Mais uma vez, a política de dolarização dos preços da Petrobras, instituída sob Michel Temer e mantida por Jair Bolsonaro, é o fator decisivo do aumento da carestia no país. Em novembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou 0,95%, maior taxa para o mês desde 2015. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice acumula alta de 9,26% no ano e de 10,74% em 12 meses, taxa mais alta desde novembro de 2003, quando chegou a 11,02%.
A gasolina, que subiu 7,38% em novembro e acumula aumento de 50,78% em 12 meses, contribuiu com quase metade do resultado: 0,46 ponto percentual (p.p.). Os outros combustíveis também subiram. Com etanol (10,53% e 69,40% em 12 meses), óleo diesel (7,48% e 49,56%) e gás veicular (4,30%), o grupo Transportes subiu 3,35% em novembro.
A maior variação (3,35%) e o maior impacto (0,72 ponto percentual) vieram justamente do grupo Transportes, que individualmente correspondeu a 76% do IPCA do mês. Mas sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em novembro.
Energia cara
Em habitação, o segundo maior impacto, os custos foram novamente pressionados pela energia elétrica (1,24%) e pela alta de 2,12% no gás de botijão, que já subiu 38,88% nos últimos 12 meses. Desde setembro, permanece em vigor a bandeira tarifária Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos.
Pressionado pela queda do consumo, o grupo Alimentação e bebidas registrou deflação (-0,04%). Segundo o IBGE, o resultado deve-se ao custo da alimentação fora do domicílio (-0,25%), cujo resultado foi influenciado pelo subitem lanche (-3,37%). A refeição (1,10%), por sua vez, acelerou em relação ao mês anterior (0,74%).
“A Black Friday ajuda a explicar a queda tanto no lanche quanto nos itens de higiene pessoal”, afirmou o gerente do IPCA, Pedro Kislanov. “Nós observamos várias promoções de lanches, principalmente nas redes de fast food no período”, acrescentou.
Calculado pelo IBGE desde 1979 para medir a inflação das famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) variou 0,84%. O indicador, utilizado como referência em negociações salariais e no cálculo de benefícios do INSS, soma 9,36% no ano e 10,96% no acumulado em 12 meses. Todas as áreas pesquisadas registraram variações positivas em novembro.
Alta da Selic não deve baixar a inflação
A inflação pressiona também o empresariado. Em um seminário promovido nesta semana pelo Correio Braziliense, o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, destacou o peso de energia e combustíveis no faturamento dos comerciantes.
“Metade da nossa inflação é de energia, seja energia elétrica ou combustíveis. Não fosse a disparada desses dois itens nos índices de inflação, seguramente a economia estaria passando por um momento melhor”, comentou Bentes.
No momento tradicionalmente mais movimentado para o comércio, as vendas estão abaixo da expectativa, e as perspectivas para 2022 são ainda piores. “A gente observa um cenário de preocupação. Neste ano o setor deve crescer em torno de 3%. Para o ano que vem, já há uma certa incerteza na capacidade de crescimento, o comércio dificilmente vai conseguir alcançar crescimento maior que 1%”, estima o economista.
Um estudo da CNC mostra que a piora na inflação, juros e renda deve retirar R$ 44,7 bilhões das vendas no fim de 2021, em relação ao cenário mais favorável projetado no começo do ano. Para Bentes, a alta da taxa de juros básica (Selic) pelo “Banco Central independente”, nesta quarta-feira (8/12), não vai controlar a inflação.
“Elevar os juros provavelmente não vai resolver a questão da inflação. Em algum momento ela vai baixar, essa inflação de dois dígitos não deve perdurar, até porque a capacidade técnica do Banco Central é inquestionável. Mas pode ser que nós paguemos o preço, pela demora para trazer a inflação para baixo novamente”, concluiu.
70% brasileiros consideram situação ruim ou péssima
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), que também se manifestou contra a trajetória de alta dos juros, divulgou nesta sexta-feira (10) pesquisa em parceria com o Instituto FSB que revela que sete em cada dez brasileiros consideram a situação econômica do Brasil ruim ou péssima.
Para 80% dos entrevistados, essa é uma das piores crises econômicas que o país já enfrentou. Apenas 22% da população acreditam que, em comparação com os últimos 6 meses, a economia melhorou. Para 56%, ela piorou.
Para 73% dos pesquisados, a inflação aumentou muito (51%) ou um pouco (22%) nos últimos seis meses. Três em cada quatro brasileiros (75%) dizem que sua situação financeira foi afetada pelo aumento dos preços. A maioria dos entrevistados acredita que a situação ainda deve piorar nos próximos seis meses. Para 29% dos brasileiros, a inflação ainda deva aumentar muito, e para 25% ela ainda vai subir um pouco.
Diante das dificuldades, 74% dos entrevistados tiveram de reduzir os gastos, percentual igual a maio de 2020. Entre os que afirmaram que diminuíram as despesas, 58% afirmam que a redução foi muito grande (20%) ou grande (38%). Os percentuais de redução de gastos são os maiores registrados pela pesquisa desde o início da pandemia: 18 p.p. acima do segundo maior índice (40%), registrado em maio de 2020 e abril de 2021.
Sobre o futuro, 34% acreditam que a situação vai melhorar um pouco (27%) ou muito (7%), 27% acham que ela vai permanecer estável e 32% estão pessimistas. Para estes, a economia ainda vai piorar muito (17%) ou um pouco (15%). O medo de perder o emprego voltou a crescer, de 52%, em julho, para 61% em novembro. Para 16%, o temor é muito grande, para 24%, ele é grande e para 21%, é médio. O percentual dos que não têm receio encolheu de 32% para 21% da população empregada.
Para agravar a situação, 64% dos entrevistados afirmam que a economia brasileira ainda não começou a se recuperar da crise econômica. Mais da metade (52%) acredita que essa recuperação vai levar mais de um ano para ocorrer, ou sequer vai acontecer.
“Um olhar atento e qualificado para o cenário internacional mostra que os países que conseguiram melhor enfrentar a crise econômica gerada pela pandemia foram aqueles que contam com uma indústria forte”, comentou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. “A solução para reverter a situação em que o Brasil se encontra passa necessariamente pelo investimento em inovação e pela aprovação de reformas estruturantes que melhorem o ambiente de negócios no país.”
Em 2020, a indústria brasileira registrou a menor participação, tanto na produção como nas exportações mundiais. É o pior desempenho dos dois indicadores desde o início das duas séries históricas, em 1990. Os dados são do relatório Desempenho da indústria no mundo, da CNI.
Conforme o estudo, a participação no valor adicionado da indústria de transformação mundial ficou em 1,32% em 2020, abaixo do 1,35% registrado em 2019. O país foi ultrapassado pela Rússia e caiu para a 14ª posição no ranking dos maiores produtores industriais. A participação brasileira está em queda desde 2009, mas até 2014 o país se mantinha entre os 10 maiores produtores industriais do mundo. Aí veio o golpe…
Da Redação, com informações de IBGE e Imprensa CNI