O silêncio constrangedor dos veículos tradicionais de mídia diante dos retrocessos impostos pelo governo golpista ficará marcado como um dos mais infames capítulos do jornalismo brasileiro. Se durante a ditadura civil-militar as empresas de comunicação justificavam a falta de combatividade por conta da censura vinda do Estado, o que se observa hoje é a descarada defesa dos interesses da classe dominante e de seus cúmplices. Carregando o estandarte de “defensores da democracia”, donos de jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão trabalham ao lado da globalização neoliberal, que difunde um pensamento calcado no individualismo, no consumo e no rompimento dos laços de solidariedade e humanismo.
É verdade que a mídia tradicional já não conta com o poderio de décadas passadas, quando detinham o arbítrio de direcionar a opinião pública de acordo com sua agenda econômica e política. A migração dos anúncios impressos em revistas e jornais para as páginas de internet feriram de morte o modelo de negócio das grandes empresas: com menos dinheiro, há o enxugamento das redações e menos qualidade jornalística para o trabalho de apuração, checagem de informações e publicação de notícias relevantes e dadas em profundidade.
Acuados pela retração de receitas, os donos dessas empresas não pensam duas vezes na hora de atender seus interesses: se antes não davam muita bola para o princípio da ética jornalística, hoje esses empresários não têm a mínima vergonha de imporem uma censura velada, que se dá pelo silêncio, pela fartura de notícias sem importância e pela mentira. Informações relevantes e o debate construtivo dão lugar à campanha de desinformação, de ataques sem fundamento, de propagação de ódio e mentiras.
Enquanto a democratização da comunicação não é uma realidade, é necessária uma urgente mobilização capaz de contrapor as narrativas apresentadas pela grande mídia. Afinal, são esses veículos que ainda pautam a agenda pública, definindo o que conversamos na rua, no trabalho, na mesa de jantar e na porta do bar. Graças às novas tecnologias, o jornalismo em rede nasce como alternativa real à divulgação de informações de qualidade e que estimula o debate e a participação da sociedade. Mas isso não é o bastante: com tantos memes, páginas, tweets, curtidas e compartilhamentos, as notícias se dissipam pelas redes.
Ou então, o que é mais grave, sites e blogs progressistas aderem à mesma tática utilizada pelos piores exemplos da imprensa reacionária: com adjetivos e ataques de mais e apuração jornalística de menos, essas páginas também contribuem para a desinformação da sociedade. As técnicas básicas de apuração, de análise e debate não podem dar lugar a manchetes sensacionalistas e “pós-verdades” sem fundamentação nos fatos.
Se acreditamos na construção de uma democracia verdadeira, nascida a partir de um novo modelo econômico, social e político, também devemos ter em conta a tarefa de promover uma revolução cultural no país: para forjar uma consciência capaz de ser um instrumento de luta contra a exploração, a classe trabalhadora deve entrar em contato com informações de qualidade, que fazem educar, refletir e agir. E isso só será possível a partir de uma imprensa realmente democrática, que tenha a independência necessária para fiscalizar, debater e dar voz aos historicamente subjugados pelas forças destrutivas do capital. É também um caminho essencial para se reconectar com a juventude, que se levanta contra a arbitrariedade de um sistema econômico que sufoca o seu futuro.
Nascido da força e da união da classe trabalhadora, o Partido dos Trabalhadores pode e deve estimular a livre circulação de informações, a partir dos periódicos publicados pelas tendências internas petistas, sindicatos e movimentos sociais populares. Mas, diante da conjuntura em que vivemos, também se faz necessário o esforço pela construção de um veículo de comunicação de massa, que extrapole a “guerrilha” das redes sociais e ganhe as ruas e os rincões do Brasil. Um veículo capaz de não discutir apenas a política, mas que seja socialmente relevante e não deixe de falar sobre cultura, esportes e entretenimento. Afinal, todos somos filhos de Deus para acompanhar as notícias de nosso time de futebol…
Pesquisas recentes indicam que a maior parte da população ainda utiliza a televisão como principal fonte de notícias. Sabemos o quão difícil é furar a barreira midiática dos monopólios televisivos e construir uma emissora popular.
No entanto, outras maneiras de circular as informações ainda são relevantes: os veículos impressos pautam a agenda cotidiana por conta da profundidade e do espaço destinado às informações; o rádio ainda conta com um grande número de adeptos por seu dinamismo; a internet ganha cada vez mais espaço com a utilização de serviços móveis.
Possibilidades reais não faltam para se pensar em veículos jornalísticos populares e prontos para enfrentar os abutres da grande imprensa que, com suas palavras de mentiras e de ódio, não aceitam um país soberano, popular e socialista. A batalha pela comunicação democrática é também a luta pelo futuro de um Brasil democrático e justo.
Por Thiago Cianga Tanji, jornalista,parte da diretoria do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.