Das ruas do Padre Eustáquio, um dos mais tradicionais bairros de Belo Horizonte, a infância corria sem grandes preocupações para o pequeno Israel de Oliveira. O primogênito filho da dona de casa Tânia e do marceneiro Samuel não tinha tudo o que sonhava, mas os pais jamais lhe deixavam sentir os problemas financeiros que a família enfrentava. “Naquela época, eu nem sabia que era pobre”, lembra.
Mas a vida da família, como outras muitas espalhadas pelo Brasil, passou a sofrer com a falta de oportunidades e com a crise sem fim que assolava o país durante a década de 1990. O preço da comida, que era um de manhã, subia de preço durante a tarde e baixava novamente durante a noite. A inflação, o desemprego e a iminente falta de perspectiva fizeram a família deixar o estruturado e histórico Padre Eustáquio para viver nas periferias da capital mineira. “Foi então que eu percebi que eu era pobre”.
Israel tinha 12 anos e, às portas de uma precoce vida adulta, passou a sentir a necessidade de lutar para manter a família. Para isso, escolheu o caminho mais difícil: queria entrar numa universidade. “Minha mãe não quis me desanimar, mas deixou claro que uma família pobre não poderia se iludir com faculdade. Por isso, eu comecei a trabalhar”.
A aptidão para trabalhos manuais fez o agora jovem Israel começar a ajudar o pai nos trabalhos de marcenaria desenhando pequenos projetos para os clientes. “Aquilo não me desanimou. Pelo contrário. Me mostrou que eu poderia cursar algo relacionado à criatividade. Foi a partir daí que eu descobri a comunicação e posteriormente a publicidade”.
Logo que concluiu os estudos nas escolas públicas de BH, Israel começou a se inscrever nos vestibulares de universidades públicas. Pagar estava fora de cogitação, lembrava sempre a dona Tânia. “Era uma concorrência desleal, porque eu não tinha a mesma formação de outros estudantes vindos de escolas particulares e que ficavam com praticamente todas as vagas das universidades públicas. Por isso, mesmo sem ter a certeza de que iria entrar no curso, comecei a me inscrever também nos vestibulares de instituições privadas”, conta.
Na primeira tentativa, Israel se inscreveu em cinco vestibulares e passou em todos. Mas ficou por isso mesmo. “Foi uma frustração muito grande porque eu ganhei, mas não levei”. Ele, no entanto, não desistiu. Na segunda leva de provas, passou novamente em todos em que havia se inscrito e, quando estava prestes a desistir novamente, descobriu o Prouni.
O projeto criado pelo governo Lula entrou em vigor em 2005 com a árdua missão de conceder bolsas de estudos integrais ou parciais em cursos de graduação em instituições privadas de ensino. Até 2013, mais de 1 milhão de jovens já haviam se beneficiado da medida. Israel foi um deles: “Não fosse o Prouni talvez hoje eu não tivesse no lugar que estou, com um emprego fixo, trabalhando na área e ainda podendo ajudar a minha família como sempre sonhei”.
Israel, que tem duas das três irmãs também beneficiárias do programa petista de inclusão no ensino superior, teme que os desmontes promovidos pelo governo golpista de Michel Temer reduzam também as esperanças dos brasileiros em entrar para uma faculdade. “A esquerda precisa se unir, se reinventar e manter a luta contra tudo o que o governo ilegítimo tem feito com o país. Não podemos mais permitir novos retrocessos”, invoca, com a segurança de quem sabe que não há revolução sem inclusão social.
“O Prouni deu uma nova perspectiva de vida para mim e para a minha família. Eu sou grato a isso, mas a luta ainda não acabou. Agora é hora de lutar pra que outros brasileiros tenham a mesma oportunidade que eu. O Brasil precisa voltar a ser o que era até pouco tempo atrás”, conclui.
Por Henrique Nunes, da Redação da Agência PT de Notícias