Numa das cenas da nova montagem de O Rei da Vela, peça-símbolo do teatro brasileiro, o personagem Abelardo ironiza o trabalho de um biógrafo: “É extremamente perigoso se nas suas biografias o senhor exaltasse os heróis populares. Imagina se o senhor escreve sobre o Lula e o Lula é solto. Imagina o Lula Livre”.
A reação do público tem se repetido com frequência durante as exibições da peça desde então: a plateia interrompe a fala dos atores para clamar pela liberdade do ex-presidente.
Exibido no telão de um Teatro Oficina lotado, o gesto simbólico de solidariedade e resistência abriu o ato por Justiça e Liberdade – Lula Livre realizado na noite de quarta-feira (24) e que reuniu no palco histórico do bairro da Bela Vista em São Paulo representantes de diversos partidos de esquerda, movimentos sociais, estudantes, além de intelectuais e artistas.
“A esquerda tem que estar sempre ligada às grandes causas e a liberdade é a maior de todas delas. A prisão de Lula é a prisão da democracia brasileira”, declarou o diretor José Celso Martinez Corrêa, que carregava uma das centenas de flores de papel distribuídas na entrada do teatro em referência aos 44 anos da Revolução dos Cravos, que impôs o fim da ditadura em Portugal em 1974.
Escolhido como mestre de cerimônia do evento, o vereador Eduardo Suplicy lembrou da importância do teatro como ferramenta de consciência política e como a arte contribui para a luta em defesa de Lula. “Desde quando eu era estudante a o teatro sempre foi usado para expressar opiniões sobre liberdade e democracia. Muito do que sou como político eu devo ao teatro. Por isso atos como estes são fundamentais para mantermos a luta por Lula livre. É como na música do Paulo Vanzolini: temos que levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.
Em seguida, o ex-ministro Celso Amorim também usou a palavra para defender a liberdade do ex-presidente e a importância do Teatro Oficina na luta por democracia no país. “Tenho muito orgulho de estar aqui neste templo de resistência”.
Depois lamentou a situação pela qual Lula tem sido submetido como não poder receber visita. “Eu tive muitas vergonhas do Brasil. Mas tive duas grandes vergonhas: uma na época da ditadura quando soube da primeira morte confirmada pela ditadura militar. E outra agora quando a justiça é capaz de barrar um Nobel da Paz e um homem da grandeza de Leonardo Boff de visitar um amigo. Isso me fez ter muita vergonha do Brasil. Por isso eu acredito numa grande união das forças progressistas para que a gente lembre que o nome da democracia hoje é um só: Lula Livre”.
Frei Betto, cuja relação com o ex-presidente vem desde os tempos em que Lula era líder sindical no final dos anos 70, lembrou do fato de estar ao lado do amigo nas duas vezes em que foi preso injustamente. “A primeira em 80, eu estava dormindo na casa dele com outros companheiros para protegê-lo quando o DOPS chegou bem cedo e o Lula estava muito mais apreensivo do que senti dessa vez. No Sindicato, ele estava indignado, porém tranquilo porque sabia exatamente o que ia fazer”, disse.
“Eu estive preso quatro anos, dois como preso político e dois como preso comum e nunca sofri as proibições que o companheiro Lula está sofrendo agora. Ele está numa cela solitária. E quem passou por uma solitária sabe como é difícil lidar com o dia a dia”.
O presidente do Diretório Estadual do PT e pré-candidato ao Governo do Estado de São Paulo, Luiz Marinho acredita que a esquerda unida poderá reverter este quadro repleto de arbitrariedades e injustiças. “Estamos todos na mesma trincheira democrática. Lula é a esperança de grande parte da população brasileira e por isso temos que seguir até o fim na Luta por sua liberdade”.
O pré-candidato à Presidência pelo Psol, Guilherme Boulos concorda: “A questão de defesa de liberdade do Lula, a questão de rechaçar uma condenação sem provas, não é só de quem vai votar no Lula, não é só de quem é do PT, é de todos que defendem a democracia”.
Por Henrique Nuñes, da Agência PT de notícias