Partido dos Trabalhadores

Teich: pressão de Bolsonaro por uso de cloroquina causou demissão

Na CPI, ex-ministro expôs estratégia de sabotagem ao combate à pandemia com medicamento ineficaz e imunidade de rebanho. “Temos um delito continuado do presidente”, diz Rogério Carvalho (PT-SE)

Foto: Roberto Stuckert Filho

O ex-ministro Nelson Teich confirmou, em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira (5), sabotagem de Bolsonaro às medidas de combate à pandemia

A CPI da Covid retomou os trabalhos no Senado, nesta quarta-feira (5), com o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich. Ouvido pelos senadores, Teich confirmou que houve pressão de Jair Bolsonaro para a adoção do uso da cloroquina como protocolo de atendimento a pacientes de Covid-19, o que motivou sua saída da pasta. Segundo Teich, não houve autonomia para a gestão do ministério.

“Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto a eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento de covid-19”, declarou o médico. “Enquanto a minha convicção pessoal, baseada nos estudos, que naquele momento não existia eficácia para liberar, existia um entendimento diferente para o presidente.”

“Bolsonaro inundou o Ministério da Saúde de negacionismo”, denunciou o senador Humberto Costa (PT-PE). “Jogou os brasileiros para o vírus. Bolsonaro escolheu o caminho trágico que tomamos”.

Teich disse que declarações públicas de Bolsonaro sobre  a adoção do medicamento precipitaram a demissão. “Houve uma fala do presidente, na saúda do Alvorada, onde ele fala que o ministro tem que estar afinado, e ele cita meu nome especificamente”, apontou o ex-ministro.

“Na véspera, durante uma reunião com empresários, ele disse que o medicamento [cloroquina} seria expandido. Durante uma live, à noite, ele coloca que espera que no dia seguinte, isso aconteceria. No dia seguinte, pedi minha exoneração”, explicou Teich.

O ex-ministro condenou ainda o Conselho Federal de Medicina (CFM) por não reprovar o uso da droga em protocolo médico. “Acho uma postura inadequada, porque pode estimular o uso de um remédio que a gente não tem comprovação, em condições em que o paciente pode estar mais exposto a não ter os cuidados necessários para o uso do medicamento. Então eu sou contrário”, disse Teich.

Imunidade de rebanho

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) observou que o depoimento de Teich confirmou que Bolsonaro fora alertado sobre uma possível segunda onda do novo coronavírus no país e manteve a estratégia da chamada imunidade de rebanho como arma para contaminar a população. “O ato do presidente foi intencional, deliberado”, enfatizou Carvalho.

“Temos um delito continuado do presidente da República”, denunciou o petista. “Ainda hoje ele declara que vai fazer um decreto para acabar com as restrições impostas por prefeitos e governadores, impedindo que aquilo que se mostrou mais eficaz – o isolamento social – deixe de acontecer”, criticou Carvalho.

O senador apresentou requerimento, ao lado de Humberto Costa, para convocar o deputado Osmar Terra, defensor da tese da imunidade de rebanho, para explicar os aconselhamentos dados ao governo em nenhuma base científica.

Crime contra a vida

“Essa tese [da imunidade] é a grande responsável por 410  mil mortes que temos até agora. Se essa tese é verdadeira, ela representa um crime doloso contra a vida humana no nosso país”, apontou Humberto Costa. “Em todas as reuniões dessa CPI, vou abordar essa temática, é isso que a CPI precisa comprovar ou não”.

Costa indagou Teich sobre um levantamento feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) apontando uma sistematização, pelo governo, da estratégia de contaminar o povo brasileiro. Ele declarou que a CPI precisa discutir a política criminosa de Bolsonaro e anunciou que apresentou requerimento para levar os pesquisadores da USP à CPI.

O ex-ministro afirmou que precisaria de mais dados sobre a metodologia utilizada no levantamento para opinar sobre a pesquisa da universidade.

Homenagem a Paulo Gustavo

No inicio da sessão, os senadores fizeram um minuto de silêncio em homenagem ao ator Paulo Gustavo, que morreu em decorrência da Covid-19, na noite de terça-feira (4). Houve pronunciamentos dos senadores Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Omar Aziz e Humberto Costa.

“A morte de Paulo Gustavo dá uma dimensão simbólica do que estamos vivendo, perdemos muitas pessoas da cultura, do jornalismo, profissionais de saúde, parlamentares… Gostaria de pedir uma homenagem ao ator e a mais de 400 mil pessoas que faleceram e suas famílias”, disse Costa.

Da Redação