A tão alardeada eficiência da iniciativa privada mais uma vez é colocada em xeque após a Light, privatizada em 1996, informar que não dispõe de recursos para manter em funcionamento o serviço de energia elétrica no Rio de Janeiro.
Em comunicado à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a empresa informou que não dispõe de recursos suficientes para “garantir sua sustentabilidade”. Em outras palavras, sem condições de fornecer energia elétrica para a população da região metropolitana do estado.
Segundo o mantra da política neoliberal, a saída para todos os males da economia brasileira seria a privatização de empresas públicas e a redução do papel do Estado. O que esse discurso esconde é o risco que se corre ao entregar a gestão de áreas estratégicas, como o fornecimento de energia, para a iniciativa privada, que opera com a lógica do mercado e não com um visão social e soberana.
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O motivo alegado pela Light para a ineficiência são as perdas “não técnicas”, ou seja, furto de energia. Porém, o custo dos chamados “gatos” já é ressarcido pelos consumidores. A Aneel autorizou a Light, em 2022, a repassar para os consumidores 40% dessa perda. Em 2020, foram 36%.
Análise produzida pelo Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que cerca de 10% do valor da conta paga por todos os consumidores vai para ressarcir a Light.
Esses dados levantam a suspeita de que não são os gatos que quebraram a empresa, mas sim a ineficiência de gestão. Faz crescer a desconfiança também o fato de Beto Sicupira, um dos três maiores acionistas das Americanas, empresa envolvida em um esquema de fraude bilionário, ser um dos principais acionistas da Light.
A notícia de que a Light teria contratado a Laplace Finanças, empresa que assessorou a Oi em sua recuperação judicial, é outro indicativo de que os consumidores de energia no Rio de Janeiro têm razões de sobra para se preocupar.
Outros casos emblemáticos
Tudo indica que a Light é mais um caso de de privatizações fracassadas que custam caro à população. Não faltam exemplos em diferentes áreas, como o da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, que após ser entregue pelo governo Bolsonaro fez com que o estado tenha um dos combustíveis mais caros do Brasil, e o de aeroportos, casos do Galeão (RJ), de Viracopos (SP) e de São Gonçalo do Amarante (RN).
A privatização de áreas estratégicas tem sido revista em todo o mundo nos últimos anos. Pesquisa realizada pela empresa Transnational Institute (TNI), da Holanda, aponta que entre 2000 e 2017 houve pelo menos 884 casos de reestatização no mundo. Desse total, 835 empresas foram remunicipalizadas e 49 renacionalizadas.
Da Redação