Para deter o avanço dos conservadores no segundo turno das eleições municipais – representado por nomes apoiados por Jair Bolsonaro –, o PT anunciou apoios a candidaturas progressistas em duas grandes capitais: São Paulo e Fortaleza. A eleição de Guilherme Boulos, candidato do PSOL, em São Paulo, e de Sarto Nogueira, do PDT, em Fortaleza, são consideradas estratégicas pela legenda para impedir o fortalecimento da agenda econômica ultraliberal expressa nas candidaturas de Bruno Covas (PSDB) e Capitão Wagner (PROS), adversários que serão enfrentados nas urnas, nas duas capitais do Sudeste e do Nordeste. A luta é para deter o bolsonarismo e os conservadores.
“Vamos fortalecer o campo de oposição democrático e popular e ampliar a derrota de Bolsonaro”, destacou Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, ao comentar a resolução do partido sobre o segundo turno das eleições municipais. No último domingo, 15 de novembro, a votação do partido nas capitais e em 70 grandes cidades brasileiras com mais de 200 mil eleitores cresceu 20%. Em São Paulo, o candidato Jilmar Tatto se incorporou à campanha de Guilherme Boulos.
O resultado do primeiro turno mostra a recuperação eleitoral da histórica legenda de esquerda, que em 2016 perdeu força nas urnas depois do impeachment fraudulento de Dilma Rousseff e da perseguição política promovida pela Operação Lava Jato. O resultado foi a injusta condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso num processo repleto de ilegalidades, promovido pelo ex-juiz Sérgio Moro, premiado depois com o um cargo no governo de Bolsonaro.
Força política no segundo turno
Nesta reta final, o PT é a legenda com maior número de candidatos no segundo turno, à frente de partidos influentes na arena política brasileira nos últimos 40 anos, como MDB, PSDB e DEM. O PT vai disputar diretamente o comando de 15 grandes cidades, das 57 onde haverá segundo turno. A legenda ainda participa, em outros dois grandes municípios, com candidatos a vice-prefeito em chapas progressistas: Miguel Rossetto (PT), em Porto Alegre, compondo a chapa com Manuela D’Ávila (PCdoB), e Edilson Moura, em Belém, que faz dupla com o candidato do PSOL, Edmilson Rodrigues.
Líderes do PT lembram que tanto o PSDB, quanto o DEM, além das legendas que gravitam em torno do Centrão, têm manifestado apoio às propostas de reformas e à política econômica de Paulo Guedes que têm resultado na destruição do Estado, com venda de estatais e diminuição dos gastos sociais, e na promoção do arrocho fiscal. A agenda de Bolsonaro é a mesma dos que defendem o livre mercado e a política de ajuste fiscal a qualquer custo, mesmo em tempos de pandemia e em que o mundo, incluindo os Estados Unidos agora com Joe Biden, falam em taxar ricos e em política de conteúdo nacional.
Também é preciso destacar que, em todos os retrocessos impostos ao país desde a queda de Dilma em 2016 – e a ascensão de Michel Temer e de Jair Bolsonaro – líderes políticos tucanos, democratas e do centrão cerraram fileiras para retirar direitos do povo e cortar investimentos sociais. Isso para não falar na votação maciça que tais legendas deram para a aprovação de projetos nefastos ao povo, como a reforma trabalhista, a da previdência social, passando pela Emenda do Teto de Gastos e os cortes nas áreas de educação e saúde.
Apoio velado ao Planalto
Há um esforço de líderes políticos desse campo conservador – como Rodrigo Maia (DEM-RJ) – para tentar se desvencilhar da imagem de aliados do bolsonarismo, mas o apoio de suas legendas à política econômica de Guedes mostra que a identidade de projetos é mais forte do que as discordâncias sobre os métodos adotados pelo atual presidente da República. Em 2018, Bolsonaro teve o apoio velado ou explícito de todos os políticos ligados às históricas legendas de centro-direita e de direita no país, ao enfrentar Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República.
“É fundamental derrotar o bolsonarismo e seus indicados, mas também não se pode esquecer do papel de legendas históricas conservadoras”, lembra Gleisi. “Coisas que não mudam desde as capitanias hereditárias: o DEM – ex-PFL, ex-Arena – continua com cargos, emendas e verbas federais para sobreviver na política local, como vemos agora”. Ela ironizou a narrativa que vem sendo construída na velha mídia hegemônica sobre o novo cenário político, após o primeiro turno das eleições municipais. “Engraçado falarem de renovação na política”, destacou.
Lula e Dilma reforçam apoios a aliados
Lula acredita que a disputa eleitoral de 2020 abre uma nova reconfiguração das forças progressistas no país e que isso pode significar uma derrota aos conservadores e ao bolsonarismo em 2022. Ele fez uma defesa explícita do voto no candidato do PSOL. “Todos que querem restabelecer a democracia no Brasil, tem agora o compromisso histórico de votar no companheiro Guilherme Boulos para prefeito de São Paulo”, destacou.
A ex-presidenta Dilma Rousseff expressou seu apoio às candidaturas do PSOL, em São Paulo, e do PDT, em Fortaleza. “O voto em Boulos e [Luiza] Erundina representa a luta do campo progressista de São Paulo e do Brasil contra o ódio, a mentira e a intolerância”, destacou, nas redes sociais. “Boulos oferece a chance de construir uma São Paulo mais justa, inclusiva e atenta aos direitos dos mais pobres e dos que mais precisam”.
Sobre a disputa eleitoral em Fortaleza, a ex-presidenta também foi taxativa: “O apoio ao candidato do PDT, Sarto Nogueira, em Fortaleza, é um importante ato de unidade dos progressistas para derrotar o candidato bolsonarista”, disse. Ela lembrou do papel de Capitão Wagner, em distúrbios sociais e na desordem na área de segurança pública. “Este candidato é o policial que lideram um motim, pondo em risco a vida da população”, ressaltou. Depois do resultado das eleições em Fortaleza, o PT e a candidata Luizianne Lins manifestaram apoio político à candidatura de Sarto.
Da Redação