Lideranças do Movimento Negro Unificado (MNU) afirmaram nesta segunda-feira (5) que será preciso muita resistência e luta para impedir que o próximo governo de extrema direita retire os avanços obtidos com a implantação de políticas públicas de combate ao preconceito e ao racismo, que tem como objetivo a construção de sociedade com igualdade racial. Essa foi a tônica dos pronunciamentos que ocorreram durante a sessão solene realizada nesta segunda na Câmara, que comemorou os 40 anos do Movimento Negro Unificado (MNU). O evento foi idealizado pelo deputado Vicentinho (PT-SP), que também presidiu a sessão.
“Nascemos no período da ditadura militar quando vivíamos a realidade de violência racial no País. Nos organizamos, e hoje estamos presentes em 20 estados. Vamos continuar a luta na nossa trincheira, resistindo à violência racial contra as mulheres e homens negros e exigindo respeito à nossa ancestralidade e aos nossos terreiros, porque o Estado brasileiro é laico”, destacou Ieda leal, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado. Ela citou ainda os nomes de todos os membros da coordenação nacional do MNU, ao prestar homenagem pelo trabalho realizado por eles em defesa da igualdade racial no País.
Ao também ressaltar a necessidade de resistir aos retrocessos, o coordenador do Movimento Negro Unificado no Distrito Federal (MNU-DF), Geovanny Costa Silva, lembrou que os jovens negros são as maiores vítimas da violência no País. Citando dados do Mapa da Violência do ano passado, Geovanny destacou que dos 60 mil assassinatos por ano no País, cerca de 25 mil são de jovens negros e pobres.
“A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado nesse País. Morre mais gente aqui do que na Faixa de Gaza, uma zona declarada de conflito. Existe hoje um extermínio da juventude negra no Brasil. Por isso precisamos enfrentar qualquer proposta que declare o fim dos programas que promovem a igualdade racial, como a política de cotas nas universidades públicas, que realmente beneficiam a juventude negra. Essa é a igualdade que nós queremos, e não podemos retroceder nem um milímetro”, defendeu.
Durante a sessão solene também foram homenageadas personalidades importantes na luta do movimento negro no País. A fundadora do MNU, Jacira Silva, citou em seu pronunciamento os nomes das ativistas Lélia Gonzales, Jurema Batista, Neusa Santos e Luiza Barrios.
Na solenidade, Maria Aparecida Félix – irmã do deputado Vicentinho – cantou o Hino Oficial à Negritude, sancionado por lei (Lei 12.981/14) em 2014 pela presidenta Dilma Rousseff. A lei prevê a execução do hino em cerimônias públicas organizadas para homenagear a comunidade negra em todo o País.
Ao finalizar a cerimônia, o deputado Vicentinho fez um alerta a todos os ativistas pela igualdade racial. Segundo ele, além da resistência popular também é preciso lutar para aumentar a presença dos negros no poder legislativo.
“Nós chegamos a ter 60 negras e negros nesse parlamento. Depois caímos para 44, e atualmente somos apenas 21 entre 513 parlamentares. Isso demonstra que o nosso voto precisa ser mais consciente para aumentarmos a nossa representação. Poderíamos fazer uma revolução se elegêssemos mais representantes para o Congresso”, avaliou.