Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, garantiu a manutenção da farra dos rentistas da Faria Lima ao anunciar, pela sexta vez, nesta quarta-feira (3), que a taxa Selic seguirá no patamar indecente de 13,75%. O setor produtivo, no entanto, botou a boca no trombone, denunciando a estratégia do bolsonarista entocado no Bacen de promover uma quebradeira de empresas e o desemprego no país. Os alertas vão de encontro aos esforços do presidente Lula, que tem adotado medidas para aquecer a economia, apesar do entrave representado por Campos Neto.
“É muito engraçado o que se pensa nesse país, todo mundo pode falar de tudo, só não pode falar de juros”, reagiu Lula, na manhã desta quinta-feira (4), durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável. “Como se um homem sozinho pudesse saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas”.
Logo após a divulgação da nota do Comitê de Política Monetária (Copom), representantes de diversas entidades alertaram que a atividade produtiva não aguentará por muito tempo o terraplanismo econômico de Neto. “A Selic em 13,75% ao ano está em um nível que restringe excessivamente a atividade econômica”, advertiu o presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Robson Andrade, por meio de nota.
“Volto a dizer o que disse no Senado há poucos dias: as empresas estão tomando crédito a mais de 30% e o setor produtivo não aguenta pagar esse nível de juros”, ressaltou Andrade. Ele referiu-se à audiência no Plenário do Senado, há uma semana, onde, diante de Neto, afirmou que nenhuma atividade empresarial tem capacidade de enfrentar a crise provocada pelo Bacen em função da Selic.
“Neste momento, a manutenção da taxa de juros é desnecessária para combater a inflação e apenas impõe riscos adicionais para atividade econômica”, insistiu o presidente da CNI. A entidade lembrou que a taxa Selic de Neto é “um dos fatores mais importantes para a desaceleração da atividade econômica observada no final de 2022”.
“Copom errou”
A perigosa política de empurrar o país para um abismo macroeconômico operada por Neto também não escapou do criticismo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). O presidente da associação, José Velloso, declarou que o Copom “errou” ao não iniciar uma trajetória de queda da taxa de juros na última reunião.
“[A taxa] não só inviabiliza os investimento como encarece o custo da dívida”, observou Velloso, concordando ainda com a desaceleração identificada pela CNI. “Neste primeiro trimestre, os investimentos em máquinas equipamentos caíram 10%. Passou da hora de iniciar o ciclo de queda”, pontuou.
Entrave à geração de emprego
O quadro de asfixia da atividade das empresas afeta diretamente a geração de empregos, uma vez que não há investimentos. O impacto é generalizado em setores variados, como o imobiliário. “A despesa com juros bancários compromete a saúde financeira das empresas, que ficam impossibilitadas de crescer e com dificuldades de arcarem com suas despesas obrigatórias”, ressalta Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), também em comunicado.
Desestímulo ao consumo
É necessário “resolver com urgência as incertezas que o cenário atual tem gerado, pois é impossível crescer com uma taxa básica deste tamanho”, defendeu o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins.
Do mesmo modo, o setor de eletrodomésticos está praticamente paralisado pelos juros praticados pelo Banco Central. “Taxas como as atuais desestimulam os consumidores que não conseguem incluir as parcelas de suas compras no orçamento familiar”, lamentou o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Nascimento.
“Nosso setor vem aguardando há meses o início de uma política de redução pelo BC. A economia apresentaria resultados melhores”, sugeriu Nascimento.
Como se vê, é só escolher um setor e a conclusão é óbvia: a taxa Selic de Roberto Campos Neto atinge, indistintamente, todas as áreas do setor produtivo, varrendo as oportunidades de crescimento do país, “A política monetária do BC não encontra respaldo entre renomados economistas e líderes empresariais de todos os ramos de atividade”, enfatiza o deputado e líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
“A manutenção da taxa de juros em 13,75%, pelo Banco Central, entre as mais altas do mundo, saiu do âmbito técnico e entrou no campo político”, encerrou Guimarães.
Da Redação, com informações de Folha de S. Paulo