Partido dos Trabalhadores

“O PT, certamente, sairá maior nessa eleição do que entrou”, diz diretor do Instituto Ver

Cientista político Malco Camargos prevê polarização reduzida nas eleições municipais de outubro. “Ela vai estar localizada, principalmente, nas maiores cidades”, antecipa

Reprodução/TvPT

Para Camargos, a diversidade representada por mulheres, negros, indígenas e LGBTs terá cada vez mais receptividade

O cientista político Malco Camargos, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia, concedeu entrevista, nesta quinta-feira (11), à TvPT. Ele esmiuçou o atual cenário político nacional e falou das expectativas em relação às eleições municipais desse ano, previstas para outubro. Na avaliação do professor, o pleito deve ampliar a representatividade do Partido dos Trabalhadores (PT). “O PT, certamente, sairá maior nessa eleição do que entrou”, aposta.

“O governo federal, seja quem for o presidente, tem um papel importante, porque as pessoas vivem as políticas públicas nos municípios, mas os recursos são concentrados na União. […] Então, o fato do Brasil hoje ser governado por alguém que é de esquerda acaba dando uma narrativa para candidatos de esquerda que é: ‘eu tenho mais acesso ou mais capacidade de fazer as nossas demandas chegarem ao governo federal’. Isso significa acesso a recursos para implementação de políticas públicas. Isso pode, sim, fazer a diferença”, analisa.

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Camargos argumenta que o período da pandemia serviu para que os brasileiros compreendessem a necessidade de voltarem a escolher políticos experientes, dada a negligência, sob todos os aspectos, com que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) geriu a crise sanitária no país, ultrapassando a infeliz marca de 700 mil mortos. Para o diretor do Instituto Ver, os eleitores não estão mais interessados em alguém “novo”.

“Até as jornadas de junho de 2013, o eleitor buscava políticos que tivessem, de fato, uma história de entrega de políticas públicas […], valorizavam a experiência, valorizavam o resultado da vida política. De junho de 2013 para frente, foi a desqualificação dos políticos, como se todos fossem contra o povo. O resultado foi a busca da novidade. E a busca da novidade foi o que pautou o pleito de 2016, de 2018, de 2020. Aí veio a pandemia”, explica.

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Polarização

De acordo com o cientista político, a variável da polarização permanece presente nas pesquisas eleitorais e não está orientada pelas divergências a respeito de políticas públicas ou mesmo da pauta de costumes. “A polarização se dá se você é a favor do Lula ou se você é a favor do Bolsonaro”, pontua Camargos, antes de assegurar não haver muitas diferenças entre os eleitores dos dois.

“A polarização não é um diabo tão feio quanto parece. E por que temos que tratar como um diabo? Porque ela tira da pauta, da discussão, o que, de fato, importa. […] Ela vai estar presente? Vai. Na mesma intensidade de 2022? Não, menor, e vai estar mais localizada. Ela vai estar localizada, principalmente, nas maiores cidades”, antecipa.

Questionado sobre a receptividade do eleitorado a candidaturas de mulheres, negros, indígenas e LGBTs, Camargos respondeu que o cenário é favorável. “Cada vez mais. Não só pelos avanços da legislação, mas também pelo avanço do próprio eleitorado, reconhecendo que a política não pode continuar no lugar que estava, de homens, brancos, com curso superior […] não é essa a diversidade da sociedade brasileira.”

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Pesquisas confeccionadas pelo Instituto Ver revelaram que, em 2024, os eleitores brasileiros estão mais preocupados com saúde, infraestrutura, mobilidade urbana e segurança pública.

Big techs

Enquanto as big techs não forem reguladas e responsabilizadas, afirma o diretor do Instituto Ver, o sectarismo continuará avançando no Brasil e no mundo. Camargos ressaltou que a extrema-direita opera de maneira semelhante em todas as partes: irrompe em meio a crises econômicas próprias do capitalismo, sempre mirando um inimigo em comum, como, por exemplo, os imigrantes.

“E o terceiro elemento também é chave para entender isso, a rede social, no qual os algoritmos colocam perto de si pessoas que têm opinião mais ou menos iguais. Mesmo que elas sejam muito distantes da média da sociedade, para aquele grupo, acha uma aderência forte, uma concordância em relação a tudo aquilo que ele posta e que ele lê na rede social. […] O resultado é esse: o grupo vai crescendo, vai se multiplicando e vai ocupando espaço significativo na sociedade”, descreve.

“Ainda em minoria, mas […] a continuar sem controle e sem punição das big techs, das grandes empresas de tecnologia, o resultado será a expansão, cada vez mais, da extrema-direita”, prossegue.

Economia

Camargos também elogiou os esforços do governo Lula para manter o equilíbrio fiscal sem abrir mão das políticas sociais, com foco naquilo que é crucial para o país a despeito de divergências ideológicas, algo que Bolsonaro foi incapaz de fazer. Por isso, entende o professor, o capitão não saiu reeleito, mesmo dispondo da máquina pública em seu favor.

“A economia continua sendo importante. E aí está a grande aposta do governo Lula: a diminuição da taxa de desemprego, a promoção do crescimento do país e a briga com a taxa de juros. É exatamente para tentar entregar […] bem-estar econômico para as pessoas”, conclui.

Da Redação