A presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, abriu o seminário sobre o futuro do setor energético no país destacando a importância da mobilização para a luta e a escalada autoritária do desgoverno Bolsonaro sobre as pautas estruturais e desmonte do Estado brasileiro.
“Temos de mostrar que esse é o caminho errado e que queremos um estado forte e presente. Começa agora uma outra caminhada de luta. E vamos precisar muito que o setorial de energia do PT esteja organizado, pois é nessa área que temos a presença mais estratégica do Estado para o desenvolvimento do Brasil e que não podemos abrir mão”.
O seminário foi promovido pela Secretaria Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT nesta quinta-feira, 13. Com o tema ‘Soberania, Setor Energético e Privatizações’, lideranças do partido e especialistas debateram sobre as perspectivas e propostas de futuro para o setor energético, seus limites e possibilidades.
Naillor Gatto, representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) reforçou a importância da pauta e a participação dos trabalhadores trabalhadoras do setor elétrico no enfrentamento organizado, os desafios do setor e da sociedade.
“Essa é a nossa proposta de organização, para não só a disputa da classe trabalhadora, mas fazer com que a população brasileira tenha um governo alinhado com os interesses da nação. Temos que discutir e debater um setor energético que atenda não à lucratividade e ao sistema financeiro, mas que atenda a toda população brasileira e dê a ela melhores condições de vida”, destacou Naillor.
Retrocessos
“Precisamos barrar todos esses retrocessos que está acontecendo no nosso país. Esse governo genocida está vendendo nossas riquezas e desmontando o aparato do Estado. Há um processo de desconstrução nacional. Por isso, esse setorial tem uma importância central não só para o PT, mas para toda a esquerda e o Brasil”, ressaltou a secretária Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT, Vera Lúcia Barbosa.
Vera também destacou o papel dos setoriais, que precisam retomar “profundo vínculo com as bases”. Disse ainda sobre a necessidade de disputar as ruas, construir e aprofundar na elaboração de um projeto popular para o Brasil.
Desigualdades
José Sérgio Gabrielli, da Universidade Federal da Bahia e do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), afirmou que o plano parte da ideia de que o centro dos problemas é a desigualdade de renda, racial, de gênero, regionais e dos direitos dos indivíduos.
“A luta contra as desigualdades é um elemento central para a reconstrução do Brasil. Estamos num momento de transição ecológica, o mundo todo está começando a voltar para a substituição de matrizes de energia, e isso tem impacto direto. Nesse processo, um novo projeto de transformação do Brasil deve ter como objeto reduzir as desigualdades e partir da defesa da vida. É preciso reforçar o papel do Estado, reorganizar as relações entre Estado, mercado e sociedade. O Estado deve retomar seu papel de induzir o desenvolvimento. No curto prazo, precisamos redefinir o papel do investimento público”.
Pacto verde
A ampliação de investimento, a reativação da economia e da geração de emprego e renda foram citados como fundamentais para o desenvolvimento, além da interrupção da desestatização e privatização, segundo José Gabrielli.
“Do ponto de vista da energia, é fundamental interromper a atual política de desestatização e privatização. Temos de impedir a continuidade das vendas das refinarias, a privatização da Eletrobrás e da Petrobrás. Precisamos pensar num novo pacto verde. A transição ecológica deve permear todas as políticas setoriais, que não é apenas a mudança de matriz, se não ampliando a lógica do bom viver, da sociedade com a natureza, inclusão energética, que deve orientar as novas políticas de desenvolvimento. Deve ser uma transição justa para os trabalhadores, não apenas os formais integrados às grandes empresas, mas os terceirizados, e os trabalhadores em geral da nossa sociedade”.
José Gabrielle atentou ainda sobre “uma grande riqueza fóssil: o pré-sal”. Estamos em cima de uma grande riqueza fóssil que é o pré-sal brasileiro e não podemos abrir mão dessa riqueza. Precisamos aproveitar esse potencial para o futuro de nosso país, enquanto fazemos a grande transição energética. Não podemos permitir que ele seja apropriado pelas empresas internacionais. Precisamos reverter o que aconteceu com o fundo social, por exemplo”.
Destacou também o desmonte da Petrobrás, que exige pensamentos olhando para o futuro em um novo modelo que vise reforçar o papel da Petrobrás e garantir uma cadeia de fornecedores no Brasil para internar uma parte maior da renda petroleira.
“Eletricidade, expansão da energia eólica e solar. Precisamos de um novo modelo, que seja menos independente de fundos financeiros, apoiando o papel das comunidades na administração e produção. Limitar a expansão de usinas hidrelétricas”, explicou.
Mudança climática
No debate, a professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Clarisse Ferraz, falou sobre a mudança climática enfrentada associada a um desequilíbrio gerado por emissões poluentes e que podem resultar em um colapso ecológico.
“Precisamos fazer uma transformação enorme. Vamos ter de mudar muitos usos energéticos. No Brasil, temos uma agenda completamente equivocada, de ampliar o mercado livre, e propondo privatizações. O que é gravíssimo é o drible regulatório. Precisamos de sistemas resilientes, e flexíveis espacialmente. Precisamos aumentar o investimento em transmissão e reorientar o setor. A Eletrobrás precisa voltar a ser o que nasceu para ser, o braço operacional estratégico da coordenação das redes e dos estoques reguladores, de transmissão e reservatórios. Sua privatização significa abrir mão dos recursos essenciais para avançar na transformação. No mundo inteiro está se rediscutindo o papel dos mercados. Se vamos no caminho do mercado livre e do sistema isolado vamos ao caminho Texas, apagão e explosão tarifária, um caminho dos negacionistas no setor elétrico”.
Política de industrialização
Gilberto Cervinski, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Plataforma Operário e Camponesa de água e energia, ressaltou que o tema da energia é um tema estratégico para pensar um projeto de desenvolvimento do país, pois tem uma relação com a política de industrialização do Brasil.
“É um setor de grande alcance popular, que tem direta relação com as massas, seja pela conta de luz seja pelo preço do gás ou combustíveis. Tem uma grande relação com a geopolítica, como nós desenvolvemos para enfrentar as ofensivas imperialistas para tomar conta do que nós temos, em áreas riquíssimas. Ela envolve também uma relação direta com o capital financeiro, porque todos os setores que já dominam setores o querem privatizar, os acionistas são todos bancos e fundos de investimentos internacionais, grandes alianças da burguesia internacional. Elas são cadeias de elevadíssima geração de valor, mas tudo vai para esses setores do capital”, explicou.
Cervinski também apontou para o debate da questão energética, que ainda está oculto na sociedade. “O predominante são as ideias hegemônicas liberais, e precisamos ver como vamos dar um salto de conscientização das massas e da própria esquerda. Sem um pensamento crítico sobre a realidade da energia fica difícil. Estamos diante de um cenário de privatização de tudo, um processo de pilhagem que destrói a nossa soberania energética. Não podemos pensar o Brasil sem soberania energética”.
Agenda dos próximos seminários
O próximo seminário terá como tema a educação, no dia 22 de maio, das 9h às 12h. Confira a agenda dos seminários no mês de maio abaixo:
Da Redação