“Toda e qualquer política para as mulheres em nosso país precisa contemplar a raça, caso contrário, não alcançaremos uma democracia plena que seja anticapitalista, antipatriarcal e antirracista”, destaca Nilma Limo, professora titular emérita da UFMG e ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, no Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial.
A ex- ministra ainda enfatiza o papel fundamental das mulheres negras contra a discriminação racial, já que o movimento de mulheres negras reeducou o feminismo na compreensão da imbricação entre raça e gênero; e a esquerda, na compreensão da intersecção entre classe, raça e gênero e tem sido protagonista nas lutas pelos direitos das mulheres, em especial, as negras.
Desde a época da escravatura, as mulheres negras criaram diversas estratégias criativas e urgentes, que estimularam os companheiros para fugas, formação de quilombos e formas de sobrevivência. E, nos dias de hoje, as mulheres negras continuam lutando contra as desvantagens dos seus direitos, seja à desigualdade no mercado de trabalho, educação, representação política, entre outros espaços de tomada de decisão.
Para a Secretária Nacional da Juventude e Militante do Movimento Negro, Nádia Garcia, a data de hoje é importante às mulheres negras, pois é um dia de lembrar toda a sociedade, a necessidade de combater o racismo, uma vez que o Brasil é um dos países mais racista do mundo.
“Com uma estrutura racista, fascista e genocida, que governa hoje o Brasil e rege toda a política social, é urgente que enfrentemos.Ocupar as ruas, as redes, as falas nos espaços públicos como senado e câmara, neste 21 de março”, lembra Nádia.
Ela ainda ressalta que as mulheres negras são essenciais, por serem a maioria do país e da base de produção, além das mais afetadas pelo racismo e machismo. “A gente deve se unir e organizar para priorizar a luta contra a discriminação, com todas as nossas forças. Sem as mulheres negras a revolução não existe! Sem as mulheres negras a luta contra o racismo não existe!”
Luana de Souza, jovem, mulher negra, periférica, macumbeira e também militante do movimento negro e do Partido dos trabalhadores, conta que a data busca refletir sobre o cenário que a população negra vive no país. “Quando falamos de violência doméstica, feminicídio, violência obstétrica, falamos de mulheres negras, infelizmente somos a maior parcela que sofre essas mazelas.
A ativista ressalta a importância de criar espaços para a discussão racial.
“ A data é importante na reafirmação da necessidade de discutir e conscientizar pelo fim da discriminação racial”, pontua.
O Dia Internacional Contra a Discriminação Racial
É um dia para refletir sobre a realidade da população negra, bem como, a importância de reivindicar direitos pela igualdade racial. A data faz referência ao “Massacre de Shaperville”, que aconteceu em 21 de março de 1960, na África do Sul. Cerca de 20 mil pessoas protestavam contra a “Lei do Passe”, que obrigava pessoas negras a andarem com identificações que limitavam os locais por onde poderiam transitar. No protesto, tropas militares do regime político sulafricano do Apartheid atacaram os manifestantes, ferindo 186 e matando 69 pessoas. Em memória à tragédia, a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1966 criou a data.
Dandara Maria Barbosa, Agência Todas