Partido dos Trabalhadores

Senadores do PT se mobilizam contra “PL da Bala Solta”

Proposta armamentista de Jair Bolsonaro pode ser votada em comissão do Senado nesta quarta. “Afrouxar leis não vai solucionar o problema da violência”, critica Paulo Paim

Site do PT

Bolsonaro libera armas que vão parar nas mãos de bandidos

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado pode votar nesta quarta-feira (23) o projeto de lei (PL) 3.723/2019, que modifica regras de registro, cadastro e porte de armas de fogo. Aprovado, o texto segue para o Plenário da Casa. O PT atua para barrar a proposta. Em dezembro, o senador Fabiano Contarato (PT-ES), junto com a bancada, apresentou requerimento para que a Comissão de Segurança Pública seja ouvida.

Novamente incluído por Jair Bolsonaro na lista de prioridades do Executivo no Congresso, o “PL da Bala Solta” altera o Código Penal, a Lei de Segurança Bancária, a Lei de Segurança Nacional e o Estatuto do Desarmamento, marco histórico sancionado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 23 de dezembro de 2003.

No fim do ano passado, houve um esforço para que o tema fosse votado a toque de caixa nas últimas sessões do Senado, mantendo na íntegra o texto aprovado pelos deputados ainda em 2019. Mas a análise foi adiada para este ano. O relator, Marcos do Val (Podemos-ES), avalia fazer algumas concessões ao texto em busca de um acordo.

Uma das propostas mais controversas do texto é uma liberalização ainda maior das normas destinadas à categoria caçadores, atiradores esportivos e colecionadores (CACs). As normas em vigor para os CACs foram definidas em decretos editados por Bolsonaro em 2019. Esses textos flexibilizaram a compra e o uso das armas no país e levaram a uma explosão de licenças concedidas e de vendas de armamento e munição.

Neste domingo (20), reportagem do Globo expôs esquemas movidos por bandidos ligados a milícias, tráfico de drogas e grupos de extermínio que compram armas legalmente por serem CACs – com licença emitida pelo Exército. O repórter localizou pelos menos 25 processos ativos em tribunais de Justiça de nove estados. O Exército apelou ao argumento dos “dados sigilosos” para negar resposta ao jornal.

Bolsonaro, no Twitter, disse que 25 é pouco (percentual de 0,00083%), porque já há 600 mil CACs por todo o país. Para os parlamentares do PT, essa frouxidão na legislação de uso de armas de fogo, permitida e incentivada por Bolsonaro desde o início de seu desgoverno, está ampliando as mortes e estimulando a criminalidade.

“Afrouxar as leis de porte de armas não vai solucionar o problema da violência no país”, criticou o senador Paulo Paim (PT-RS) em pronunciamento no Plenário no início do mês. “Não tenho dúvida de que, com mais armas circulando, a tendência é que ocorram mais assassinatos, mais mortes e, principalmente, nos setores mais vulneráveis: pobres, negros, mulheres, indígenas e LGBTIs.”

Paim mencionou pesquisas que confirmam que pessoas armadas correm mais risco de matar ou morrer. “A resposta que precisamos dar está na educação, na geração de emprego e renda, no combate ao racismo e às desigualdades”, finalizou o integrante da Comissão de Direitos Humanos do Senado.

Rogério Carvalho (PT-SE) ressaltou que o volume de importação de armas de fogo no Brasil aumentou 33% em 2021 em relação a 2020. Entre fuzis, carabinas, metralhadoras e submetralhadoras houve aumento de 574%. Em 2020, foram importadas 1.211 armas do tipo. Em 2021, 8.160. “Junto com o aumento de circulação das armas, aumentam crimes como o feminicídio e a distribuição de armamento legal para o crime organizado”, denunciou.

Afrouxamento também é contestado no Supremo

Os decretos de Bolsonaro são questionados no Supremo Tribunal Federal (STF), que já impôs a derrubada de alguns trechos. Senadores contrários e favoráveis ao PL afirmam que Bolsonaro, ao decretar as regras, sem lei ordinária, gera insegurança jurídica.

Um dos pontos de maior discórdia é o fim da necessidade de marcar a munição e identificar as armas de fogo. Nota técnica divulgada pelos institutos Igarapé e Sou da Paz afirma que a medida fragiliza a rastreabilidade das armas e de munições roubadas ou desviadas, beneficiando atividades ilegais.

As entidades reuniram uma série de dados para contestar os falsos argumentos apresentados por Bolsonaro e aliados armamentistas em defesa do PL 3723/2019, considerado um dos maiores retrocessos no controle de armas e munições do país. (https://soudapaz.org/noticias/conheca-os-falsos-argumentos-apresentados-em-defesa-do-pl-3723-2019-sobre-cacadores-atiradores-e-colecionadores/)

“O anúncio da apreciação do PL pela CCJ acontece na sequência de casos de grande repercussão que exemplificam os riscos da instrumentalização dos registros dos CACs para a compra e o desvio de armas e munições para a criminalidade”, afirmam as entidades em nota técnica.

Da Redação, com informações do PT no Senado e Agência Senado