Partido dos Trabalhadores

Paulo Ricardo Barbosa de Lima: Tempestade à vista

Ou o PT muda com inteligência ou será responsável por uma terrível derrota nas próximas eleições gerais

EBC

A corrida eleitoral de 2018 já começou e este será o pleito mais importante da história, porque definirá os rumos da política econômica e da inclusão social num contexto altamente estratégico, que envolve os recursos do Pré-Sal, a janela demográfica e a reconfiguração da ordem global.

Creio que uma das principais tarefas do 6º Congresso do PT é reabrir o debate programático sem perder de vista a urgência tática da vitória progressista nas próximas eleições. Dentro desse escopo é muito difícil (mas absolutamente necessário) abordarmos a imensa responsabilidade do Partido na construção do novo Brasil já que é a maior força de esquerda.

Para onde o PT apontar, o campo progressista caminhará. E isso não é motivo de orgulho, mas de enorme responsabilidade, sobretudo diante dos equívocos cometidos no poder, que redundaram na atual onda protofascista. Em outras palavras, se o PT acertar, nesse exato momento, as chances de vitória aumentam, mas se o PT errar em seus cálculos naufragará levando consigo parte considerável do campo progressista.

Isso é muito sério, principalmente na atual conjuntura.

Sabemos que Michel Temer é carta fora do baralho. É uma figura inexpressiva, sem votos, sem legitimidade democrática, sem base social. Uma figura egocêntrica que rastejava nos porões do poder e patrocinou uma conspiração, aplicando um golpe branco contra Dilma Rousseff e contra o próprio país. Temer ou um possível candidato do PMDB em 2018 são inviáveis. A direita também sabe disso e busca desesperadamente outro representante. Surge nessa seara, por exemplo, as figuras de Henrique Meirelles (muito insípida), Geraldo Alckmin (absolutamente provincial) e João Dória (um marqueteiro populista), já que Aécio Neves está cada vez mais chafurdado no lamaçal das delações premiadas.

Por outro lado, o campo progressista encontra-se perdido. Não sabe o que fazer e desde as Jornadas de Junho de 2013 demonstra imensa dificuldade de compreensão dos últimos fenômenos sociais. Evidentemente, por não compreender adequadamente, encontra-se desnorteado sem saber para onde ir.

Nos últimos dias uma miragem alegrou o coração dos progressistas: a subida de Lula nas pesquisas eleitorais. Com liderança em todos os cenários possíveis, Lula mais uma vez aparece como solução pronta para todos os nossos problemas e é claro que isso nos alegra, principalmente por nos manter confortáveis. Lula é um mito, o presidente mais popular da história, ele encarna o sucesso do projeto de inclusão social. Todavia, meu papel aqui é um papel crítico. Trarei, sem medo da dor (e de forma cruel) a crítica necessária, uma dupla provocação.

A primeira provocação é: e se Lula perder?

Por ser quem é, uma derrota de Lula nas eleições de 2018 não seria apenas a derrota do candidato do PT, mas a derrota de todo projeto emancipatório. Uma derrota simbólica. Quais seriam as repercussões no campo progressista brasileiro? Quais seriam os efeitos no campo progressista latino-americano?

Por mais que nos alegre a possibilidade de reeleger Lula (por tudo o que representa e por ser uma resposta aguda à onda reacionária) é preciso ponderar a hipótese da derrota e como isso repercutiria no horizonte histórico. A esquerda sabe que não pode perder 2018, porque se isso ocorrer, o processo de desmonte dos direitos sociais será aprofundado, radicalizado, e o futuro da nação será comprometido a um ponto quase irreversível. Há muita coisa em jogo, e no auge da alegria imaginativa de ver “Lula lá de novo” ninguém mencionou que os institutos de pesquisa apontam alta rejeição, algo em torno de 45%. Como essa rejeição se comportaria num possível segundo turno? Eis a questão.

Não dá dúvidas de que o processo violento de ataque a Lula e ao PT conduzido pela grande mídia e pelo status quo não somente continuará, como se intensificará, especialmente para tornar Lula inelegível. E uma vez chancelada pelas urnas, a sanha golpista desmontará todos os avanços sociais dos últimos anos. Não restará pedra sobre pedra, ou alguém duvida disso?

Submeter a história de Lula e das lutas sociais à hipótese de uma derrota nessa envergadura, é no mínimo egoísmo.
A segunda provocação é: e se Lula ganhar, como se dará a governabilidade?

Perdoem-me a acidez, mas quem será o candidato a vice de Lula? Romero Jucá? Com que política de alianças o partido pretende avançar numa hipotética conjuntura em 1º de janeiro de 2019? O país permanecerá dividido? A classe-média do sudeste aceitará a vitória eleitoral de Lula? Como se comportará a FIESP, por exemplo? Ressuscitaremos o malfadado “presidencialismo de coalizão?” ou será que Lula nomeará Henrique Meirelles ministro da Fazenda?

Faço tais provocações com muito respeito, sem agressividade, para nos fazer pensar um pouco mais sobre a atual conjuntura… para desentocar o pensamento.

Pessoalmente acredito que o papel atual de Lula é muito maior, muito mais amplo. Lula, a meu ver, não deve se submeter a uma nova candidatura, porque é estadista, é um líder global, não um mero candidato. Lula já não é somente o Lula do PT. Lula é o Lula do Brasil, Lula é o Lula da América Latina, Lula é o Lula do mundo e isso é mais amplo do que nós.

O papel de Lula é abrir discussões, mobilizar, puxar o debate nacional, contribuir decisivamente para um projeto alternativo de desenvolvimento econômico e social, e isso, meus caros, é muito mais importante do que pedir votos.

É uma irresponsabilidade sem tamanho imaginar que o campo progressista enfrentará o pleito de 2018 com quatro ou cinco candidatos diferentes. Isso é um absurdo, isso é inviável, principalmente porque corremos o risco de repetir o cenário eleitoral de 1989, isto é, grande pulverização de candidaturas. Se isso ocorrer, assistiremos boquiabertos à ascensão de um novo Collor ou um Trump brasileiro: Jair Bolsonaro, Roberto Justus, João Dória ou outra bizarrice reacionária.

Não tenho medo de dizer que numa conjuntura tão complexa, o PT deve debater abertamente a possibilidade de ceder a cabeça de chapa para um candidato comprometido com o campo progressista e aproveitar os próximos quatro anos para realizar o debate estratégico, reconstruindo as bases sociais com vistas à disputa de 2022.

Isso não é demérito, não é recuo.

Isso é inteligência e compromisso com o povo.

Por Paulo Ricardo Barbosa de Lima, advogado, bacharel em direito, bolsista do PROUNI. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, é fundador do Fórum Nômade de Educação e Arte, bem como militante dos direitos humanos em Itaquera, zona leste de São Paulo/SP, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.