Pesquisa feita pela empresa Famivita, que desenvolve produtos relacionados à fertilidade, mostra que as mais prejudicadas pela crise provocada pela pandemia do coronavírus no Brasil são as mulheres que têm filhos pequenos.
Segundo o estudo, 35% das brasileiras perderam empregos durante a pandemia, incluindo as trabalhadoras informais. Entre as mães com filhos pequenos, o percentual sobe para 39% – outros 52% perderam renda.
Também de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, sete milhões de mulheres abandonaram o mercado de trabalho na última quinzena de março, quando começou a quarentena. São dois milhões a mais do que o número de homens na mesma situação.
Enquanto as mulheres estão numa taxa de desemprego de 14% os homens estão em 12%.
Outro problema vivido pela maioria das mulheres com filhos pequenos é a recolocação, pois elas não tem com quem deixar os filhos. “Eu não sei o que seria se eu conseguisse um emprego porque eu não tenho com quem deixar o Pedro. As escolas estão fechadas, meu marido trabalhando e ainda tem a questão da pandemia”, diz a advogada trabalhista, Michele Morais, autônoma e mãe do Pedro de 3 anos e 6 meses, que aderiu ao isolamento social em março e com as escolas fechadas já não tinha com quem deixar o filho.
“Antes de começar a trabalhar nesse escritório eu fui fazer uma entrevista em uma empresa que estava fazendo a seleção e a mulher perguntou se eu queria ter outros filhos e se eu tinha quem fosse buscar ele na escola caso ele ficasse doente. Eu sai de lá liguei para meu marido e falei que lá era um lugar que não servia pra mim. Duvido que estas perguntas seriam feitas se o candidato fosse homem”, questionou Michele.
As mulheres deveriam ter o Estado como seu aliado na manutenção da vida e não como o seu algoz
Crise prejudica mais mulheres
A socióloga da subseção do Dieese da CUT Nacional, Adriana Marcolino, diz que a crise no mercado de trabalho já vinha afetando mais as mulheres e piorou com a pandemia.
“As mulheres já estavam enfrentando esta crise no mercado de trabalho antes mesmo da pandemia e neste novo momento, com isolamento social e o fechamento das escolas, o cenário se aprofunda. Isso porque a questão dos cuidados são ainda mais necessários e são elas, ainda, as responsáveis, em grande maioria, por esta função”, explica Adriana.
A informalidade e o trabalho precário são outros fatores que prejudicam a mulher no mercado de trabalho, segundo a economista, doutora em desenvolvimento econômico, pesquisadora e assessora sindical na área de trabalho e gênero.
Outra situação que agrava a crise social no país é a questão das trabalhadoras domésticas que concentra 7 milhões de mulheres, que foram imediatamente impactadas, especialmente as informais, dispensadas pelas patroas sem qualquer renda.
“O empregador simplesmente dispensou as mulheres que são autônomas ou sem registro em carteira porque não teve que pagar verbas rescisórias e elas não têm nem direito ao seguro desemprego. Elas se viram de um dia para o outro sem trabalho e sem renda e quando é mãe isso se agrava ainda mais”, destaca Marilane Teixeira, pesquisadora e assessora sindical na área de trabalho e gênero.
Geradoras de riquezas e penalizadas pelo Estado
Para a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista, as mulheres perdem os empregos porque os patrões e o capital acham que elas são prejuízos, sendo que na verdade elas são as grandes responsáveis pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de todos países do mundo. Segundo ela, as mulheres conseguem fazer o trabalho produtivo como também conseguem fazer o trabalho reprodutivo e ainda são penalizadas pelo Estado.
“O trabalho de reprodução humana e de manutenção da vida é responsável por 10% do PIB, ou seja, o que seria de responsabilidade do Estado é na verdade realizado pelas mulheres de forma gratuita gerando riqueza social. Ao fazer isso, as mulheres são penalizadas pelo capital e pela sociedade, a medida em que são as primeiras a perder o emprego e estão nos trabalhos mais mal remunerados e precários “, afirma Juneia.
“As mulheres deveriam ter o Estado como seu aliado na manutenção da vida e não como o seu algoz”, ressalta.
Da Redação com site da CUT