Cheia de idas e vindas e confusões, a campanha do candidato do PSL e da ultra-direita tem um tema literalmente “acéfalo”: saúde. Em uma extensa reportagem do G1 sobre o SUS publicada nesta segunda (24), o candidato do PSL foi o único entre os cinco candidatos consultados a não responder sobre o tema. Tampouco indicou um representante. Em um país em que a saúde está entre as principais demandas da população, ele não parece muito preocupado em abrir suas “propostas”.
A coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, apurou que a equipe que auxilia o candidato não tem mesmo ninguém que fale por ele nessa área.
Essa escassez de ideias e propostas cresce a olhos vistos no plano de governo do candidato, que só menciona o SUS uma única vez – o mesmo sistema que salvou a vida dele após o ataque em Juiz de Fora (MG), ao custo de R$ 367 reais pagos ao cirurgião.
Já o programa da coligação “O Povo Feliz de Novo” fala do SUS 12 vezes, e deixa claro que vai ampliar os investimentos no sistema.
No pouco que fala sobre o assunto, Jair diz que saúde é “prioridade” e fala em “melhorar”, embora não diga como. Ele também é contra o aumento de recursos para o SUS: segundo o programa do candidato Jair, é possível – não se sabe de onde ele tirou essa referência – fazer “muito mais” no SUS com os atuais recursos.
Para além dessa, sobram ideias irreais, como que “toda a força de trabalho da saúde” seja cadastrada para atender pelo SUS e qualquer plano de saúde. O cadastro de clínicas e consultório particulares já existe, sem o caráter autoritário e simplista proposto por Bolsonaro.
Para o médico Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, essas propostas demonstram a ignorância do candidato do PSL na área. “Esse cadastro já é feito pelos estados, pelos municípios. O Haddad fez exatamente isso [em São Paulo], um cadastro universal para cirurgias de catarata, e baixamos para 30 dias a espera por uma cirurgia”, diz.
Padilha pontua ainda que o cadastro é insuficiente para resolver todo o problema do país, pois há regiões do que não têm clinicas a ser cadastradas. “Ou o poder público leva médico, leva hospital, ou esse povo não é atendido.”
Bolsonaro também quer acabar com os Mais Médicos – que atendeu mais de 60 milhões de brasileiros – em troca de uma solução corporativista que tem vários entraves constitucionais e poderia causar um rombo no orçamento público. “Mostra uma ignorância da parte dele, porque uma coisa não é contrária a outra”, diz Padilha.
Alexandre Padilha ressalta que o Mais Médicos sempre foi um conjunto de iniciativas que inclui também o incentivo aos profissionais brasileiros na carreira pública: na prefeitura de São Paulo, por exemplo, Haddad trouxe mais 50 profissionais pagos pela prefeitura e instituiu pela primeira vez a carreira de médico na prefeitura. “O que importa nessa questão é a população atendida, e não o debate ideológico do PSL.”
Curiosamente, as ideias do candidato com algum lastro na realidade não são inéditas. Ele propõe a criação de um prontuário eletrônico como “pilar de uma saúde na base informatizada e perto de casa”. Mas a ideia não só já existe, como está sob implantação em todas as UBSs do país: de acordo com o DataSUS, o sistema atendia em 2016 mais de 57 milhões de brasileiros.
Outra proposta do reacionário é a formação de agentes de saúde em cursos técnicos, também já implantada há mais de duas décadas e ampliada como nunca pelos governos petistas.
Mulheres em risco
No programa da chapa de extrema-direita (PSL e aliados), as soluções para proteger mães e crianças se resume à manter saúde bucal das gestantes – essa mesma ideia causou vexame na entrevista dele ao Roda Viva pela notável insuficiência na solução de um problema tão complexo.
Saúde da mulher nunca foi mesmo o forte do candidato de Bolsonaro e seus asseclas: vale lembrar também que o deputado é um dos autores do hediondo PL 6055, que propunha que o SUS não fosse mais obrigado a atender vítimas de violência sexual.
Da Redação Agência PT de Notícias