Além do auxílio de fake news, Jair Bolsonaro se elegeu em 2018 em cima da lorota de que representava uma nova forma de fazer política, sem conchavos e trocas de favores no Congresso Nacional. Uma mentira que não tardou a cair por terra na primeira crise séria enfrentada pelo governo, ainda em 2020. É sob esse prisma que a prestigiada revista The Economist traça um panorama da crise política brasileira, cujo personagem central, o ocupante do Planalto, recorre sem medo à velha política do “toma lá da cá” para se agarrar ao poder e evitar responder por seus crimes durante a pandemia.
A revista observa que o cerco se fecha ao presidente, acuado por uma acentuada queda de popularidade e por uma CPI cada vez mais próxima de descortinar suas omissões na pandemia que devastou o país e ceifou a vida de mais de 455 mil brasileiros.
A Economist menciona a distribuição de bilhões em emendas parlamentares no ano passado no melhor estilo da “velha política” – e a CPI da Covid como os dois eixos da crise governista. “As duas crises demonstram como Bolsonaro tem se enfraquecido cada vez mais e como o Congresso, conhecido pelo oportunismo endêmico, usou essa vulnerabilidade do presidente para se fortalecer”, relata a reportagem.
De acordo com a publicação, a situação de Bolsonaro é muito pior do que em 2020, quando um terço dos brasileiros recebeu auxílio emergencial e em um valor mais alto do que o pago atualmente, de apenas R$ 200. “Este ano, a segunda onda da doença coincidiu com uma alta na inflação, a lentidão na vacinação e uma redução nos benefícios oferecidos pelo governo”, analisa a revista, lembrando ainda que a aprovação de Bolsonaro caiu de 40% para menos de 30%.
CPI da Covid
A Economist volta a atenção para a recente instalação da CPI da Covid, cuja incógnita em relação a seus resultados preocupa o Planalto. “Uma ameaça maior à popularidade de Bolsonaro é a CPI, que começou os depoimentos no Senado este mês”, aponta a reportagem. “As sessões diárias são transmitidas ao vivo na TV, criando um macabro relato oral da história do desastre brasileiro na pandemia”, observa a Economist.
A revista ressalta que a comissão já começou a apontar as omissões de Bolsonaro na pandemia, como a aposta na imunidade de rebanho e na cloroquina, “promovida por Donald Trump”, e a recusa em aceitar ofertas de vacinas da Pfizer.
A revista conclui a reportagem prevendo que a queda de popularidade do líder de extrema direita pode complicar os planos de uma reeleição em 2022.
“As pesquisas mais recentes mostram queda no apoio ao presidente em quase todos os segmentos do eleitorado, incluindo entre seus defensores mais convictos, como os evangélicos”, aponta a Economist, destacando ainda que os recentes levantamentos apontam para um favoritismo do ex-presidente Lula no pleito de 22.
Da Redação