Mesmo com a abertura líquida de 131.010 empregos com carteira assinada em julho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, a perda líquida de empregos ainda é de 1,435 milhão de vagas desde o início da pandemia do coronavírus, em março. No acumulado do ano até julho, o saldo do Caged ainda ficou negativo em 1,092 milhão de vagas, o pior desempenho para o período na série histórica do ministério, iniciada em 2002.
Os piores meses para o Caged na pandemia foram março, com perda de 263.177 vagas, abril, com a destruição de 927.598 empregos formais, e maio, com a demissão líquida de 355.933 trabalhadores. Em junho, a perda foi de 19.579 postos de trabalho. Das vagas eliminadas neste ano, mais da metade (594.617) é de trabalhadores com ensino médio completo. Mas houve redução em todos os níveis de escolaridade. Do total de empregos perdidos, 53,5% (584.868) são mulheres.
Entre os setores, o grupo de serviços, que inclui vendedores em lojas e mercados, cortou 633.221 vagas, com 2,074 milhões de contratações e 2,707 milhões de demissões. Em seguida, a área de serviços administrativos fechou 265.183 vagas. No recorte por idade, os jovens foram os únicos que tiveram crescimento de janeiro a julho. O que pode indicar a abertura de vagas menos qualificadas.
Inação do governo
Enquanto o Caged mostrou uma redução no ritmo de demissões, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que os seguem devastadores os efeitos sobre o mercado de trabalho da inação do governo em lidar com a crise econômica decorrente da pandemia. No segundo trimestre deste ano, o primeiro inteiramente sob os efeitos da crise sanitária, 8,9 milhões de pessoas ficaram sem qualquer tipo de ocupação.
Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), afirma que os dados do IBGE mostram uma continuidade na deterioração do mercado de trabalho. “O que me surpreendeu foi que não houve qualquer sinal de recuperação ou de desaceleração da piora do mercado de trabalho pela Pnad Contínua”, comentou o economista.
Segundo Duque, a Pnad Covid, que sai semanalmente, não tem dado nenhum indicativo ainda de recuperação robusta do mercado de trabalho. “Ou seja, as pessoas estão percebendo que, apesar do relaxamento das restrições, ainda não há nenhuma grande recuperação da economia e do emprego. Mas isso vai coincidir com a redução ou o com fim do auxílio emergencial, o que vai fazer com que muita gente volte a procurar emprego e isso vai pressionar bastante a taxa de desemprego”, avaliou.
O auxílio emergencial para trabalhadores informais tem um efeito positivo sobre a taxa de desocupação. Por isso, Duque diz que deverá haver uma aceleração da taxa de desemprego se não houver a prorrogação do benefício.
Conforme estimativas da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado Federal, o aumento do desemprego e a queda da renda nos próximos meses pode elevar o número dos requerentes do auxílio emergencial para trabalhadores informais dos cerca de 64 milhões atuais para 80 milhões de pessoas.
Recorde negativo
Se a economia já não estava bem antes, piorou com a pandemia da Covid-19. Em três meses, a taxa de ocupação encolheu 8,3%, ou 7,8 milhões de pessoas. A informalidade também caiu, de 40,6% para 37,6%, mas, segundo Adriana Beringuy, analista de pesquisa do IBGE, isso não é positivo. “Numericamente, nós temos uma queda da informalidade, mas isso não necessariamente é um bom sinal. Significa que essas pessoas estão perdendo ocupação e não estão se inserindo em outro emprego. Estão ficando fora da força de trabalho”, avaliou a pesquisadora.
O total de pessoas ocupadas no Brasil caiu para 85,9 milhões, e o de desempregados totalizou 87,6 milhões. Os números são os piores da série histórica da Pnad Contínua, que teve início em 2012. Pela primeira vez, os desempregados superam o número de ocupados. Esse recorde inclui a soma dos desalentados, que desistiram de procurar emprego, número que teve alta de 15,3% no último trimestre, chegando a 5,4 milhões de pessoas. A categoria inclui quem desistiu de procurar ocupação.
E a taxa de desemprego, diz Daniel Duque, só não é pior porque as pessoas estão saindo da força de trabalho. Ou seja, quem foi demitido ou ficou sem poder trabalhar, como é o caso de muitos informais, ainda não busca emprego. Conforme o cenário sanitário e econômico caminhar para algo mais próximo do que era antes da pandemia e essas pessoas voltarem a procurar emprego, a tendência é que a taxa de desemprego dispare.
Para o IBGE, uma pessoa desempregada é aquela que não só tem idade para trabalhar (acima de 14 anos) e não está trabalhando, como também está procurando emprego e tem disponibilidade para assumir um posto. Portanto, nem todo mundo que não está trabalhando está tecnicamente desempregado. A pessoa que perde o emprego e não procura trabalho não entra na conta dos desocupados.
“Houve grande descompasso entre a Pnad Contínua e o Caged. A queda de empregos com carteira assinada na Pnad, entre maio e junho, foi de 1 milhão de empregos. No Caged, a redução foi de 11 mil. Isso não faz muito sentido. Mesmo com uma ou outra defasagem, não é o normal ter uma discrepância tão grande. Isso levanta algumas hipóteses, como o atraso no registro dos desligamentos”, explica.
A Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia informou na quinta (20) que o número de pedidos de seguro-desemprego cresceu 9,1% em 2020, até 15 de agosto, na comparação com o mesmo período de 2019. O percentual representa 394.360 pedidos a mais desde janeiro. Ao todo, o governo já recebeu 4,737 milhões de pedidos para seguro-desemprego em 2020, contra 4,343 milhões no ano anterior.
Na comparação parcial de agosto, o número de pedidos em 2020 caiu 21,3%, se comparado à primeira quinzena do mesmo mês em 2019. Foram 216.350 pedidos neste ano, contra 274.827 no ano anterior.
Da Redação