Com crise, economia já influencia voto de 77% dos eleitores, diz Datafolha

Total de pessoas que veem piora da conjuntura subiu de 46% para 52%. Apenas 21% dos entrevistados dizem não sofrer influência da economia na escolha do candidato

Foto: Roberto Parizotti

A máxima política estadunidense – “é a economia, estúpido” – se impõe a cada sondagem eleitoral divulgada no Brasil. Desta vez, é a pesquisa Datafolha a revelar que a maioria da população considera a situação econômica do país determinante na escolha de seu candidato presidencial. Para esse contingente, que vem crescendo, o quadro econômico nacional tem se deteriorado nos últimos meses.

Os dados, apresentados nesta segunda-feira (30), mostram que 53% dos brasileiros consideram que a situação econômica tem “muita influência” na decisão de voto, e mais 24% acham que tem “um pouco de influência”. Ao contrário desses 77%, 21% não veem “influência alguma”. A influência da economia atinge níveis maiores entre mais jovens (85%), mais instruídos (87%) e homens (80%). Entre as mulheres, o percentual é de 74%.

O total de brasileiros que consideram que sua situação econômica pessoal piorou nos últimos meses subiu de 46% para 52% entre março e agora. Os que acham que sua condição se manteve são 29%, contra 34% há dois meses. Aqueles para quem o cenário melhorou se manteve em 19%. Já os que avaliam que a situação econômica do país piorou continuam no mesmo patamar de março: (66%), ou dois em cada três eleitores.

Entre os que captaram a piora na conjuntura nacional, a taxa é mais alta entre as mulheres (71%) dos que entre os homens (61%). Também é alta entre moradores do Nordeste (72%) e entre os eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (84%). Entre os simpatizantes de Jair Bolsonaro, o índice é de 27%. Dos que reprovam o desgoverno Bolsonaro, 91% viram tudo piorar desde março.

A pesquisa também aponta que sete em cada dez eleitores não mudariam o voto se piorasse a situação econômica do país, ou a de alguns indicadores econômicos. Mas no caso dos eleitores de Bolsonaro, a possibilidade de mudarem o voto devido a uma piora é quase dez pontos percentuais maior do que entre simpatizantes de Lula. Enquanto 32% dos bolsonaristas poderiam mudar o voto, apenas 23% dos lulistas fariam isso.

Decadência socioeconômica é determinante na percepção pública

Os persistentes 12 milhões de desempregados, com a maioria da força de trabalho ativa na informalidade, uma crescente inflação de dois dígitos usurpando a renda das famílias e a equivalente taxa básica de juros (Selic) travando a atividade econômica, ajudam a explicar o fraco desempenho eleitoral de Bolsonaro até agora.

Segundo o Datafolha, se a eleição fosse hoje, Lula venceria no primeiro turno, com 54% dos votos válidos, contra 30% de Bolsonaro. Nas simulações de segundo turno, Lula teria 58% das intenções de voto, contra 33% de Bolsonaro.

A derrota nas urnas faria do atual chefe do Executivo o primeiro presidente a não se reeleger entre todos os que puderam concorrer, desde a redemocratização, a um segundo mandato. Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff se reelegeram.

Os casos confirmam a tese do economista e marqueteiro James Carville, criador do slogan “É a economia, estúpido!”, que garantiu a vitória do democrata Bill Clinton contra a reeleição do republicano George Bush (pai) em 1992. Carville observou, corretamente, que os estadunidenses estavam mais preocupados com crise econômica, carestia e dificuldade em comprar imóveis do que com a atuação ianque na Guerra do Golfo.

Enquanto Bush adotava o discurso de exaltação da segurança nacional e da soberania militar, Clinton passou a repetir a frase em todos os eventos de campanha, fazendo-a “viralizar” em um momento pré-redes sociais. A vitória foi acachapante.

No Brasil, Bolsonaro, contumaz descumpridor de promessas da campanha de 2018, quando admitiu “não saber e nem querer saber” de nada de economia, deixa o “posto Ipiranga” tocar a lojinha enquanto tenta avançar na cartilha neofascista de Steve Bannon. E o ministro-banqueiro Paulo Guedes arrasa a economia ao mesmo tempo que depreda o patrimônio público privatizando estatais estratégicas para o país.

Para se evadir da responsabilidade pelo empobrecimento da população, Bolsonaro mantém a exaltação do patriotismo oco, do conservadorismo religioso, da “guerra cultural” e do armamentismo diante da volta da fome e da insegurança alimentar. Já Lula se beneficia das boas memórias de seus dois governos, quando todas as classes sociais prosperaram.

Da Redação

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