O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem se valido da entrega de obras públicas por Estados, muitas das quais já inauguradas e fruto de projetos de governos anteriores, como forma de promoção pessoal e palanque político em uma clara campanha eleitoral antecipada, o que é proibido por lei. Nesta quinta-feira, 20, Bolsonaro vai ao Piauí para a entrega da ponte Santa Filomena, no município homônimo na região sul do Estado.
O evento foi classificado por aliados do presidente da República como forma de impulsionar o lançamento de pré-candidatura de oposição ao governo do Piauí e ocorre na sequência de visitas presidenciais ao Nordeste e Centro-Oeste, onde entregou obras fruto de recursos transferidos pelos governos Lula, Dilma e Temer e até já inauguradas. Pior, Bolsonaro utiliza dinheiro público e estrutura oficial do governo para promover ataques à democracia e adversários políticos.
A movimentação política de Bolsonaro ocorre na sequência de pesquisa Datafolha que apontou, segundo levantamento divulgado em 15 de maio, o crescimento para 54% de sua rejeição, ou seja, mais da metade do eleitorado brasileiro disse não votar em Bolsonaro, com a consequente queda de sua popularidade, para 23%. Outra pedra no sapato presidencial é o avanço de investigações da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, que apura ações e omissões do governo federal no combate à pandemia, e caminha para fazer 500 mil mortes por Coronavírus.
Ao entregar a ponte sobre o rio Parnaíba, que liga os municípios de Santa Filomena, no Piauí, e Alto Parnaíba, no Maranhão, Bolsonaro deve reunir pré-candidatos que contam com seu apoio na região em cenário desfavorável ao presidente como mostra pesquisa Datafolha ao registrar sua perda de apoio político no Nordeste e entre evangélicos. O projeto foi iniciado em 2019.
“Ladrão” de obras
A estratégia de Bolsonaro frente ao desgaste político tem sido se “apossar” de obras que não foram frutos de seu governo e, até mesmo, entregar obra já inaugurada. Na semana passada, o presidente da República viajou a Alagoas e Mato Grosso do Sul. Na capital Maceió, Bolsonaro entregou, em 13 de maio, o viaduto da PRF, já em funcionamento desde dezembro de 2020 e inaugurado pelo governador do Estado, Renan Filho (MDB-AL).
Em Maceió, Bolsonaro foi recebido por manifestantes contrários a sua política genocida na pandemia. A cerimônia oficial no viaduto da PRF foi marcada pela entrega do título fake de Cidadão Maceionense a Bolsonaro, concedido pelo vereador Leonardo Dias (PSD), já que a honraria não foi aprovada pela Câmara Municipal de Maceió.
O presidente também entregou 500 unidades habitacionais, no Benedito Bentes, após ter praticamente acabado com o bilionário programa habitacional Minha Casa Minha Vida, dos governos Lula e Dilma. A outra obra inaugura pelo presidente foi o Canal do Sertão Alagoano, um dos eixos de transposição do Rio São Francisco, projeto do governo Lula para acabar com a seca no Nordeste.
Assentado “terrorista”
Bolsonaro viajou, em 14 de maio, para Terenos, no Mato Grosso do Sul, para entregar títulos de posse de terra para assentados que ele já chamou de “marginais” e “terroristas”. Forças de segurança fizeram bloqueio na via vicinal a 40 Km do acesso ao assentamento Santa Mônica, fundado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A polícia utilizou gás lacrimogênio para dispersar os manifestantes.
No último sábado, 15, Bolsonaro foi de helicóptero à Esplanada dos Ministérios e, montado a cavalo e se valendo de estrutura pública em seu transporte, atacou adversários políticos, a CPI da Covid e a democracia.
A deputada federal e presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, (PR) cobra investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), já que o presidente da República está utilizando recursos públicos para fazer palanque eleitoral antecipado, com dinheiro público e ilegal. “Cadê o Congresso Nacional?”, questiona a deputada em relação a investigações sobre esses episódios.
Da Redação