Um dos últimos pilares do desgoverno Bolsonaro, as Forças Armadas começam a sentir o ônus do apoio incondicional ao projeto de poder do ex-capitão convidado a se retirar do Exército. Após a passagem calamitosa do general Eduardo Pazuello pelo Ministério da Saúde, pesquisa publicada no portal ‘Poder 360’ aponta crescimento de dez pontos percentuais entre as pessoas que consideram negativa a presença dos fardados entre ministros e ocupantes de cargos chave nessa administração.
Pela primeira vez, o número dos que rejeitam essa participação no desastre histórico é a mais alta na pesquisa: 45% avaliam como “ruim” a presença de militares no governo e na política. Em contrapartida, houve queda de oito pontos percentuais entre os que afirmam que a participação de integrantes das Forças Armadas na administração federal é positiva. Agora, são 35% dos entrevistados.
A pesquisa, realizada entre 26 a 28 de abril, com 2.500 pessoas em 482 municípios nas 27 unidades da Federação, foi feita pelo PoderData, a divisão de estudos estatísticos do Poder360. A última pesquisa ocorreu em julho de 2020, quando já se prenunciava a catástrofe em que a pandemia do coronavírus se transformaria no Brasil.
Cotejada por região, os moradores do Nordeste (56%) são os que mais rejeitam a participação dos militares, enquanto 75% dos que vivem no Norte ainda os apoiam. Enquanto 56% dos que recebem de dois a cinco salários mínimos, 57% dos que recebem de cinco a dez, e 71% entre os que recebem mais de dez mínimos consideram ruim a presença dos fardados, 44% dos que não têm renda fixa são favoráveis.
Entre os que aprovam Bolsonaro, 71% dizem que a presença marcial na política é positiva para o país. No grupo que rejeita o chefe do Executivo, são 70% os que dizem ser negativa.
No último fim de semana, os apoiadores de Bolsonaro foram às ruas se manifestar, numa tentativa de contraponto ideológico às celebrações do Dia Internacional do Trabalhador. Para o ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, os atos “dão forças” para Bolsonaro se manter no poder.
“O povo trabalhador continua ao lado daquele que nunca o abandonou e sempre defendeu o direito ao trabalho. Essa é a mensagem das ruas nesse 1°de maio“, publicou Ramos, evocando a queda-de-braço de Bolsonaro contra as medidas de restrição social adotadas por governadores e prefeitos para deter o avanço da pandemia.
Acuado, Bolsonaro tenta reforçar vínculos
Acuado pelas investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que nesta semana ouve os ex-ministros da Saúde de Bolsonaro, incluindo Pazuello, Bolsonaro apela ao “patriotismo” de seus seguidores e tenta manter o vínculo com os militares que o cercam.
Nesta segunda (3), ele participa de encontro do Alto Comando das Forças Armadas na Escola Superior de Guerra (ESG), em Brasília. É a primeira reunião de oficiais-generais desde que Walter Braga Netto assumiu o Ministério da Defesa, no começo de abril. O compromisso conta com todos os oficiais-generais do último posto das Forças Armadas. Entre os temas da pauta, estão assuntos “conjunturais”.
No ‘Estado de São Paulo’ desta segunda, reportagem informa os resultados de levantamento feito com 115 contas ligadas ao ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas nas redes sociais. Foram encontrados 3.427 tuítes de caráter político-partidário postados entre abril de 2018 e abril de 2020, a maioria apoiando Bolsonaro.
Segundo o jornal, as postagens foram feitas por 82 integrantes das Forças Armadas, entre os quais 22 oficiais-generais – 19 generais, dois almirantes e dois brigadeiros. Entre os que fizeram postagens políticas está o brigadeiro Carlos Baptista Júnior, com 80 publicações em apoio a Jair Bolsonaro. As postagens foram feitas antes que ele fosse nomeado comandante da Aeronáutica.
Manifestações do gênero são proibidas pelo Estatuto dos Militares, além dos regimentos disciplinares internos e portarias de Exército, Marinha e Aeronáutica. O cientista político Eliezer Rizzo de Oliveira afirmou que as postagens demonstram a existência de um “ativismo militar, de um partido verde-oliva”. Oliveira defende o controle desse tipo de manifestação, porque “a aplicação das normas republicanas confronta o partido fardado, ao passo que a impunidade reforça a autonomia militar”.
Da Redação