Em entrevista concedida ao jornal italiano La Stampa, publicada na sexta-feira (9), o Papa Francisco criticou o nacionalismo exacerbado e os efeitos do populismo.
“O soberanismo é uma atitude de isolamento. Estou preocupado porque se ouvem discursos que se assemelham aos de Hitler em 1934. ‘Primeiro nós. Nós… nós…’: são pensamentos que dão medo. O soberanismo é fechamento. Um país deve ser soberano, mas não fechado. A soberania deve ser defendida, mas também devem ser protegidas e promovidas as relações com os outros países, com a Comunidade Europeia. O soberanismo é um exagero que sempre acaba mal: leva às guerras”, afirmou o líder religioso.
Para o Papa, o exagero na defesa das identidades pode resultar em posturas isolacionistas. “A identidade é uma riqueza – cultural, nacional, histórica, artística –, e cada país tem a sua própria, mas deve ser integrada ao diálogo. Isto é decisivo: a partir da própria identidade, é preciso abrir-se ao diálogo para receber algo maior das identidades dos outros. Nunca nos esqueçamos de que o todo é superior à parte.”
O Papa também falou a respeito do Sínodo da Amazônia, encontro que será realizado em outubro tendo como tema “Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral”. “Quem não a leu nunca entenderá o Sínodo sobre a Amazônia. A Laudato si’ não é uma encíclica verde, é uma encíclica social, que se baseia em uma realidade “verde”, a proteção da Criação”, disse.
Sínodo da Amazônia
Em fevereiro, reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revela que informes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e dos comandos militares alertava para a realização da conferência, vendo as pautas como “agenda da esquerda“. O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirmou que o governo estava “preocupado” com a os preparativos para aquele encontro da igreja católica mundial. “Queremos neutralizar isso aí”, declarou o responsável pela contraofensiva. Outro militar da equipe de Bolsonaro afirmou à reportagem, em condição de anonimato, que o Sínodo vai contra toda a política do governo para a região e deverá “recrudescer o discurso ideológico da esquerda”.
Em relação à preservação do meio ambiente, o Papa se mostrou preocupado após o Dia da Sobrecarga da Terra, que alerta quando a capacidade de renovação da natureza atinge o limite, ter sido antecipado em três dias neste ano em relação a 2018. “No dia 29 de julho, esgotamos todos os recursos regeneráveis de 2019. A partir de 30 de julho, começamos a consumir mais recursos do que aqueles que o planeta consegue regenerar em um ano. Isso é gravíssimo. É uma situação de emergência mundial. E o nosso sínodo será de urgência. Mas atenção: um sínodo não é uma reunião de cientistas ou de políticos. Não é um Parlamento: é outra coisa. Ele nasce da Igreja e terá uma missão e uma dimensão evangelizadoras. Será um trabalho de comunhão guiado pelo Espírito Santo.”
“A ameaça da vida das populações e do território deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, disse, sobre os obstáculos à salvaguarda da Amazônia. Para ele, a política deve “eliminar as próprias conivências e corrupções. Ela deve assumir responsabilidades concretas, por exemplo sobre o tema das minas a céu aberto, que envenenam a água provocando tantas doenças. Depois, há a questão dos fertilizantes”.