da Redação do Elas por Elas