Vivemos muitas coisas, enfrentamos dificuldades, vencemos desafios, mas sinceramente acho que nunca pensamos, eu pelo menos, chegaríamos a uma situação como estamos vivendo no Brasil.
O País está sendo governado por alguém que tem o objetivo de destruir e trata este objetivo como verdadeira missão: destruir o Estado, a democracia, os movimentos sociais, a oposição. Destruir a liberdade e o direito, com toda sua energia voltada para mante-se no poder.
O povo está abandonado ã própria sorte, sem emprego, sem renda, os preços dos alimentos cada dia mais caros, e sem perspectiva de vacina para se proteger da pandemia. Morrem centenas a cada dia e milhares ficam doentes
Três fatos vividos esta semana no Brasil se entrelaçam para ilustrar bem o caos em que o pa[is foi colocado: votação do projeto de autonomia do Banco Central, o aumento dos combustíveis e o pedido dos procuradores da antiga Lava Jato, negado pelo STF, para que a defesa de Lula não tivesse acesso às mensagens da operação spoofing.
Com país em crise e o povo passando dificuldades, o normal seria o parlamento brasileiro votar com urgência projetos que garantissem renda, sustento a população desamparada e medidas para garantir vacina e vacinação em massa!
Mas não foi isso que aconteceu. O projeto prioritário foi a autonomia do Banco Central, que entrega a política monetária, fiscal e cambial, para a coordenação do Mercado. Esta decisão, somada à que permite a dolarização da economia, entrega nosso destino aos interesses internacionais.
A sanha neoliberal de tirar o Estado do povo e entregá-lo ao capital não tem limites nem vergonha. Aí entra o segundo fato: o aumento dos combustíveis. Decorrente da privatização fatiada da Petrobras, do desmonte da estratégia do pré-sal e da sua política de internacionalização de preços – é o povo que paga a conta.
Isso tudo se relaciona ao julgamento ontem, pelo STF, do pedido dos procuradores para que Lula não tivesse acesso às mensagens incriminadoras que trocaram para levar adiante a Lava Jato e a condenação do Lula.
Sim, a Lava Jato. Ela está diretamente relacionada a todas as tragédias nacionais: a autonomia do banco central, a dolarização da economia, a entrega da Petrobras, o aumento dos combustíveis, sem antes ter nos legado a eleição de Bolsonaro.
Foi o conluio, a atuação política de Sérgio Moro e seus procuradores amestrados, em cumplicidade com os grandes interesses políticos e econômicos, a cumplicidade da Globo e da mídia que a segue, que nos trouxeram para esta situação. Na tentativa de destruir Lula e o PT, destruíram o país. Entregaram nossas informações estratégicas a interesses estrangeiros, atuaram ilegalmente com agências internacionais, estraçalharam nossa soberania.
A decisão de ontem, no entanto, abre uma réstia de esperança para começarmos a esclarecer e tentar reverter tudo isso. Buscar justiça, para Lula e para o Brasil.
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal confirmou o direito da defesa do ex-presidente Lula de conhecer as mensagens secretas trocadas entre os procuradores de Curitiba e deles com o carrasco Sergio Moro. Como está sendo revelado nas petições dos advogados ao STF, estas mensagens confirmam o quanto é estarrecedora a farsa judicial que montaram para tirar Lula das eleições de 2018, por meio de uma condenação injusta e uma prisão ilegal que durou mais de 500 dias.
Foi uma importante vitória da defesa, do Direito e da democracia. Essas mensagens esclarecerão muita coisa ao Brasil e com certeza, pelas consequências que a farsa judicial trouxe ao país, aa Lava Jato exige uma investigação aprofundada também por parte do Congresso Nacional.
No caso do presidente Lula as mensagens corroboram o que a defesa apontou ao STF desde novembro de 2018: Moro foi um juiz parcial e os processos decididos pelo seu comando precisam ser anulados.
Agora, falta o STF reconhecer, no julgamento do habeas corpus, o que a sociedade brasileira e o mundo inteiro já sabem: Sergio Moro dirigiu o processo desde antes de sua formalização, desde a condução coercitiva ilegal, violenta e arbitrária de 4 março de 2016, para condenar Lula com objetivos políticos. Para tirar do povo brasileiro o direito de eleger novamente o melhor presidente que este país já teve.
Não há nada que justifique protelar o julgamento da suspeição de Moro por parte do Supremo Tribunal Federal. É o gesto mínimo indispensável para que o Judiciário brasileiro dê um primeiro passo na reconstrução de sua credibilidade, corroída pela Lava Jato de Curitiba e pela cobertura cúmplice que recebeu nas instâncias superiores.
Basta que um cidadão tenha sido vítima para que a Justiça, a verdadeira Justiça, venha em seu socorro. Neste caso, porém, a violência contra Lula atingiu o estado de direito, as instituições da República, a própria democracia. E atingiu criminosamente milhões e milhões de cidadãos e cidadãs, condenados primeiramente ao desemprego, pela destruição de cadeias produtivas estruturantes de nossa economia – em proveito de concorrentes estrangeiras – e em seguida condenados e condenadas a viver sob governos que atacaram os direitos dos trabalhadores e dos aposentados, atacaram políticas públicas de inclusão social e distribuição de renda, que estão transformando o Brasil outra vez num país subalterno, sem presente e sem futuro, que trouxeram a fome de volta ao triste cotidiano do povo.
Mesmo assim, os que tramaram, executaram e sustentaram a farsa judicial, o golpe do impeachment sem crime contra a presidenta Dilma e a condenação ilegal de Lula, os responsáveis por tudo isso ainda buscam meios de mantê-lo refém da injustiça – e manter o país refém do bloco político e econômico nacional internacional que hoje detém o poder. Porque este seria o único sentido de, mesmo reconhecendo o STF a indisfarçável suspeição de Sergio Moro nos três processos em que atuou contra Lula, anular apenas o que foi sentenciado diretamente pelo carrasco de Curitiba.
Esta é a chicana que vem sendo defendida na mídia pelos inconformados com a verdade e suas consequências. Querem que a Suprema Corte, ao invés de resgatar a credibilidade do Judiciário, aprofunde ainda mais esta crise, assumindo e confirmando que o veto a Lula é um veto político. Queremos deixar bem claro: o Brasil não aceitará nada menos do que a Justiça e o Direito para Lula.
Julgamentos como o de ontem no STF, em que a defesa do indefensável e do arbítrio ficou isolada por ampla maioria dos ministros, nos animam a seguir lutando pelo direito e confiando que a Justiça cedo ou tarde prevalecerá. Mas nós não temos o direito de nos iludir com a brutalidade das elites desse país, não podemos esquecer que Lula é e continuará sendo seu maior pesadelo e que tudo farão para tentar adiar o reencontro do povo brasileiro com seu maior presidente, nosso grande líder político.
Na conjuntura de terrível sofrimento que se impõe ao nosso povo, de destruição nacional e do que o projeto de continuidade de Jair Bolsonaro representa, como ameaça permanente à democracia, o PT tem o papel de mobilizar desde já a esperança de superarmos esta situação, unindo as forças democráticas e populares em torno de um projeto de reconstrução para recuperar o Brasil para seu povo.
Se o PT é o pesadelo das elites, é também a esperança do povo.
O PT não pode e não vai esperar que reconheçam os direitos que jamais poderiam ter sido roubados do companheiro Lula para colocar o bloco na rua. Foi esse o recado do presidente Lula. E você, Fernando Haddad, grande companheiro, tem passaporte na sociedade e legitimidade para cumprir esse papel! Tem de de percorrer o país, como percorreu em 2018, junto com outras lideranças partidárias, e levar nosso projeto para o debate com a sociedade e com todos os setores progressistas da política brasileira.
Haddad tem preparo, competência e legitimidade pra ser porta voz dessa mobilização, junto com outras lideranças partidárias que cumprem importante papel na política brasileira, como nossos governadores, senadores, deputados…
O projeto estratégico para o Brasil não pode se perder nos enfrentamentos políticos conjunturais que diariamente fazemos a Bolsonaro e seu governo. Nosso povo precisa e merece saber que tem alternativa para o desenvolvimento do Brasil que não estamos fadados a pobreza, miséria, submissão e dependência.
Precisamos com urgência estabelecer com os demais partidos que compartilham conosco o projeto de um Brasil soberano e justo; artidos que foram parceiros leais em tantas jornadas e nos governos democráticos e populares, que têm suas lideranças legitimamente escaladas. Dizer que queremos renovar o convite para construirmos o caminho da saída dessa crise para o Brasil. Esse convite se estende a companheiros como: Guilherme Boulos, Flávio Dino e também Ciro Gomes e a outras lideranças, que mesmo sem vínculo partidário, pensam no Brasil e seu futuro.
Nós sabemos que ninguém chegará sozinho ao grande objetivo de resgatar a esperança e a democracia no Brasil. Sabemos que todos têm legitimidade para apresentar nomes para conduzir esse debate, mas sabemos também que essa construção não pode começar com imposições e muito menos vetos. Deve começar por um projeto para o país. Todos somos imprescindíveis nessa caminhada de momento difícil, e o PT, por sua história, trajetória nas lutas populares e o legado de governos, ainda mais, o que aumenta nossa responsabilidade.
Agora é hora de chacoalharmos nossa militância, nos organizar territorialmente, prestar solidariedade ao nosso povo sofrido e ir à luta contra Bolsonaro e seu governo. Esse é o campo da oposição firme que dará alternativa para o Brasil!
Chegamos a maturidade com a disposição da juventude. Passamos por muitas coisas nestes 41 anos e nos mantivemos em pé, contrariando a vontade e as apostas daqueles que nos queriam mortos. Quem tem laços com o povo não sucumbe à luta!
Viva a nossa história! Que mais 41 anos venham pela frente!
Viva o Partido das trabalhadoras e dos trabalhadores.
Deputada Federal Gleisi Hoffmann (PR), presidenta do Partido dos Trabalhadores.