No Dia da Terra, data que reflete o despertar e a intensificação de uma consciência comum sobre a conservação do planeta, o Partido dos Trabalhadores lançou um ciclo de debates, que dura até junho, sobre a transição ecológica, com propostas e estratégias para enfrentar a crise socioambiental. Os debates serão transmitidos todas as quintas-feiras, na TVPT.
Com o objetivo de aprofundar temas sobre o clima para um projeto de futuro, no qual o desafio da transição ecológica ganha centralidade no mundo, lideranças do PT se reuniram nesta quinta-feira (22) para debater as causas e as consequências da crise climática.
Na mesa de abertura, o secretário Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT, Nilto Tatto, falou sobre o desmonte ambiental que o Brasil enfrenta no desgoverno Bolsonaro, que deixa o país à mercê de mais queimadas, mais desmatamentos e mais violências no campo.
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, comentou sobre o desafio que o Brasil carrega para o desenvolvimento e a sustentabilidade ambiental e destacou o discurso vergonhoso e negacionista do Bolsonaro na Cúpula do Clima, organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também nesta quinta-feira (22). Bolsonaro usou como defesa em sua fala os avanços ambientais conquistados nos governos do Partido dos Trabalhadores, com Lula e Dilma.
“Bolsonaro, novamente, envergonha o país. Além de fazer um discurso mentiroso para 40 lideranças internacionais, usou para limpar a sua barra os feitos dos governos do PT, para dizer que o Brasil tinha compromisso com o meio ambiente, com o clima, com os indígenas e os povos quilombolas. Disse ainda que o Brasil era vanguarda na questão ambiental. Mas não falou do que ele fez, do que faz contra o meio ambiente. Ele se esqueceu que depois do golpe, o Brasil só vem apresentando índices negativos em relação à proteção ambiental”, disse Hoffmann.
Desmatamento e pandemia
A liderança do Brasil no ranking de desmatamento mundial foi outro tema comentado pela presidenta do PT. “Nós tivemos o maior índice histórico de desmatamento na Amazônia para o mês de março, que equivaleu a 810 Km2, uma extensão do tamanho do Estado de Goiás. Foi o maior em 10 anos. Temos um presidente que não tem compromisso com o meio ambiente nem com a soberania brasileira e muito menos com a vida das pessoas. Quase 400 mil mortes por Covid e milhões de pessoas infectadas, e não temos a saída para a crise”.
Fernando Haddad, ex-ministro da Educação no governo PT, destacou a quantidade de óbitos diante da pandemia e associou as doenças incontroláveis com o desequilíbrio ecológico. Também enfatizou a necessidade de um plano de ação socioambiental no país: “É a cara do PT. Temos toda condição de intervir nessa realidade”.
“Estamos na maior crise sanitária do Brasil, com quase meio milhão de brasileiros que foram a óbito por causa da Covid-19. Temos quatro vezes mais óbitos do que a média mundial. Isso significa que quase ¾ dos óbitos poderiam ter sido evitados, se tivéssemos pelo menos seguido a média mundial. Saúde pública é meio ambiente. Vírus é meio ambiente. E ele vem pelo desequilíbrio ambiental. Todas as epidemias são resultados da intervenção do homem no meio ambiente. O desequilíbrio ecológico resulta em doenças incontroláveis. Por que não evitar esse desequilíbrio, por que não tratar preventivamente o que nos causam mal”?
Pauta do mundo
O presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, senador Jaques Wagner (PT/BA), disse que a temática ambiental é uma pauta do mundo e que é necessário discutir e aprofundar estratégias para o futuro do planeta.
“Por absoluta necessidade, os países estão entendendo que, ou tratamos de uma forma correta a nossa casa maior, o nosso planeta Terra, ou vamos ceifar a existência das próximas gerações. Para mim, é fundamental trabalharmos juntos. Essa é a pauta do mundo. É um desafio para todos nós enfrentarmos”, disse o senador.
Aquecimento global
Na palestra do professor Luiz Marques, da Universidade de Campinas (Unicamp), ele explica sobre o cenário de altas emissões dos gases de efeito estufa no Brasil que projeta o país para mais de 70% de chances de sofrer aquecimentos maiores que 4°C graus até antes do fim do século.
“Conforme apontado por Carlos Nobre e outros autores, em qualquer cenário chegaremos a 2°C graus em 2030, 4°C graus em 2060, e 5°C graus em 2100. O ano de 2019 foi o mais quente no Brasil”, disse.
Outro assunto debatido por Marques foi a Mata Atlântica, que até o começo do século XX estava relativamente intacta. “Ela foi destruída lentamente, porque foi derrubada por machado, artesanalmente. Já na Amazônia, a partir da ditadura militar e da Transamazônica, foram destruídos quase 2 milhões de km² da Amazônia brasileira e mais de 1 milhão do Cerrado, por causa do processo industrial e dos soft commodities como a carne e a soja”.
“É uma coisa que a gente não pode esquecer jamais: o Lula e os primeiros dois anos do governo Dilma reduziram o desmatamento que estava em 27.700 km² por ano para 4.500 km². Foi o mais baixo nível de desmatamento na história, desde os militares. Isso é a esperança que temos com a volta do PT ao poder, desejando menos ainda que 4.500km². Essa é a medalha de ouro que o PT tem que carregar em seu peito”, afirma Marques.
Transição ecológica – do capitalismo para o ecossocialismo
Integrante do Núcleo do PT na Universidade de Brasília (UnB), Gilney Viana, expôs sobre a crise e o sistema de vida, que é determinado pelo sistema de produção, resultante do capitalismo.
“Se a gente não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve. É nesse ponto que estamos com a Transição Ecológica. Esse caminho vai dar onde? Onde queremos chegar? Não é qualquer Transição Ecológica que serve pra mim. Todas as medidas que marcham para diminuir a marcha catastrófica são válidas. Mas os parâmetros mostram que a crise ameaça a vida, ao menos tal como é hoje. E quais são as causas? Os parâmetros são sempre antes e depois do capital. Portanto, estamos falando da crise do capitalismo, da responsabilidade do capitalismo. Não é só uma ação humana. Ele está dentro de um sistema de vida determinado por esse sistema de produção que é o capitalismo. Então, se queremos superar o sistema, tem que ser uma transição ecológica do capitalismo para o Ecossocialismo”.
Conforme o professor, a Transição Ecológica é aceita pelo capital. “Na França, há ministério de transição ecológica. O capital gosta da Transição Ecológica. As petroleiras têm transição ecológica! Na conta da redução das emissões, as petroleiras não colocam toda a cadeia do petróleo. As estruturas de poder multilaterais aceitam isso. “Me engana que eu gosto”!
Viana destacou no debate que se até 2050 zerar as emissões, como diz o Biden, e a China diz até 2060, só vai zerar dependendo das metas até 2030. “E o capital sabendo disso – e é possível que seja mistificação – ele não vai conseguir fazer isso, a não ser que interfira pesadamente na economia. Por isso, investimento na transição das empresas. E o Brasil nisso? Várias consequências, como elevação do nível do mar, chuvas, secas, eventos extremos, vai virar padrão”.
Tarefa revolucionária
A conscientização dos Estados e da sociedade sobre a necessidade de mudanças está nos cinco objetivos estratégicos da plataforma governamental sobre biodiversidade. “Temos uma disputa de hegemonia. Para convencer as pessoas de que a pandemia é uma coisa séria está difícil, e a Transição Ecológica leva ainda mais tempo! É uma tarefa revolucionária! E se não tivermos acúmulo para levar ao Ecossocialismo? Qualquer conquista intermediaria é válida, mas o intermediário não pode ser final! Ou seja, a Transição é boa? É. Mas não me satisfaz”.
Para Viana, é preciso repensar a inserção da Amazônia no Brasil, quebrar a lógica da integração baseada nas estradas, no agronegócio, nas pastagens e na dinâmica da pecuária. “Quando se financia a agricultura familiar, a primeira coisa que o produtor quer é um gado! E eu não entendia isso. Aí um dia, me disseram que ele só poderia pagar o financiamento porque o gado dava segurança, porque reproduz e dá bezerro. Ou seja, o sentido da lógica para eles é perversa”.
O professor Clóvis Cavalcanti, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), disse que o grande problema da humanidade é o consumo. “Somos uma sociedade viciada em consumo, esse é o grande problema da humanidade. Por isso, temos de ser muito firmes sobre as mudanças necessárias, porque pode faltar coisas básicas como água ou solo fértil”.
O ciclo de debates é organizado pelo Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas de Meio Ambiente (NAPP), da Fundação Perseu Abramo (FPA), e pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT. Ele foi mediado pela assessora da SMAD, jornalista especializada em políticas públicas, Agnes Franco.
As próximas discussões terão como temas o licenciamento ambiental, direitos dos animais, SISNAMA, zoneamento ecológico, Amazônia, entre outros. Participe deste importante Ciclo de Debates, todas as quintas-feiras, às 19h, na TVPT.
Da Redação