Entidades representativas do setor produtivo e dos trabalhadores voltaram a criticar o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após o órgão fazer nova redução da taxa básica de juros (Selic) em apenas 0,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano, e sinalizar que poderá diminuir ainda mais o ritmo de queda do índice. As críticas são de que o conservadorismo do BC, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, não se justifica em um cenário de bons resultados na economia e de inflação controlada.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, afirmou, em nota, que o corte de 0,5 ponto é insuficiente. Segundo a entidade, a inflação sob controle permite reduções maiores que barateariam o crédito para investimentos e impulsionariam a política de reindustrialização.
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A CNI lembra que “o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 5,60% no acumulado em 12 meses até fevereiro de 2023, fechou em 4,50% nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2024, ficando dentro do limite superior da meta de inflação para 2024 (4,5%)”.
“A situação da inflação no Brasil já permite, há algum tempo, uma redução mais intensa dos juros reais. O Copom também tem que considerar em suas decisões o prejuízo que a elevada taxa básica de juros vem provocando à economia”, afirma o presidente da entidade, Ricardo Alban, no comunicado. “A CNI entende que, mantido o cenário de inflação sob controle, é imprescindível uma aceleração no ritmo de redução da taxa Selic já na próxima reunião do Copom”, acrescenta.
Segundo Alban, o arrocho monetário prejudica tanto as empresas quanto os consumidores.
“Nesse cenário, é importante que o Banco Central compreenda a realidade brasileira e dê a sua contribuição para a tão necessária redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Sem essa mudança urgente de postura, fica mais difícil avançar na agenda de neoindustrialização, o que, consequentemente, anula oportunidades de mais prosperidade econômica para o país”, enfatiza o presidente da CNI.
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Já a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) pediu que o BC não mexa no ritmo dos cortes e mantenha a redução de 0,5 ponto nas próximas reuniões. No comunicado emitido logo após a reunião de quarta-feira (20), o Copom informou que pretende fazer apenas um corte adicional de 0,5 ponto em maio, indicando que deve interromper o ciclo de reduções dos juros em junho.
“Essa queda de 0,5 ponto percentual precisa ser mantida nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária, haja vista que a economia e, sobretudo, a indústria seguem sofrendo os efeitos da taxa ainda elevada. O resultado negativo da produção industrial em janeiro reflete bem esse cenário”, destaca a entidade, em nota.
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Centrais sindicais
Embora tenham indicado que os cortes estão na direção certa, as entidades de trabalhadores também criticaram o conservadorismo do Banco Central e alertaram que o nível da Selic ainda está elevado, mantendo o Brasil com o segundo maior juro real do mundo, de 5,90%. Segundo as centrais, isso encarece o crédito, sufoca a capacidade de investimento no país e prejudica a recuperação da economia.
“Não há o que comemorar, pelo contrário. Simplesmente significa que o Banco Central está praticando uma política monetária prejudicial ao desenvolvimento do país há anos. Porque, mesmo tendo chegado ao menor nível em dois anos, o índice ainda é alto e trava a economia brasileira”, destaca, em nota, a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.
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Para a Força Sindical, a queda da Selic em 0,5 ponto é tímida e insuficiente para aquecer o consumo, gerar empregos, melhorar o Produto Interno Bruto (PIB) e distribuir renda. “Um pouco mais de ousadia traria enormes benefícios para o setor produtivo, que gera emprego e renda e anseia há tempos por um crescimento expressivo da economia. É um absurdo esta mesmice conformista dos tecnocratas do Banco Central”, critica, em um comunicado, o presidente da Força, Miguel Torres.
Da Redação