O escândalo de corrupção no Ministério da Educação de Jair Bolsonaro não para de crescer. Após a revelação de que dois pastores comandavam, por ordem direta de Bolsonaro, os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a lista de malfeitos não para de crescer (veja a relação abaixo).
O último capítulo dessa novela (policial) foi revelado nesta terça-feira (19) pela Folha de S. Paulo. Dados obtidos pelo jornal via Lei de Acesso à Informação comprovam que as prefeituras que não são aliadas do governo (ou não aceitam pagar as propinas cobradas pelos pastores) acabam com seus projetos sabotados.
De acordo com a reportagem, o governo Bolsonaro não pagou R$ 434 milhões a 1.369 prefeituras de todo o país que já estavam com projetos em andamento. Segundo o jornal, são 1.780 obras que estão aptas a receber dinheiro federal, mas “o governo Bolsonaro não efetiva as transferências”. O resultado são creches, escolas, salas de aulas e quadras que ficaram pela metade, sem os recursos para que sejam concluídas.
Conforme explica a Folha, o FNDE é controlado por indicações de partidos do centrão. O presidente, Marcelo Lopes da Ponte, era assessor de Ciro Nogueira (PP-PI), atual ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro e um dos líderes do bloco de apoio à atual gestão federal.
Enquanto esses R$ 434 milhões ficam retidos sem justificativa no MEC, o dinheiro jorra fácil para outros fins. A Folha informa que, até 15 de abril deste ano, o governo pagou no país todo R$ 110 milhões por meio do FNDE. Desse total, R$ 31 milhões foram para que sete municípios de Alagoas e dois de Pernambuco comprassem kits de robótica superfaturados vendidos pela empresa de um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Detalhe: muitas das escolas que receberiam os kits não têm sequer água encanada.
Para tentar conter esse escândalo, Bolsonaro demitiu, no último dia 28, seu quarto ministro da Educação, Milton Ribeiro. Foi Ribeiro, não custa lembrar, quem entregou o jogo e disse, durante uma reunião no MEC, que os recursos do FNDE iam preferencialmente para os amigos do pastor Gilmar Santos porque se tratava de “um pedido especial que o presidente da República fez” (ouça abaixo).
Não cola mais. Depois de rachadinhas, prevaricação, esquema para comprar vacinas, filhos com mansões, clara ligação com as milícias e mais esse escândalo no MEC, Bolsonaro posar de honesto é, no mínimo, ridículo. Até para ele, a mentira tem que ter limite.
Corrupção no MEC: o que se descobriu até agora
- A primeira revelação foi a de que dois pastores comandavam um gabinete paralelo no MEC e tinham o poder de determinar para quais projetos deveriam ser destinado o dinheiro do FNDE. Prefeitos disseram que os pastores chegavam a cobrar barras de ouro para liberar os recursos, e o ex-ministro Milton Ribeiro disse que os religiosos agiam a pedido de Bolsonaro.
- Em seguida, surgiu a denúncia de que o governo Bolsonaro aceitou pagar R$ 480 mil por um ônibus escolar que custaria, no máximo, R$ 270,6 mil. No total, o MEC pretendia comprar 3.850 veículos, que seriam destinados ao programa Caminho na Escola.
- Na sequência, surgiu o escândalo dos kits de robótica, que foram comprados por um valor 420% mais alto do que o pago pela empresa que fez o negócio com o MEC, a Megalic, que pertence a Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD). A proximidade do vereador e de seu pai com Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, é pública.
- Outro escândalo veio à tona em 22 de março, quando a Folha revelou que os aliados do governo Bolsonaro têm acesso fácil ao dinheiro do FNDE, que aprovou diversas obras sem critérios técnicos e burlando no sistema a liberação de pagamentos.
- O quinto capítulo desse escândalo é a revelação de que, enquanto o dinheiro sai fácil para os amigos do governo, R$ 430 milhões ficaram retidos e paralisaram obras de creches, escolas e quadras em prefeituras que não são aliadas de Bolsonaro.
Da Redação