“Ainda tem gente que esse assunto é muito complexo e que não é coisa de mulher. Estamos todas aqui para provar que isso não é verdade”, Valente.
Foi esse o tom que a petista Mônica Valente, da Executiva Nacional e ex secretária de Relações Internacionais do PT, deu na abertura da mesa de conjuntura internacional, realizado na manhã do dia 6 de fevereiro.
A chamada “financeirização da economia”, marcada pela profunda concentração das decisões sobre produção mundial nas mão de grandes bancos e fundos de investimento, foi o elo norteador dos debates. As participantes demonstraram em diversos momentos como o projeto ultraliberal, aplicado pelo governo Bolsonaro e diversos governos de direita pelo mundo, tem alvo certo na vida das trabalhadoras, das mulheres negras e indígenas.
“80% da da cadeia produtiva global é financiada por 800 megafundos ou bancos. São eles que determinam onde, quando e como vão produzir. Os Estados estão perdendo a capacidade de controlar essa produção”, esclareceu Mônica.
Essa lógica se revela perversa em diversos momentos, principalmente em situação de crise. Os governos de direita assumem um discurso de austeridade fiscal, atacam servidores públicos, retiram direitos, precarizam a vida dos trabalhadores e trabalhadoras, e falam em “cortar gastos públicos” às custas de direitos sociais. E, ao mesmo tempo, esses governos recorrem ao Estado, drenando vultosas quantias, para salvar grandes bancos e grandes empresas que vão à falência, como foi o caso do Lehmman Brothers e da GM.
A conselheira da fundação Perseu Abramo, Iole Ilíada, aprofundou essa reflexão sobre a instabilidade econômica, política e social que tomou conta do cenário internacional, principalmente na América Latina. Ela apontou duas chaves para compreender: a crise do capitalismo e o declínio relativo da hegemonia dos EUA.
“Diante desse cenário de instabilidade, o que farão os agentes e Estados nacionais? Tudo para manter suas posições, seu poder e recuperar a taxa de lucro. Como? Abaixando salários, empurrando privatizações, retirando direitos e, principalmente, controlando à força quem se opõe a essas medidas”, explicou Iole.
Para enfrentar esse cenário, Laura Sito, do Coletivo Nacional de Mulheres, falou sobre a importância de ter clareza do papel do Brasil nesse “novo arranjo” internacional:
“O nosso país é um pote de ouro em termos de recursos naturais para a própria regulação do sistema capitalista. Portanto nessas eleições, não é só ganhar bancada, mas reforçar a estratégia de país que queremos construir”.
O peso do silêncio vai acabar nos esmagando (Audrey Lorde).
As reflexões sobre conjuntura internacional não ficaram restritas ao campo político e econômico. A filósofa Mariana Janeiro, secretária de mobilização nacional do PT, levantou questões e posicionamentos importantes para amadurecer a elaboração de um feminismo que parta dos princípios do Partido dos Trabalhadores.
“Não existe sororidade universal. Nós temos diferenças e precisamos dialogar sobre os muros que nos dividem”, apontou Janeiro sobre o caso que envolveu Joice Hasselman, em 2019, quando a parlamentar deixou o partido e foi alvo de críticas machistas.
Para elucidar, Mariana fez um paralelo sobre como a sociedade tratou a “autodeclarada” a serviço do golpe na Venezuela e a humilhação a que submeteram a prefeita de Vinto arrastada em praça pública
“Como vamos lidar com mulheres que estão a serviço do capitalismo e defendem a estrutura de um sistema que acaba com a vida das mulheres trabalhadoras?”, pontuou Mariana.
Sheila Maria, membro do Diretório Nacional, reafirmou o protagonismo do Partido dos Trabalhadores para trazer o debate articulado entre classe, gênero e raça a partir da realidade brasileira, voltada para o cenário internacional e os impactos do projeto ultraliberal na vida de milhares brasileiras.
“O PT é o único partido capaz de fazer esse debate com essa completude”, finalizou Sheila.