Partido dos Trabalhadores

Rillo cobra pressão popular pela CPI da Merenda na Alesp

Deputado do PT de São Paulo conta que legisladores da base governista tentam criminalizá-lo por seu apoio ao movimento secundarista

O deputado estadual João Paulo Rillo (PT-SP) foi um dos deputados que não deixou a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) desde que começou a ocupação dos secundaristas na terça-feira (3). Sua preocupação é evitar que direitos humanos sejam violados pela Polícia Militar, que também permanece na sede do Legislativo.

Para ele, o caminho mais viável para conseguir a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é a pressão popular. “A única forma de chegar às assinaturas é a pressão popular diante dos deputados que se recusam a assinar”, afirmou. Por sua atuação em defesa de manifestações populares, o deputado denuncia tentativas de criminalizar seu mandato por parte de forças conservadoras na Alesp.

Abaixo sua entrevista para a Agência PT de Notícias:

Uma das críticas de Rillo é a crescente presença de policiais na sede do Legislativo (Foto: Facebook)

Qual é sua avaliação da ocupação dos secundaristas?
Representa uma coisa muito legal. Considero saudável demais, é uma lição pedagógica à atual democracia, que está sendo tão atacada pela direita e pelo fascismo. Mostra e deixa claro que a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo é tão importante para o desenvolvimento do estado, mas que ela estava esquecida. Agora, passa a ter um protagonismo de um jeito inusitado. O povo ocupa a Assembleia e dá um sentido para isto aqui. É legítimo e importante para a democracia brasileira. Mostra que é um poder que não funciona como deveria funcionar: é uma casa de chancela do Poder Executivo, subserviente e dominada pelo governador. Precisa de intervenção popular, destas provocações para os deputados entenderem que têm um papel constitucional para ser cumprido aqui.

São jovens extremamente conscientes, pacíficos e com pauta definida, politizados, que dão uma aula de cidadania e para os deputados.

Os estudantes mencionaram três propostas apresentadas ao presidente da Casa, Fernando Capez (PSDB). A bancada do PT acompanhou?
Eles informaram a gente. Foi importante que eles negociaram diretamente, porque até então eles estavam acompanhados de algum deputado da oposição. Apresentaram suas reivindicações. Mas você tem um presidente totalmente vulnerável, enfraquecido por conta das graves denúncias que pesam sobre ele. Ele perdeu o controle e a Casa está sem comando político. É por isto que acontecem estas coisas: este nível de tensionamento, este passar do limite da Polícia Militar aqui dentro. Ele militarizou a Assembleia Legislativa.


Como está o apoio da bancada governista ao presidente?

Ele foi completamente abandonado pela base do governo e por seus colegas de partido. É cômodo para o Alckmin ter um esquema de merenda desenvolvido, organizado dentro de seu governo e ter um único personagem. Nós sabemos que o Capez tem que dar respostas sobre as acusações que pesam sobre ele. Mas também sabemos que ninguém cria um esquema de corrupção sozinho. Tem duas figuras importantíssimas, o Padula, um quadro histórico do PSDB, foi chefe de gabinete do secretário de Educação, e o “Moita” (Luiz Roberto dos Santos), que era chefe de gabinete do Edson Aparecido, o homem forte do governo Alckmin, e estão totalmente envolvidos nos escândalos da Máfia da Merenda. Está cômodo para o governador ter um único personagem, que sangra e se diz vítima. Ele não tem coragem e força política para ajudar a instalar uma CPI. Ou não tem vontade e tem medo, mas não faz nada para provar sua inocência. A CPI ouviria outros personagens centrais desta trama.


Como está o trabalho da bancada do PT, junto dos outros deputados da oposição, para coletar as assinaturas que faltam para abrir a CPI?

Eu acho que este trabalho de coletar assinaturas tem um limite grande. A única forma que pode fazer chegar às assinaturas é a pressão popular a que os deputados que se recusam a assinar sejam submetidos. Considero a ocupação e a manifestação que acontece aqui fora muito mais importante do que qualquer tentativa interna. Os mecanismos internos de convencimento já foram usados e não tem mais para onde ir.

Apoiadores do movimento secundarista estão acampados na calçada da Alesp (Foto: Paulo Pinto/Agência PT)

O senhor acompanha a ocupação desde o primeiro dia, passou a madrugada na Casa. Houve tentativa de criminalizá-lo por conta disso?
Estou sofrendo criminalização agora. Eles registraram três boletins de ocorrência alegando que eu ajudei a entrada de estudantes no plenário. Alegam que agredi um policial e entraram com uma representação no Conselho de Ética. Fizeram isto o Delegado Olim (PP), Coronel Camilo (PSD) e Coronel Telhada (PSDB). Recebo isto com muita tranquilidade. Será uma oportunidade de discutir no Conselho de Ética que assembleia nós queremos. Será uma assembleia em que o povo, por meio de seus representantes, lidera o processo, ou será uma assembleia em que a força tática vai liderar o processo.

A provocação deles do Conselho de Ética foi muito importante. Há um ano o Conselho de Ética não funciona na Casa. Há um ano vivemos com esta realidade de não ter funcionamento do conselho. Eu mesmo, junto de outros deputados, já fizemos um questionamento ao presidente pelo não funcionamento. Tem uma representação já protocolada para o Conselho de Ética investigar o presidente, e agora tem esta. Quem sabe agora eles não instalam o Conselho?
A que pesa sobre mim o apreço por defender a democracia e os estudantes. Sobre eles, de roubar a merenda.

Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias