Desde o fim da ditadura, os militares nunca tiveram tanta influência no governo quanto agora. Este avanço é fruto da crise política que se abateu desde o golpe, escancarada com a precária intervenção federal no Rio de Janeiro e a greve dos caminhoneiros.
A tese de que a aproximação do governo federal às Forças Armadas é uma estratégia de um governo enfraquecido e incapaz de lidar com as debilidades que ele mesmo criou não é de nenhum oposicionista de Michel Temer, mas sim de um ministro de Estado, um dos mais próximos do presidente golpista.
Em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta sexta-feira (15), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, atribuiu essa escalada militaresca do Executivo a “uma crise na política e no poder civil”. Também não deixou dúvidas sobre o interesse do governo em se aproximar da caserna. “Não são os militares que estão forçando maior presença em termos de poder e de cargo. Os militares têm sido requisitados para assumir funções.”
Mesmo sem tanques nas ruas, é notório e preocupante que os palpites da alta cúpula das Forças Armadas pesem cada vez mais nas decisões políticas e econômicas do Ilegítimo. Na última terça-feira (12), Temer efetivou a nomeação do general Joaquim Silva e Luna, que desde fevereiro comandava interinamente o Ministério da Defesa.
É a primeira vez que um militar assume a pasta, criada em 99, que já teve Jaques Wagner, Valdir Pires, José de Alencar e Nelson Jobim como ministros.
Além do enorme simbolismo em um país cuja relação com o passado é tão mal resolvida, a decisão escancara como o governo se apoia nos verde-oliva para manter-se em pé – tanto que Jungmann os considera um “ativo democrático” do governo mais impopular da história.
“Quando foi criado o Ministério da Defesa, se pensou em uma subordinação dos militares ao poder civil, mas, de fato, a subordinação dos militares tem que ser à Constituição. Nossos militares hoje são um ativo democrático.”
Fraqueza institucional
É impossível até mesmo para seus principais fiadores esconder a fraqueza do governo. Questionado sobre os movimentos pró-intervenção que tomaram corpo desde a greve, Jungmann admitiu que o poder civil, que falha em apresentar soluções para o país, “está fazendo com que algumas pessoas venham com essas propostas [de intervenção militar]”.
Questionado sobre a intervenção federal no Rio, ele definiu o projeto como um “copo meio vazio e meio cheio”, admitindo as dificuldades em mitigar os efeitos da violência. “Na parte vazia, você ainda vê tiroteio, problema da bala perdida, dos enfrentamentos, roubos etc.”
Também se esquivou da responsabilidade pela demora das polícias em descobrir quem matou e quem mandou matar Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Após dois meses de uma investigação que já teve idas e vindas, a verdade é que as autoridades não apresentaram nenhum resultado relevante.
Aposta desesperada
Os apoiadores do golpe também flertam com o autoritarismo. Enquanto Geraldo Alckmin (PSDB) patina nas pesquisas e se vê obrigado a rivalizar com um candidato de extrema-direita, seu partido costura alianças duvidosas.
No Ceará, o PSDB aposta em um general de reserva para fazer frente ao governador Camilo Santana (PT), franco favorito à reeleição. Incensado pela imprensa golpista, Guilherme Cals Teophilo de Oliveira chama a ditadura de “contra-revolução democrática de 64.”
Da Redação Agencia PT de Notícias, com Folha de S. Paulo