Partido dos Trabalhadores

Rodrigo Franco: Mais um 8 de março e ainda não aprendemos nada

Em 2015, o Brasil foi classificado como o 5° país com maior taxa de homícios de mulheres em todo o mundo

Paulo Pinto/Agência PT

Ato do Dia da Mulher em São Paulo

O Dia 8 de Março não teve aula. Os alunos foram dispensados. Uma pequena placa foi pendurada no portão de ferro informando o luto e a suspensão das atividades acadêmicas pelos próximos três dias. Veridiana Rodrigues Carneiro, ou simplesmente a “Tia Vê”, foi arrancada à força da vida pedagógica e agora tornou-se parte das estatísticas. Testemunhou o terror e a violência sofrida por muitas mulheres diariamente. Veridiana era professora de educação infantil em Uberlândia e foi assassinada pelo companheiro. Um policial militar com 29 anos de corporação. Onze tiros disparados no meio da rua interromperam sua carreira de magistrada.

O caso da professora emerge durante o aumento significativo das agressões sofridas por mulheres no carnaval. O dado mais alarmante vem do Rio de Janeiro, onde se registrou uma agressão a cada quatro minutos, segundo a Polícia Militar.
Foram 2.154 chamas de pedidos de socorro em apenas cinco dias. Metade dos casos foi pra denunciar violência física. Em um comparativo com o carnaval de 2016, houve um aumento de 90% dos casos.

Inúmeros comentários masculinos publicados pelas redes sociais, que mais parecessem procura minimizar o sofrimento alheio, soam uníssonos bradando que violência contra mulher não é um tema importante a se discutir. O que reflete a ignorância retrograda que assola constantemente a nossa sociedade.

O Mapa da Violência edição de 2015, elaborado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso), mostra que, entre 1980 e 2013, 106 mil mulheres morreram vítimas de homicídio.

Em 1980, 1.353 mulheres foram assassinadas, o correspondente a 2,3 mulheres para cada grupo de 100 mil habitantes.
Já em 2013, 4.762 foram mortas num número que fez a taxa subir para 4,8 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. Um aumento de 111%.

O aumento das mortes é explicado, em boa medida, pela impunidade, diz a professora de direito constitucional da Universidade de Brasília, Janaína Penalva.

Vale ressaltar ainda, que em 2015, o Brasil foi classificado como o 5° país com maior taxa de homícios de mulheres em todo o mundo.

Casos assim decorrem de situações de abusos em casa, ameaças ou intimidação.

Com situações como estas, é necessário entender o feminismo isolando-o do senso comum que o limita como “vitimismo”. Precisamos disseca-lo e perceber que o feminismo não luta contra os homens, e sim contra o supracitado sistema de dominação masculino.

É a sobrevivência ao perceber que as ruas não lhe pertencem.

É o basta na ideia de que seu corpo é público, julgável e tocável.

É não ter que se esconder para se proteger, e se isso não for o suficiente, correr o máximo que puder.

E finalmente, por um ponto final na doente concepção humilhante que se algo lhe acontecer, a culpa será sua, pois você pediu por essa situação.

 

Por Rodrigo Franco, jornalista e fotógrafo, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.