As mulheres negras são maioria entre as candidatas do PT que disputam uma vaga nas Assembleias Legislativas, Câmara Federal, Senado e Governo Estadual nas Eleições 2018. De um total de 361 candidaturas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 191 se autodeclararam pardas ou pretas, formando, assim, o grupo das negras, conforme classificação de cor/raça do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número corresponde a 52,9% do total de candidatas e reflete o percentual delas na composição da sociedade brasileira, que é de 52% do total de mulheres. Entre as candidatas, 30,4% (110) são pardas; e 22,4% (81) são pretas.
As mulheres brancas compõem o segundo grupo com o maior número de concorrentes. Elas correspondem a 45,4% do total, com 164 representantes. O PT inscreveu ainda cinco mulheres que se autodeclaram indígenas e uma que se reconhece como amarela.
Entre as candidaturas negras, o maior percentual é observado na região Norte do país, onde 76% (43) das 56 candidatas se declararam dessa forma na ficha de registro enviada ao TSE. Em seguida aparece o Nordeste. Na região, das 89 mulheres registradas para a disputa eleitoral, 64% são negras (57). A região Centro-Oeste também tem a maioria de candidatas negras, sendo que elas somam 59% (29) do total de 49 candidaturas de mulheres.
No Sudeste e Sul, maioria é branca
As regiões Sudeste e Sul, por sua vez, têm maioria de candidatas brancas. Juntos, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo somam 109 candidatas nas eleições. Dessas, 51,3% (56) são brancas. As negras correspondem a 46,7% (51).
Nos três estados do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que têm maioria da população branca, a disparidade entre os grupos na disputa eleitoral é maior do que nas outras regiões do Brasil. As mulheres brancas representam 81% (47) das candidaturas, ante 18,9% (11) de negras.
Mulheres negras são sub-representadas na política
A participação de mulheres negras na política está longe de atingir o patamar mínimo de equidade. Nas prefeituras das cidades do país, elas representam apenas 3,29% das chefias do poder executivo, de acordo com o Mapa Étnico Racial das Mulheres na Política Local Brasileira, divulgado em julho. O número está muito aquém do retrato da sociedade brasileira.
Segundo o documento, nas eleições municipais de 2016, em um universo de 5.568 municípios, apenas 184 mulheres negras foram eleitas, o número corresponde ao índice de 3,29%. Desse total, 174 se autodeclararam como pardas e somente 10 como pretas.
Ainda de acordo com o Mapa, em 2016 foram eleitos para as Câmaras Municipais de todo o país 57.419 parlamentares, sendo 2.871 mulheres autodeclaradas como negras. Em porcentagem, isso representa 5% da composição das casas legislativas municipais.
Desse total, 329 eleitas eram pretas, representação que foi reduzida com o assassinato da vereadora Marielle Franco (RJ). Dentre as parlamentares atualmente no poder legislativo municipal, segundo o levantamento, 36,7% são negras, sendo 32,5% autodeclaradas como pardas e 4,21% como pretas.
No Congresso Nacional, o cenário é o mesmo observado nas demais instâncias de poder. As mulheres negras também ocupam a minoria das 81 cadeiras do Senado, com apenas três representantes atualmente. Para a Câmara Federal, dos 513 assentos, apenas 10 foram ocupados por mulheres negras nas eleições de 2014, sendo sete autodeclaradas como como pardas e três como pretas.
Elas por Elas Mulheres Negras
No período pré-eleitoral, as então pré-candidatas negras do PT contaram com o apoio do projeto Elas por Elas Mulheres Negras para chegarem ainda mais fortalecidas na disputa das eleições. A iniciativa foi desenvolvida pela Secretaria Nacional de Mulheres, em parceria com as secretaria estaduais e com a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo, com objetivo de ampliar a presença dessas mulheres nas instâncias de poder e decisão.
O lançamento da plataforma aconteceu no último mês de julho, no Rio de Janeiro, com a presença das então pré-candidatas negras de todo o país. Elas participaram de um workshop que abordou as temáticas “financiamento público e as pré-candidaturas negras”, “aspectos jurídicos e eleitorais para as campanhas negras” e “planejamento de pré-campanhas para mulheres negras”.
Por Geisa Marques, da Comunicação Elas por Elas