De onde estou, enxergo uma fortaleza de pouco mais de 1,70 metros. Um gigante de 72 anos, do tamanho de sua história. Durante 40 dias tive a honra de acompanhar, para a RBA e a TVT, Lula por suas caravanas, percorrendo mais de uma centena de cidades no Brasil. Dessas coisas que a vida nos proporciona e só nos resta agradecer.
De onde estou, vejo o homem contemplando os milhares que vieram só para abraçar o gigante. De onde estou ouço sua voz contundente desafiar os ruídos dos helicópteros que sobrevoam baixo como nunca, e tentam em vão abafá-la.
Ele contempla o céu azul, as árvores que fazem sombra ao caminhão de som de onde se celebra uma missa em homenagem ao aniversário da sua querida companheira Marisa Letícia, morta há um ano. Lula contempla a liberdade e sente o calor do povo, o que querem tirar dele.
Daqui vejo o olhar doce, manso, que tantas vezes, do chão, vi, no palco, do gigante que se alimenta desse tanto de amor e energia.
Num silêncio encantado o povo ouve suas palavras que despejam sabedoria. E olhares fixos de admiração – como os que o acompanham e ouvem nesse ato que também representa um até logo.
O gigante que fala, não é um ser inalcançável, mas um igual, um trabalhador nobre, digno, que nunca esqueceu dos seus.
Gritos de “não se entrega” e ele sorri. Conta causos com humor quando isso seria considerado impossível. Faz rir.
Enquanto fala ou enquanto observa o público, está sempre atento aos detalhes. Enxerga alguém passando mal na multidão, para de falar e pede ajuda. Aproxima o microfone de dom Angélico Sândalo, para que todos possam ouvi-lo melhor.
Lula passou a vida pensando mais nos outros. Ele mesmo sempre veio depois. Depois das greves para tornar menos injustas a distribuição de renda e as relações de trabalho nesse país. Depois da luta por justiça social. Depois da labuta diária para construir um Brasil que realmente pudesse chamar de nação, para todos.
Mas nem todos queriam que fosse assim. E o gigante segue forte, firme, mas cercado. Lula, novamente, não pensará nele.
Suponho que sua decisão de permitir que o parcialíssimo sistema de Justiça execute a decisão de prendê-lo, tem por base fortalecer o projeto para o qual dedicou a vida. Entrega sua liberdade para não arriscar nenhuma das milhares de vidas que o acompanham aqui e em todo o Brasil. Entrega seus próximos dias pelo Brasil que ainda vai ser. E será, por ele, com as pernas, as vozes, a luta, a dedicação, de cada um de nós que também queremos esse Brasil.
Se você que lê esse texto também treme de indignação cada vez que vê uma injustiça, então somos companheiros e lutaremos todos os dias a luta de Lula. Enquanto ele precisar. Porque o gigante terá de cuidar de si, para voltar ainda maior.
Por Cláudia Motta, da RBA