Militarização e cloroquina explicam manutenção de Pazuello na Saúde

 “Salles fica, Pazuello fica, sem problema nenhum. São dois excepcionais ministros”, disse Bolsonaro, confrontando a percepção negativa da sociedade e, até mesmo, a opinião de setores do próprio governo. O general se tornou ministro interino em substituição a Nelson Teich com a “missão” de liberar o uso e a produção da cloroquina no país

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Bolsonaro, Pazuello e a cloroquina

Apesar do desastre sanitário que já resultou em 2 milhões de contaminados e mais de 76 mil mortos, Bolsonaro insiste na permanência do General Eduardo Pazuello na condição de ministro interino da Saúde. “Salles fica, Pazuello fica, sem problema nenhum. São dois excepcionais ministros”, afirmou Bolsonaro, em live na quinta-feira,16, confrontando a percepção negativa da sociedade e, até mesmo, a opinião de setores do próprio governo. Durante a semana, reconhecendo a interinidade de Pazuello, o vice-presidente General Hamilton Mourão disse que em agosto Bolsonaro retornaria da quarentena e avaliaria outros nomes.

“A gestão militarizada do Ministério da Saúde não trouxe nenhum ganho em eficiência logística e sequer tem sido capaz de adquirir os testes necessários ou de executar os recursos orçamentários disponibilizados, já que apenas 30% foram gastos até agora”, denunciam os ex-ministros da Saúde Alexandre Padilha, Arthur Chioro, Barjas Negri, Humberto Costa, José Gomes Temporão, José Saraiva Felipe e Luiz Henrique Mandetta, em artigo conjunto na Folha de S.Paulo. “O fato é que o governo federal abriu mão de seu papel constitucional de coordenação e condução do esforço nacional de combate à Covid-19, com evidentes prejuízos à capacidade do país em reduzir os impactos da doença”, aponta o artigo.

A inexplicável continuidade do general, sem qualquer qualificação para a função, não tem justificativa sob argumentos plausíveis – médicos ou sanitários. O motivo que levou Pazuello ao Ministério da Saúde é a mais provável razão para a sua permanência à frente do cargo, com evidentes prejuízos para a imagem do governo e, principalmente, do Exército brasileiro. Pazuello se tornou interino em substituição a Nelson Teich com a “missão” de liberar o uso e a produção da cloroquina no país. Com ele, já foram nomeados mais de 30 militares de diferentes patentes para cargos técnicos do ministério.

Nesse período, sob seu comando, o governo torrou R$ 1,5 milhão na produção acelerada de cloroquina no laboratório do Exército, medicamento desautorizado pela OMS e por cientistas e médicos brasileiros. Nesta semana, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) denunciou o presidente Bolsonaro junto à PGR por delito ao ter determinado que o laboratório do Exército aumentasse substancialmente a produção da hidroxicloroquina, sem qualquer amparo médico-científico. A equivocada prioridade do governo, somada à contenção orçamentária, desviou recursos que poderiam ter sido aplicados em equipamentos para os profissionais da saúde nos hospitais.

A aventura da parceria do Ministério da Saúde com o laboratório do Exército resultou em um inédito e desnecessário estoque de cloroquina para 18 anos de uso normal do medicamento. No final de junho, o Ministério da Saúde “orientou” formalmente a Fiocruz a divulgar a cloroquina e recomendar seu uso para tratamento inicial da Covid-19. Nesta quinta-feira, também em vídeo, novamente Bolsonaro voltou a fazer propaganda do medicamento, creditando à cloroquina a  melhora do seu estado de saúde. Ele disse estar contaminado peli Covid-19.

Assim como Bolsonaro, o presidente Donald Trump defende o uso do produto no tratamento da Covid-19, com interesses que vão além da medicina. Trump figura entre os acionistas da Sanofi, indústria farmacêutica que detém a patente da droga. Segundo reportagem do The New York Times, um outro acionista da empresa é Ken Fisher, um dos maiores doadores de campanha para os republicanos, partido de Trump. No ano passado, também segundo o jornal norte-americano, Trump afirmou que sua família possui investimentos em um fundo mútuo da Dodge & Cox, que tem  participação acionária majoritária na Sanofi.

No Brasil, o medicamento composto por hidroxicloroquina é produzido por uma empresa farmacêutica que tem como dono um grande entusiasta do bolsonarismo. A empresa Apsen produz o Reuquinol, que Bolsonaro mostrou até para os líderes do G-20 em uma teleconferência. Até recentemente, em suas redes sociais, hoje desativadas, o presidente da empresa, Renato Spallicci, postava entusiasmados elogios a Bolsonaro e severas críticas ao PT. Em 26 de março, ele capitalizou a notícia de que Bolsonaro havia mostrado o remédio aos mais poderosos líderes do mundo. Em outro momento, o presidente exibiu caixas do medicamento durante aparição no cercadinho do Palácio do Planalto.

A insistência em manter o general à frente da desastrosa administração da Saúde tem preocupado setores dos altos comandos do Exército. Em artigo, Reinaldo Azevedo adverte os militares sobre o parágrafo 6º do artigo 37 da Constituição. O dispositivo define que “as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. Alerta o jornalista: “O Estado, o Exército, Pazuello e quantos participem dessa patuscada poderão pagar caro”.

Da Redação

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