Um dos saldos mais cruéis de três anos e meio de Jair Bolsonaro na Presidência são os 33 milhões de brasileiros que passam fome e os 65 milhões (número equivalente à população da França) que não comem o suficiente e são obrigados a pular uma das refeições diárias.
Esses dados são o tempo todo mencionados, mas pouco se fala sobre as causas dessa tragédia, afirmou, nesta quarta-feira (29), em entrevista ao Jornal PT Brasil, a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello (assista abaixo).
“A grande imprensa diz que isso aconteceu devido à pandemia. Não é verdade. Se a gente comparar o Brasil com outros 120 países, o Brasil piorou quatro vezes acima da média desses outros países”, ressaltou Campello, citando pesquisa divulgada recentemente pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
LEIA MAIS: “A fome voltou ao Brasil a partir do golpe de 2016”, por Tereza Campello
Desmonte de políticas e de direitos
Para a ex-ministra, trata-se de um indicativo claro de que a fome e a insegurança alimentar são resultado das escolhas feitas pelo atual governo. O Brasil, lembrou Campello, tinha condições de ser um dos mais bem sucedidos na proteção da população ao longo da pandemia, por contar com o Sistema Único de Saúde (SUS), um sistema de segurança alimentar que estava bem estruturado e experiência técnica no combate à pobreza e à fome.
“Portanto, poderia ter enfrentado a pandemia de outro jeito. Foi uma opção do governo deixar as pessoas morrerem por conta do coronavírus, como aconteceu. E foi uma opção, também, não tomar medidas que prevenissem essa tragédia de segurança alimentar que a gente está vivendo”, argumentou.
Entre as opções feitas pelo governo Bolsonaro e que favoreceram a volta da fome, Tereza Campello destacou o desmonte de políticas de segurança alimentar, como o apoio à agricultura familiar, o Programa de Aquisição de Alimentos e o programa de cisternas.
Além disso, o fim da política de valorização do salário mínimo e o desmonte da lei trabalhista tiveram um efeito criminoso. “Quem está na informalidade, sem carteira assinada, corre três vezes mais risco de cair em situação de fome”, informou Campello.
Com Bolsonaro, fome cresceu ano a ano
O resultado foi que, sem a devida atenção à agricultura familiar, o preço dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros está cada vez mais alto. Ao mesmo tempo, o trabalhador tem cada vez menos dinheiro para comprar comida.
Houve, assim, uma inversão do que ocorreu nos governos do PT. “Nos governos Lula e Dilma, ano a ano, a insegurança alimentar caiu. Se olharmos o governo Bolsonaro, ano a ano a insegurança alimentar cresceu. E isso começou a acontecer antes da pandemia”, observou.
Diante dessa situação, cada vez mais famílias trocam alimentos saudáveis por comida ultraprocessada. Deixa, por exemplo, de comer arroz para comer macarrão instantâneo. Troca a carne por salsicha. E, assim, obesidade e desnutrição começam a aparecer na mesma pessoa.
“O governo tinha que viabilizar o acesso à alimentação, à renda e a produtos saudáveis”, defendeu Campello. “Isso é tarefa do governo? Sim, é tarefa do governo fazer política de segurança alimentar e nutricional. Inclusive é um dispositivo da Constituição Federal, que diz que a população tem direito a alimentação adequada e saudável. Para garantir esse direito, tem que haver políticas públicas”, completou.
Da Redação