Partido dos Trabalhadores

O cerco se fecha: Bolsonaro liderou tentativa de golpe, conclui PF

Provas contundentes no inquérito demonstram a atuação do extremista de direita como chefe da quadrilha que planejou destruir a democracia e assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes (STF)

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Todas as frentes de investigação levam à confirmação de que Bolsonaro liderou o plano assassino

A Polícia Federal (PF) concluiu que as evidências contidas no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado “demonstram de forma inequívoca” que Jair Bolsonaro “planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios” da organização criminosa instalada dentro do Palácio do Planalto para conspirar contra a democracia. A ruptura institucional só não se consumou, apontam os investigadores, em razão de “circunstâncias alheias à vontade” do ex-presidente.

A tentativa de golpe de Estado teve início ainda em 2019, conforme identificado pela PF, quando a falsa narrativa de fraude eleitoral foi disseminada pelo bolsonarismo para minar a credibilidade das eleições no Brasil. A meta dos golpistas era preparar terreno para a contestação de uma provável derrota em 2022, de maneira não-casuística, além de justificar ações subversivas por parte da quadrilha liderada pelo capitão da extrema direita.

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A investigação sustenta também que Bolsonaro ajustou, pessoalmente, a minuta do decreto do golpe, em 7 de dezembro de 2022, e reuniu os comandantes das Forças Armadas para pressioná-los a apoiar a conspiração. Somente o chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, entretanto, ousou aderir à intentona fascista. Em mensagem obtida pela PF, o militar disse ter “tanques no arsenal prontos” para inviabilizar a vitória de Lula.

Na terça-feira (26), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo do inquérito que apura a tentativa de enterrar o Estado Democrático de Direito no país. O magistrado enviou as 884 páginas do relatório à Procuradoria-Geral da República (PGR), que tem prazo de 15 dias para se manifestar. A contundência das provas contra Bolsonaro agitou a classe política em Brasília e dominou os noticiários.

Por meio das redes sociais, a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), classificou como “muito grave” o inquérito da PF. A parlamentar compartilhou, em seu perfil no X, o trecho completo do relatório que coloca Bolsonaro no centro da trama golpista.

“Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade.”

O papel central de Bolsonaro

O relatório da PF destrincha o papel de Bolsonaro na conspiração contra a democracia. Veja abaixo como o ex-presidente foi peça central da trama golpista:

– Planejou, atuou e teve o domínio de forma direta dos atos que levariam à ruptura institucional;

– Espalhou mentiras sobre as urnas eletrônicas para desacreditar o sistema eleitoral;

– Conhecia amplamente o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que visava assassinar o presidente Lula, o vice, Geraldo Alckmin, e o ministro Moraes;

– Contribuiu na elaboração da minuta do decreto para impedir a posse de Lula por meio da imposição do Estado de Sítio;

– Convocou os comandantes das Forças Armadas ao Palácio do Planalto para apresentar-lhes o texto da minuta do golpe, depois de ajustá-lo pessoalmente, e pressionou os militares a aderirem;

– Determinou a confecção da “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro” para pressionar o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes;

– Devido à recusa de Freire Gomes, recorreu ao general Estevam Theófilo, encarregado do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), que acenou positivamente caso o ex-presidente assinasse o decreto;

– Discurso a apoiadores 40 dias após perder as eleições de 2022. “Em várias oportunidades em sua fala, vinculou uma ação a ser desencadeada pelos militares para atender aos anseios dos seus seguidores”, diz a PF.

Aparato militar para matar Lula

A investigação revelou ainda que o presidente Lula foi monitorado durante dois meses pelos chamados “kids pretos”, nome dado aos militares formados pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, treinados para atuar sob sigilo, em ambientes hostis e politicamente sensíveis.

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No relatório, a PF chegou à conclusão de que os “kids pretos” estavam encarregados de eliminar Lula, Alckmin e Moraes. O monitoramento do petista foi iniciado em meados de novembro de 2022, com emprego de recursos do Batalhão de Ações e Comando do Exército (BAC).

“Outrossim, a investigação também identificou ações nos meses de novembro e dezembro relacionadas ao monitoramento do então presidente eleito LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, especialmente nas proximidades do hotel Meliá em Brasília/DF, local em que o presidente estava se hospedando na capital Federal”, descreve a PF.

“Da mesma forma, evidenciou-se que o Policial Federal WLADIMIR MATOS SOARES aderiu ao intento golpista, inclusive repassando informações sensíveis sobre a estrutura de segurança do presidente eleito”, completa.

Da Redação, com informações de Polícia Federal, Folha de S.Paulo, O Globo