Violência Política | Mulheres negras precisam de mais escolaridade que homens brancos para se elegerem

Com a participação de mulheres do PT, pesquisa do Instituto Marielle Franco avança e elabora sobre temas centrais no combate ao racismo e o machismo em espaços de poder

Eleitas ou não, as mulheres negras seguem desprotegidas, atacadas e violentadas — é o que demonstra o dossiê do Instituto Marielle Franco “Violência Política de Gênero e Raça 2021”. As vereadoras petistas Flávia Hellen PT/PE, Mazé Silva PT/MT, Ana Lúcia Martins PT/SC, Tainá de Paula PT/RJ, Laura Sito PT/RS e a deputada federal Benedita da Silva PT/RJ estão entre as 11 parlamentares, vítimas de violência política, que foram entrevistadas pela organização.

Não bastasse a violência política sofrida ao longo da campanha eleitoral, as mulheres negras eleitas encaram uma saga diária para reafirmar e ocupar os espaços institucionais e enfrentam o racismo sutil e escancarado na jornada do exercício do mandato.

Dentre as práticas violentas abordadas pela pesquisa está o “mito da escolaridade”, um fenômeno que acompanha as mulheres negras ao longo da vida pública, até mesmo antes de serem eleitas. Segundo dados do Movimento Mulheres Negras Decidem (2018), nas eleições de 2014, por exemplo, 35% das mulheres negras candidatas possuíam ensino superior. Além disso, existe uma barreira maior de elegibilidade para as mulheres negras que não têm um diploma. Enquanto homens brancos com ensino médio incompleto conseguem se eleger com facilidade, naquele ano 78% das mulheres negras eleitas tinham ensino superior.

Portanto, aponta o dossiê do Instituto, ter ensino superior configura-se quase como um pré-requisito para mulheres negras se elegerem. Mulheres brancas e homens brancos e negros conseguem se eleger em maior número, apenas com o ensino médio completo. Para mulheres negras chegarem no mesmo lugar dos homens brancos, elas precisam, necessariamente, ter anos de estudos a mais.

“Nós tivemos um presidente, que eu espero que volte, que não tinha um curso superior. Mas no momento de nossa disputa de mulheres negras, nós sabíamos que precisávamos ser mais alfabetizadas. Essa “elitezinha de esquerda”, que num contexto mais geral coloca uma formulação política de que: ‘Não, essas pessoas são pessoas limitadas do ponto de vista intelectual, do conhecimento, da disputa, da luta.Essa lei… eles vão brigar por coisas que é lata d’água’, quer dizer, o meu corpo não me pertence, porque eu não tenho água no morro, eu durmo no mesmo espaço que dormem as crianças […]” Benedita da Silva, PT/RJ, para a pesquisa do Instituto Marielle Franco

Flávia Hellen, vereadora pelo PT em Paulista (PE), também relatou no material sua trajetória no movimento estudantil e sua luta por moradia e permanência na universidade e reivindicou a identidade de um grupo que vivencia as mazelas da desigualdade em nosso país, apontando para a necessidade de autoidentificação desse grupo como sujeitas políticas.

Flavia Hellen, vereadora do PT, em Paulista/PE

 

Com depoimentos de parlamentares negras de todas as regiões do país, o dossiê abrange um conteúdo de vivências e experiências de mulheres negras na política, que ajuda a balizar e a analisar os desafios necessários para avançar no combate à violência política de gênero e raça em todo país.

“Vamos enfrentar um ano eleitoral contra um candidato que é a expressão de tudo aquilo que combatemos: racismo, machismo e a desigualdade social. Combater a violência política de gênero e raça é tirar obstáculos que impedem a entrada de mais mulheres em espaços de poder”, afirmou Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT.  

Ana Clara Ferrari, Agência Todas

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