Redução da Selic a conta gotas mantém país com o segundo maior juro real do mundo

Com taxa a 10,75%, tanto o setor produtivo quanto os consumidores são prejudicados, com efeitos negativos para a economia

Jefferson Rudy/ Agência Senado

Os juros altos praticados pelo BC de Neto atrofiam o crédito e prejudicam o consumo

O Brasil continua a ter o segundo maior juro real do mundo após mais um tímido corte da taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, segundo o MoneYou. Na última divulgação, em 31 de dezembro, o país já ocupava essa posição no ranking.

Na quarta-feira (20), o BC, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, decidiu fazer nova redução da Selic em apenas 0,50 ponto percentual, para 10,75% ao ano, um comportamento conservador que tem impedido um ritmo maior na retomada econômica do país. Com a decisão, segundo levantamento compilado pelo MoneYou, os juros reais do país ficaram, agora, em 5,90%.

No topo do ranking está o México, com taxa real de 7,46%, enquanto a última posição entre os 40 países pesquisados é da Argentina, com -42,89%. Apesar de ter as taxas nominais mais altas da lista, de 80% ao ano, o país vizinho também enfrenta um quadro de inflação altíssima, o que acaba derrubando as taxas reais.

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O juro real é formado, entre outros pontos, pela taxa de juros nominais do país menos a inflação prevista para os próximos 12 meses.

Os juros nominais são anunciados ou acordados entre o emprestador e o tomador de um empréstimo, antes de qualquer ajuste ou correção. Ou seja, os juros nominais são o valor bruto da taxa de juros, sem levar em consideração fatores que possam afetar o valor real da taxa, como a inflação.

Já a Selic, além de ser utilizada como instrumento de política monetária do BC no controle da inflação, serve também de base para a rentabilidade de investimentos. Assim, os movimentos da Selic impactam diretamente o valor do retorno dos investimentos no mercado brasileiro.

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Conservadorismo do BC prejudica o país

Na decisão de quarta-feira, o Copom fez o sexto corte seguido da Selic, sempre de 0,50 ponto percentual, a conta gotas. O ciclo de redução foi iniciado em agosto de 2023, após a taxa ter sido mantida em 13,75% ao ano por 12 meses.

Em nota, o Copom sinalizou com mais um corte de 0,50 ponto percentual para a próxima reunião, em maio. Para o encontro de junho, porém, o colegiado manteve a porta aberta para reduzir ou manter a magnitude do afrouxo monetário, apesar do bom desempenho da economia e de um cenário de inflação controlada.

“Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião”, informou.

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O conservadorismo do BC tem sido alvo de muitas críticas de representantes do setor produtivo brasileiro, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O presidente da entidade, Ricardo Alban, considera que o corte de 0,50 ponto percentual da Selic é insuficiente e prejudica tanto as empresas quanto os consumidores.

“A situação da inflação no Brasil já permite, há algum tempo, uma redução mais intensa dos juros reais. O Copom também tem que considerar em suas decisões o prejuízo que a elevada taxa básica de juros vem provocando à economia”, disse. “A CNI entende que, mantido o cenário de inflação sob controle, é imprescindível uma aceleração no ritmo de redução da taxa Selic já na próxima reunião do Copom”, acrescentou Alban.

A CNI ressalta que o quadro inflacionário do país é positivo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que foi de 5,60% no acumulado em 12 meses até fevereiro de 2023, fechou em 4,50% nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2024, ficando dentro do limite superior da meta de inflação para 2024 (4,5%).

“Nesse cenário, é importante que o Banco Central compreenda a realidade brasileira e dê a sua contribuição para a tão necessária redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Sem essa mudança urgente de postura, fica mais difícil avançar na agenda de neoindustrialização, o que, consequentemente, anula oportunidades de mais prosperidade econômica para o país”, enfatizou o presidente da CNI.

Da Redação

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