A precarização das relações trabalhistas e o baixo patamar dos rendimentos ainda são a principal marca do mercado de trabalho brasileiro, mesmo com uma leve queda do número de pessoas desocupadas. É o que apontam os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta terça-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Conforme a pesquisa, no trimestre encerrado em abril, o rendimento médio real do trabalhador (R$ 2.566) se manteve 7,9% abaixo do registrado no mesmo período de 2021 (R$ 2.790). “Embora tenha havido crescimento da formalidade, não foi observada expansão do rendimento médio real do emprego com carteira assinada no setor privado. Além disso, houve queda no rendimento do setor público”, explicou Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE.
Segundo a pesquisadora, a renda média estagnada próxima ao patamar mais baixo da série histórica se deve à dificuldade de reposição da inflação aos salários, o que corrói o poder de compra dos trabalhadores. E também à abertura de vagas com remunerações mais baixas, mesmo com o avanço da carteira assinada.
Em abril, apenas 8% das categorias obtiveram resultados acima do INPC/IBGE, indicador referência para as negociações salariais no país, aponta boletim do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É a menor proporção de reajustes com ganhos reais em 2022 e a segunda menor proporção nas últimas 15 datas-bases, acima apenas de novembro de 2021.
Já a massa de rendimento real habitual (R$ 242,9 bilhões) cresceu frente ao trimestre anterior, mas ficou estável na comparação anual. Como o aumento do contingente de pessoas ocupadas foi estimado em 1,1% no trimestre (1,1 milhão) e 10,3% em um ano (9,0 milhões), isso representa mais trabalhadores disputando a mesma massa de rendimento, que está em nível bem inferior ao do pico pré-pandemia (R$ 259,1 bilhões)
“No panorama do trimestre, a massa de rendimento aumentou em função da expansão da ocupação. No ano, embora tenha havido um crescimento expressivo da população ocupada, houve retração do rendimento, fazendo com que a massa fique estável apesar do número muito maior de pessoas ocupadas”, contextualiza a pesquisadora.
Sem rendimento, famílias aumentam procura por emprego
A corrosão da renda das famílias ajuda a explicar a maior procura por emprego. “É possível que em função de um rendimento individual menor via trabalho, mais pessoas acabem buscando trabalho. É uma hipótese”, comentou Beringuy.
No trimestre de fevereiro a abril, a força de trabalho (ocupados e desocupados) cresceu 0,4% (384 mil pessoas) em comparação ao trimestre de novembro a janeiro, e 5,1% (5,2 milhões) frente ao mesmo trimestre de 2021. Estimado em 107,9 milhões de pessoas, é o maior contingente da força de trabalho da série, iniciada em 2012. O número de pessoas ocupadas chegou a 96,5 milhões e o de desempregados é 11,3 milhões.
O número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada somou 35,2 milhões, subindo 2% (mais 690 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e 11,6% (mais 3,7 milhões) em um ano. Em contrapartida, o número de empregados sem carteira assinada (12,5 milhões) é o maior da série história do IBGE. Esse contingente cresceu 20,8% (2,2 milhões de pessoas) em um ano.
Apesar do recuo para 40,1% da população ocupada, contra 40,4% no trimestre anterior, a taxa de informalidade ainda ficou acima da registrada no mesmo período de 2021 (39,3%), reunindo 38,7 milhões de pessoas. São 3,5 milhões de trabalhadores informais a mais que os formalizados.
Estável na comparação com o trimestre anterior, o número de trabalhadores por conta própria (25,5 milhões de pessoas) subiu 7,2% (mais 1,7 milhão) no ano. O número de trabalhadores domésticos (5,8 milhões de pessoas) também se mantém estável em relação ao trimestre anterior, mas subiu 22,7% (mais 1,0 milhão) no ano.
“O avanço da cobertura pelas vacinas fez com que a atividade econômica e social voltasse ao nível anterior a março de 2020, quando se registraram os primeiros óbitos pela doença. Por conta disso, há melhora nos indicadores de ocupação no Brasil, embora com maior precariedade e informalidade”, ressalta o Dieese em seu Boletim de Conjuntura maio/junho.
“Como planejado e executado, o conjunto de ações da chamada “ponte para o futuro” resultou, desde 2016, no rebaixamento progressivo do padrão de vida da classe trabalhadora no Brasil”, prossegue o documento. “Esse cenário de destruição se tornou ainda pior com a persistente pandemia e o morticínio decorrente da atuação (ou falta de atuação) do governo federal, e com a escalada inflacionária, impulsionada pela guerra na Ucrânia”, concluem os técnicos do Dieese.
Da Redação, com informações de IBGE e Dieese