O Dia 8 de Março não teve aula. Os alunos foram dispensados. Uma pequena placa foi pendurada no portão de ferro informando o luto e a suspensão das atividades acadêmicas pelos próximos três dias. Veridiana Rodrigues Carneiro, ou simplesmente a “Tia Vê”, foi arrancada à força da vida pedagógica e agora tornou-se parte das estatísticas. Testemunhou o terror e a violência sofrida por muitas mulheres diariamente. Veridiana era professora de educação infantil em Uberlândia e foi assassinada pelo companheiro. Um policial militar com 29 anos de corporação. Onze tiros disparados no meio da rua interromperam sua carreira de magistrada.
O caso da professora emerge durante o aumento significativo das agressões sofridas por mulheres no carnaval. O dado mais alarmante vem do Rio de Janeiro, onde se registrou uma agressão a cada quatro minutos, segundo a Polícia Militar.
Foram 2.154 chamas de pedidos de socorro em apenas cinco dias. Metade dos casos foi pra denunciar violência física. Em um comparativo com o carnaval de 2016, houve um aumento de 90% dos casos.
Inúmeros comentários masculinos publicados pelas redes sociais, que mais parecessem procura minimizar o sofrimento alheio, soam uníssonos bradando que violência contra mulher não é um tema importante a se discutir. O que reflete a ignorância retrograda que assola constantemente a nossa sociedade.
O Mapa da Violência edição de 2015, elaborado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso), mostra que, entre 1980 e 2013, 106 mil mulheres morreram vítimas de homicídio.
Em 1980, 1.353 mulheres foram assassinadas, o correspondente a 2,3 mulheres para cada grupo de 100 mil habitantes.
Já em 2013, 4.762 foram mortas num número que fez a taxa subir para 4,8 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. Um aumento de 111%.
O aumento das mortes é explicado, em boa medida, pela impunidade, diz a professora de direito constitucional da Universidade de Brasília, Janaína Penalva.
Vale ressaltar ainda, que em 2015, o Brasil foi classificado como o 5° país com maior taxa de homícios de mulheres em todo o mundo.
Casos assim decorrem de situações de abusos em casa, ameaças ou intimidação.
Com situações como estas, é necessário entender o feminismo isolando-o do senso comum que o limita como “vitimismo”. Precisamos disseca-lo e perceber que o feminismo não luta contra os homens, e sim contra o supracitado sistema de dominação masculino.
É a sobrevivência ao perceber que as ruas não lhe pertencem.
É o basta na ideia de que seu corpo é público, julgável e tocável.
É não ter que se esconder para se proteger, e se isso não for o suficiente, correr o máximo que puder.
E finalmente, por um ponto final na doente concepção humilhante que se algo lhe acontecer, a culpa será sua, pois você pediu por essa situação.
Por Rodrigo Franco, jornalista e fotógrafo, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.