Ministro do Meio Ambiente investigado por crime ambiental, ministro das Relações Exteriores antissocial, ministro da Educação que corrói a estrutura do MEC, ministro da Saúde que ameaça a saúde pública em plena pandemia. Ministro das Minas e Energia que atenta contra a soberania energética nacional. O roteiro, de tão óbvio, levanta a suspeita de que a primeira coletiva de Adolfo Sachsida foi apenas diversionismo bolsonarista contra o desgaste político pelos preços abusivos dos combustíveis.
“Meu primeiro ato como ministro de Minas e Energia será solicitar ao ministro Paulo Guedes, o presidente do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), que leve ao conselho a inclusão do PPSA (Pré-Sal Petróleo) no PND (Programa Nacional de Desestatização)”, anunciou na noite de quarta-feira (11).
“Ainda como parte do primeiro ato como ministro, solicito também o início dos estudos tendentes à proposição das alterações legislativas necessárias à desestatização da Petrobrás”, completou, como se todo o processo fosse política e administrativamente viável nos pouco mais de sete meses que ainda restam da agonia bolsonarista.
Sachsida também disse que quer trocar o atual regime de partilha na exploração do pré-sal, sancionado por Luiz Inácio Lula da Silva em 2010 após ampla discussão com a sociedade, pelo de concessões. E defendeu o avanço da privatização da Eletrobras. A segunda parte do julgamento no Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a venda da estatal elétrica está prevista para a próxima quarta-feira (18).
Fugindo de perguntas sobre preços de combustíveis, o novo ministro “extremamente bolsonarista” apelou para o discurso genérico de que “medidas pontuais têm pouco ou nenhum impacto, e por vezes têm impacto oposto ao desejado”, e que “nós temos que insistir na economia pelo lado da oferta”. Garantiu ainda “100% de aval” do chefe para suas propostas: “Deixo claro que essa meta, esse objetivo e esse norte foram expressamente apoiados pelo presidente Bolsonaro”.
Aluno e seguidor de Olavo de Carvalho, morto em janeiro deste ano, Sachsida foi o primeiro secretário da Política Econômica do Ministério da Economia, que empobreceu a população e ressuscitou a inflação de dois dígitos. Em fevereiro, foi nomeado chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos de Paulo Guedes, o ministro da Economia que vive em guerra contra a soberania, o patrimônio nacional e a economia popular.
Satisfeito com o ex-subordinado em posição estratégica, Guedes garantiu que dará prosseguimento aos pedidos. “Ô, Adolfo, me entrega isso hoje, eu encaminho imediatamente para a Secretaria Especial do PPI para que ela faça uma resolução ad referendum que inicie os estudos. Nós vamos dar sequência aos estudos para a PPSA e depois, então, a Petrobras”, comentou o “posto Ipiranga” nesta quinta-feira (12), desempenhando sua tarefa em coletiva ao lado de Sachsida.
Entreguismo e cortinas de fumaça para camuflar preços abusivos
Que Guedes sonha em entregar integralmente a Petrobras – e com ela outras empresas públicas estratégicas como Correios e Eletrobrás – a interesses privados, disso ninguém tem dúvida. Roberto Castello Branco, primeiro presidente da estatal no desgoverno Bolsonaro, indicado por Guedes, afirmou na posse que vendê-la “foi sempre sonho”.
Também o primeiro bode expiatório pelos aumentos abusivos dos combustíveis – que começaram em 2017 e se intensificaram após 2019 – Castello Branco recebeu sua recompensa em abril. Ele foi indicado para compor o conselho de administração da petroleira que mais se beneficiou da política de venda de partes da própria Petrobrás – a 3R Petroleum, que comprou nove campos de petróleo da estatal desde 2018.
Na mesma época da indicação de Castello Branco, Bolsonaro defenestrava seu sucessor: o general Joaquim Silva e Luna. O terceiro na linha sucessória, José Mauro Ferreira Coelho, anunciou nesta segunda-feira (9) reajuste de 8,8% no óleo diesel. Com o anúncio, indicou claramente que, apesar das cortinas de fumaça de Bolsonaro, continuará aplicando a política do Preço de Paridade Internacional (PPI), adotada sob Michel Temer e mantida por Bolsonaro, que é um atentado contra a economia popular.
Entre janeiro de 2019 e esta semana, a gasolina já acumula 155,8% de aumento nas refinarias; o diesel subiu 165,6% e o gás liquefeito de petróleo (GLP) aumentou 119,1%, fazendo com que o preço médio do botijão de gás de cozinha esteja acima de R$ 120,00, calculam os dirigentes da Federação Única dos Petroleiros (FIP).
Nesta quarta-feira, em Juiz de Fora (MG), Luiz Inácio Lula da Silva defendeu veementemente as empresas públicas dos ataques entreguistas do desgoverno Bolsonaro. “Eu quero dizer ao governo brasileiro e aos empresários: parem de tentar privatizar as nossas empresas públicas. Quem se meter a comprar a Petrobrás vai ter que conversar conosco após a eleição”, afirmou.
“Parem de tentar privatizar a Eletrobrás. Porque, se não fosse a Eletrobrás, não teria o Programa Luz Pra Todos, que custou R$ 20 bilhões e só pôde ser feito porque a empresa era pública”, prosseguiu Lula.
“Parem de privatizar os Correios. Não tentem privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES, o BNB e o Basa. Aprendam a trabalhar, aprendam a investir. Aprendam a fazer política econômica ao invés de vender as coisas que já estão prontas”, completou o ex-presidente, lembrando que vender empresas públicas é sabotar a soberania e usurpar do Estado seu papel de um indutor do desenvolvimento nacional.
Lula lembrou ainda que a venda da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, teve influência direta nos preços abusivos dos combustíveis. “E o presidente da República, em vez de ter coragem de colocar a mão e resolver o problema, fica trocando de presidente da Petrobrás e de ministro de Minas e Energia. Ele na verdade não sabe o que está fazendo neste país”, completou o presidente mais popular da história.
Da Redação