O PT convocou a militância para um processo de reflexão coletiva sobre seus rumos na preparação de seu 6o Congresso.
Temos lido atentamente os textos colocados em discussão, bem como ouvido os dirigentes dos agrupamentos que se propõem a dirigir o partido no próximo período. Uma constatação decorre desta atenção. Há um silenciamento sobre o fato de que Dilma, do PT, é a presidenta eleita do Brasil.
No debate, aparecem diferentes avaliações e ângulos sobre como foi possível o Golpe. Discute-se e analisa-se tudo. Desde a movimentação da direita, do imperialismo, da mídia, do Judiciário, do Congresso, dos partidos aliados, do próprio PT e sua dinâmica interna, e, também, o desempenho do Governo de Lula e do de Dilma. Diferentes respostas ou nuances são dadas a cada um destes fatores ao responderem como chegamos ao Golpe. As respostas não são irrelevantes. Mas é impossível deixar de constatar que a pergunta “como derrotarmos o Golpe?” não tem merecido neste debate, até agora, a mesma atenção.
Quando falamos em Dilma, nos dizem: “não é o caso de falar Volta Dilma”, “Volta Dilma não faz unidade”, “o povo não defenderia Dilma”, “Os movimentos sociais e sindicais não podem defender Dilma porque ela não nos ouviu”, “não podemos defender que Dilma volte se, no governo, ela colocou Levy e aplicou o ajuste”. Podemos responder a cada um destes argumentos didaticamente e explicar que, caso ela volte, não será o mesmo governo, uma vez que a coalizão com o PMDB explodiu.
Podemos explicar que ela só voltará se apoiada num amplo movimento de massas, o que alteraria a correlação de forças a favor das massas trabalhadoras. Podemos explicar que Dilma voltar é a volta do direito do movimento sindical fazer greves para corrigir o governo. Podemos explicar que o povo brasileiro é perfeitamente capaz de entender, diante da PEC55, que quem tirou Dilma queria se livrar do pacto por mais saúde e educação que ela fez com as ruas em 2013. Podemos explicar que o PT não precisa permissão de ninguém para defender o mandato que o povo deu ao PT para governar. Mas de tudo o que ouvimos, a principal resposta que damos é que, sim, é o caso de falar “Volta Dilma”.
Falar sobre o “Volta Dilma” é uma necessidade, nem que seja em respeito a uma camada imensa de militantes do PT, em sua grande maioria mulheres que dedicaram sua juventude e as poucas horas livres (abrindo mão de estar com seus filhos e famílias, com muito sacrifício) para estarem nas ruas fazendo campanha pelo PT ou participando de reuniões, que tomaram as ruas contra o Golpe e continuam dizendo “Volta Dilma” nas redes sociais. Falar sobre Dilma é tirar todas estas mulheres petistas, muitas já não jovens, da invisibilidade. Afinal, somos milhares de Dilmas.
Cochichos de corredores se referem a nós, mulheres que queremos a volta de Dilma para onde ela não deveria ter saído, como voluntaristas, irresponsáveis e que colocamos nossas emoções na frente de uma análise racional da realidade. Para os que pensam assim, respondemos: isto nada mais é do que um reflexo de um pensamento misógino inculcado pela ideologia dominante na sociedade capitalista.
Somos racionais o suficiente para saber que antes da votação no STF sobre o mandato de segurança impetrado por Dilma, o impeachment ainda pode ser anulado pelas vias legais. Somos racionais o suficiente para saber que desde a AP 470, o STF tem participação na construção do Golpe e, portanto, não temos ilusão nenhuma neste judiciário. O que não é racional é que nenhuma das principais posições colocadas em debate diga claramente que é preciso mobilizar e esgotar todas as possibilidades de luta para reverter o golpe.
Somos militantes mas, também, parte das camadas oprimidas da sociedade. Olhamos para o lado e temos confiança nas massas que construíram o PT a partir da “da vontade de emancipação das massas populares. Os trabalhadores já sabem que a liberdade nunca foi nem será dada de presente, mas será obra de seu próprio esforço coletivo.”(Manifesto de Fundação do PT).
Olhamos para nosso partido, suas conquistas, sua trajetória, e não temos nenhuma dúvida que, se o PT e todas as suas lideranças na sociedade, nos movimentos sindicais e populares convocarem a base social do PT para defender o mandato que o povo deu a Dilma, este golpe pode ser revertido. E, mesmo que não seja, já estaremos em condições bem melhores para defender Lula. Isto não é voluntarismo, é consciência de quem somos e responsabilidade com a nossa história e nossos eleitores.
Dialogamos, inclusive, com os que defendem diferentes posições sobre a saída para crise como “eleições diretas”, “eleições gerais” ou “eleições constituintes” . A todos dizemos: Quem convoca e em qual a correlação de forças? Em todos os casos, a melhor solução e a mais democrática é que Dilma convoque, apoiada no amplo movimento que a trouxer de volta. Não se trata, então, de opor uma posição a outra.
Há um nítido descompasso entre o desespero dos golpistas e nossa capacidade de aproveitar as brechas e lutar para derrotar o golpe. Há um descompasso entre o que querem os militantes e o debate em curso.
Para que este 6o Congresso do Partido dos Trabalhadores possa realmente discutir possibilidades e dificuldades de sua construção e de seu projeto, a condição prévia é que se rompa, imediatamente, no debate, o silenciamento sobre o “Volta Dilma”.
4) Assinam:
Acácia Andrade Brito. Rio de Janeiro/RJ
Alba Cristina Nogueira Lopes. Horizonte/CE
Alyda Sauer. Rio de Janeiro/RJ
Amanda Maria Sampaio Moraes Leite. DZ Pinheiros/SP
Ana Otoni. Rio de Janeiro/RJ
Angélica de Jesus Santos. Executiva DM São João De Meriti/RJ.
Bel Frontana Caldas. São Paulo/SP
Christiane Granha. Rio de Janeiro/RJ
Christina Iuppen. Rio de Janeiro/RJ
Edna Calheiros. Saquarema/RJ
Edva Aguilar. São Paulo/SP
Eide Barbosa. Rio de Janeiro/RJ
Elke Gibson. Rio de Janeiro/RJ
Isabel Frontana Caldas. São Paulo/SP
Fátima Wanderley. Rio de Janeiro/RJ
Kênya Vitoriano da Silva Norinho. Ibiraci/MG
Leila Regina S. Soares. DM São João de Meriti e DE-RJ
Lucia Capanema Alvares. Rio de Janeiro/RJ
Marcia Farias Barreto. Aracaju/SE
Maria Alice de Brito Moraes. Rio de Janeiro/RJ
Maria de Jesus Lucena Barros. DM/PT Florianópolis SC
Marilia da Cruz Pereira. Poços de Caldas/ MG.
Regina Almeida. Rio de Janeiro/RJ
Regina Celi da Silva Rocha. Volta Redonda/RJ
Roberta Barbosa Andrade. Boquim/SE
E muitas, muitas e muitas outras.
Texto enviado para publicação na Tribuna de Debates do VI Congresso. Saiba como participar.