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Tragédia humanitária mantém Brasil sob holofotes da mídia estrangeira

Imprensa internacional repercute marca de 2 milhões de infectados e mais de 76 mil mortos e relembra sabotagem de Bolsonaro no combate à pandemia. “Apesar da rápida disseminação do vírus, Bolsonaro, um ex-capitão do exército de extrema direita, pressionou os governos locais a suspenderem as restrições ao bloqueio”, descreve a Reuters. “Sem orientação do governo federal, os estados implementaram medidas antivírus como bem entenderam, com políticas que variavam e muitas vezes se contradiziam”, destaca Bloomberg

Foto: Ricardo Moraes

Cemitério no Rio de Janeiro (RJ)

Foram necessários somente 27 dias para o Brasil dobrar o número de infecções por Covid-19 registradas em três meses (1 milhão) e bater os 2 milhões de casos, relata reportagem da agência Reuters. Nesta sexta-feira, 17 de julho, o país contabiliza 76.997 mortes e 2.021.834 contaminações, mantendo o ritmo de 40 mil novos casos diários, em média. O marco simbólico expôs ainda mais a tragédia brasileira aos holofotes da imprensa internacional, que continua a repercutir a grave situação de descontrole sanitário causado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Apesar da rápida disseminação do vírus, [o presidente Jair] Bolsonaro, um ex-capitão do exército de extrema direita, pressionou os governos locais a suspenderem as restrições ao bloqueio”, descreve reportagem da Reuters. A agência destaca que a péssima condução do governo brasileiro fez a popularidade de Bolsonaro afundar”.

A Reuters também compara a situação brasileira com a de outro grande epicentro da doença, os EUA. “Nos dois países, o contágio explodiu à medida que o vírus ganha força em novas áreas distantes das maiores cidades”, aponta a agência. “Uma colcha de retalhos de respostas estaduais e municipais tem se mantido mal no Brasil, na ausência de uma política firmemente coordenada por parte do governo federal”, observa a reportagem.

Os EUA bateram na quinta-feira um novo recorde de novos casos de coronavírus, com 77 mil infecções registradas. A Flórida é o novo epicentro da doença no país e detém, sozinho, o espantoso número de 315 mil infectados e 4,7 mil mortes. O estado paga o preço da opção de não restringir a circulação de pessoas nem impor uso de máscaras em lugares fechados, quadro semelhante ao de algumas capitais brasileiras.

Revolta

A Reuters, cuja matéria é replicada em dezenas de veículos, como o New York Times, colheu depoimentos da população em capitais como o Rio de Janeiro. O sentimento de revolta deu o tom. “O governo não se mexeu apesar da crise da saúde. Eles pensaram mais em dinheiro do que em pessoas”, afirmou Rafael Reis à reportagem. Ele perdeu a mãe de 71 anos por causa do vírus. “Eles zombaram da doença. Eles não acreditaram nela , queriam todo mundo de volta nas ruas”.

A imprensa estrangeira também destaca o fato de que, mesmo tendo atingido um platô de casos e mortes, a estabilidade não significa que a pandemia esteja sob controle. Tanto o número de novas infecções quanto o de óbitos continua em patamar muito elevado. “Os números seguem um alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) que o surto no Brasil não deve atingir o pico até agosto”, observa a Bloomberg.

Segundo a agência, autoridades do Ministério da Saúde confirmaram há uma semana que mais de 96% dos municípios têm casos e reconheceram que o país ainda está longe de reduzir a propagação da doença. “Sem orientação do governo federal, os estados implementaram medidas antivírus como bem entenderam, com políticas que variavam e muitas vezes se contradiziam”, destaca a agência. A resposta errada, pontua a Bloomberg, “significa que a pandemia se comporta de modo diferente em todo o país, o que dificulta a compreensão de quando começará a recuar”.

Oportunidade

Nesta sexta-feira (17), o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, disse que o platô alcançado pelo país representa uma oportunidade para que seja possível uma redução no número de contágios da doença. Ele reconheceu, no entanto, que o Brasil continua no centro da luta.

“O que ainda não está acontecendo é que a doença não mudou e não está descendo a montanha. Nessa perspectiva, os números se estabilizaram, mas o que eles não começaram a cair de forma sistemática no dia a dia”, observou Ryan, durante entrevista coletiva, em Genebra, na Suíça. “Então o Brasil ainda está muito no meio dessa luta”, disse ele.

Ryan chamou a atenção para a taxa de reprodução do vírus – o número de pessoas que cada pessoa doente pode contaminar – no país. O chamado fator “R” foi reduzido e está entre 0,5 e 1,5, abaixo de duas semanas atrás. “Existe uma oportunidade depois que esses números se estabilizarem para se reduzir a transmissão”, afirmou o diretor. “Mas será necessária uma ação coordenada e muito sustentada para que isso ocorra”, alertou.

Infectados

Ele advertiu ainda para o alto número de trabalhadores de saúde infectados pela doença no país, um índice de 11% de todas as infecções que reflete o quadro mundial do surto. “A pandemia da Covid-19 nos mostrou que a saúde não é um item de luxo, ela é a base da estabilidade social, econômica e política”, ressaltou diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na mesma coletiva.

O diretor confirmou que a OMS pesquisa o universo de contaminações  no setor de saúde, que já atingiu mais de um milhão de médicos e enfermeiras pelo mundo. “Todos nós devemos uma enorme dívida aos trabalhadores da saúde – não apenas porque eles cuidaram dos doentes. Mas porque eles arriscaram suas próprias vidas no cumprimento do dever”, disse Ghebreyesus.

Da Redação, com agências internacionais